Política

Disputa presidencial argentina polarizada entre Scioli e Macri

Primárias argentinas são uma experiência sem comparação, transformadas em primeiro turno de fato

Da AFP
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Publicado em 10/08/2015 às 7:42
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Primárias argentinas são uma experiência sem comparação, transformadas em primeiro turno de fato - FOTO: Foto: Reprodução/ Facebook
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As eleições primárias obrigatórias de domingo na Argentina perfilam uma disputa pela presidência em outubro entre o peronista Daniel Scioli, com apoio da presidente Cristina Kirchner, e o líder da oposição conservadora, Mauricio Macri.

 

Scioli, de 58 anos, governador de uma província gigante, a de Buenos Aires, que tem quase 40% do padrão de 32 milhões de eleitores, foi o mais votado com 36%. Não teve rivais internos. Apenas 58,2% das urnas haviam sido apuradas na manhã desta segunda-feira.

Macri, um magnata, empresário liberal de 56 anos, recebeu 24% dos votos, mas sua frente de 'Cambiemos' conquistou um total de 31%. Ele venceu a batalha interna contra o radical social-democrata Ernesto Sanz e a liberal Elisa Carrió, que juntos receberam 7% dos votos nas primárias.

Scioli, ex-campeão mundial de motonáutica, pode vencer as eleições gerais de 25 de outubro se receber 45% dos votos mais um, ou 40% com vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado. Caso isto não aconteça, a Argentina terá um segundo turno pela primeira vez em sua história.

"Se a Argentina tivesse um segundo turno 'clássico', no qual é necessário obter 50% para vencer no primeiro turno, como no Brasil, Colômbia e Chile, entre outros, não há dúvida de que aconteceria o segundo turno", disse à AFP o cientista político Rosendo Fraga, diretor da consultoria 'Nueva Mayoría".

Mas Fraga explica que a Argentina tem um segundo turno 'atenuado', como acontece na região com Equador e Nicarágua.  "Por isto, não se pode descartar um triunfo do governo no primeiro turno".

- Um árbitro -

As primárias argentinas são uma experiência sem comparação, transformadas em primeiro turno de fato. Os votos da terceira força na disputa, a aliança UNA, podem virar árbitros do segundo turno. Na disputa interna da UNA, a vitória foi do deputado peronista e dissidente do kirchnerismo Sergio Massa, com 12%, contra 9% do governador de Córdoba (segundo distrito), José de la Sota. No total, a coalizão de Massa e De la Sota somou 21%.

"Os votos de De la Sota podem ser dispersados em outubro entre Massa, Scioli e Macri", disse à AFP Carlos Fara, diretor da consultoria de mesmo nome. Nas sedes das campanhas dos três candidatos, o clima era de comemoração pelo apoio recebido.

Kirchner não pode disputar o terceiro mandato depois de ter sido reeleita em 2011. Ela fechou um acordo com Scioli, um dos políticos com melhor imagem no país, que tem uma tendência de diálogo, ao contrário do estilo de confronto da presidente.

"Seguimos o caminho do papa Francisco, com os 'três T', que são terra, teto e trabalho. E eu acrescento investimento e igualdade", afirmou Scioli no discurso de agradecimento aos partidários. O governador reivindica a tradição peronista de alinhamento com a chamada doutrina social da Igreja católica.

Macri, ex-presidente do clube Boca Juniors e defensor da livre iniciativa, afirmou no domingo, ao celebrar o apoio eleitoral, que propõe "devolver o Estado à população e não colocá-lo a serviço dos interesses da política". As primárias deixaram a sensação de uma luta ainda aberta, mas o consultor Ricardo Rouvier disse à AFP que "em outubro as eleições não serão idênticas a 9 de agosto, serão parecidas". Fara concordou com a possibilidade de um resultado definitivo no primeiro turno.

"No primeiro turno não são computados os votos em branco e impugnados, o que aumenta o percentual de todos", disse. Ele também afirmou que "é necessário ver se não acontece algum tipo de polarização, e Scioli é o que está mais perto de alcançar a diferença exigida pela Constituição".

 - Popularidade -

 O ambiente político durante a campanha para as primárias foi marcado por acusações e denúncias judiciais. No total, 72% do eleitorado votou, em um cenário com a oposição dividida.

Kirchner começa a deixar o poder após 12 anos de uma era iniciada por seu marido, Néstor Kirchner (2003-2007), que faleceu em 2010. O 'sciolismo', com forte presença em todas as províncias, aparece como o emergente no lado governista.

A seu favor conta com a popularidade da presidente, que tem uma imagem positiva acima de 50%. A economia, no entanto, oscila entre a estagnação e um pobre crescimento após uma década de poderoso estímulo ao consumo e à produção. O país segue em conflito judicial em Nova York com 7% dos credores, os chamados 'fundos abutres', que se negaram a aceitar a renegociação da dívida.

A presidente teve uma vitória pessoal no domingo, pois Máximo Kirchner, seu filho, se tornou candidato a deputado nas eleições primárias e sua lista, da governante Frente para a Vitória (FPV), foi a mais votada na província de Santa Cruz (sul). Kirchner, de 38 anos, postulante do FPV, recebeu 44% dos votos.

Em segundo lugar ficou o opositor social-democrata Héctor Roquel com 29%, que derrotou o peronista dissidente José Blassiotto, com 18%, na disputa interna da frente União para Viver Melhor.

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