A aviação turca bombardeou na madrugada desta terça-feira posições do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) no sudeste do país, em repostas aos ataques de segunda-feira atribuídos aos separatistas curdos.
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"Dezessete alvos foram atingidos com precisão na província de Hakkari", na fronteira com o Iraque, anunciou o Estado-Maior turco em um comunicado.
A Turquia foi alvo de uma série de ataques na segunda-feira (10).
Cinco policiais e dois soldados turcos morreram em ataques atribuídos aos separatistas curdos do PKK, enquanto um grupo clandestino de extrema-esquerda, o DHKP-C (Partido/Frente Revolucionário de Libertação do Povo), reivindicou o atentado contra o consulado dos Estados Unidos em Istambul.
A missão americana reabriu nesta terça-feira (11) sob um forte esquema de segurança.
Além disso, outro soldado foi morto segunda-feira à noite por tiros a partir de posições do PKK em Sirnak (sudeste), informou o exército turco.
O governo de Agri, província do leste onde está localizado o Monte Ararat, anunciou por sua vez que sete rebeldes curdos foram mortos no sábado em operações em áreas rurais.
Ancara iniciou em 24 de julho uma "guerra contra o terrorismo", que tem como alvos o PKK e o grupo Estado Islâmico na Síria.
Mas os vários ataques aéreos posteriores ao anúncio se concentraram na guerrilha curda. Oficialmente aconteceram apenas três bombardeios contra o EI.
De acordo com a agência estatal de notícias Anatolia, 390 combatentes do PKK morreram e 400 outros foram feridos na campanha de ataques aéreos realizada pela Turquia contra bases rebeldes no norte do Iraque.
Por sua vez, o PKK reivindicou a morte de 30 policiais na Turquia nas últimas duas semanas, como represália aos ataques aéreos.
Neste contexto, os Estados Unidos, aliados de Ancara na Otan, mobilizarem pela primeira vez no domingo caças F-16 e um contingente de 300 militares na base de Incirlik, no sul da Turquia, para lutar contra o EI.
Até então, a Turquia se recusava a participar nas operações da coalizão contra o EI, por medo de incentivar a ação de curdos sírios que combatem os jihadistas perto de sua fronteira.
Mas em 20 de julho, após um ataque a bomba em Suruç (sul), que fez 32 mortos e que foi atribuído ao EI, o governo de Ancara foi forçado a uma mudança estratégica.
O clima é de extrema tensão, com ataques diários da guerrilha curda e represálias das forças de Ancara, que terminaram com três anos de uma frágil trégua declarada como parte de um processo de paz.
Crise política perdura
Juntamente com a retomada das hostilidades entre o exército e os rebeldes curdos, a Turquia está afundada em uma crise política desde as eleições legislativas de 7 de junho, que privaram o partido islâmico-conservador da maioria absoluta no parlamento e destruiu os planos do presidente Recep Tayyip Erdogan de reforçar os seus poderes.
Nesta frente, o partido do governo da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) e o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), o principal movimento de oposição, devem tomar uma decisão final nesta semana sobre a formação ou não de um governo de coalizão após o fracasso das negociações iniciais, anunciaram na segunda-feira à noite.
O primeiro-ministro Ahmet Davutoglu se reuniu com o líder do CHP, Kemal Kilicdaroglu, em Ancara na segunda à noite, após várias semanas de conversações lideradas por líderes de ambos os partidos.
"Os dois presidentes se reunirão novamente na quinta-feira ou sexta-feira, de acordo com sua programação. A questão de se haverá ou não uma coalizão será dada após a reunião", indicou o ministro da Cultura, Omer Celik, negociador do AKP.
Os críticos do presidente Erdogan o acusam de querer semear o "caos" para preparar uma nova eleição legislativa, cujo resultado seria favorável a uma emenda constitucional para as suas ambições.
"Erdogan (...) luta pelo seu próprio futuro e não o futuro de seu país", comentou Semih Idiz em sua coluna no jornal Hürriyet Daily News, acusando o homem forte do país de "brincar com o futuro da Turquia como um sultão otomano motivado pela ambição cega ".