Mohammed Allan, o palestino em greve de fome que desafia as autoridades israelenses, saiu do coma nesta quinta-feira (20), um dia após a suspensão de sua detenção administrativa, uma decisão que não acabou com as incertezas sobre seu futuro.
O palestino, de 31 anos, teve o coma induzido na quarta-feira, antes do anúncio da resolução do Supremo Tribunal de suspender sua detenção sem indiciamento e sem julgamento. Ele saiu do coma nesta quinta-feira, segundo o hospital de Ashkelon (oeste de Israel).
"Vamos informar a ele o que aconteceu, quais decisões legais foram tomadas ontem, para convencê-lo a começar a aceitar receber líquidos e açúcar", declarou o diretor do hospital Barzilai, Chezy Levy, a jornalistas.
"Espero que ele compreenda que a situação mudou do ponto de vista legal e que ele aceite começar gradualmente a se alimentar pela via digestiva", acrescentou.
Após dias de uma verdadeira queda de braço e ante o estado de saúde de Allan após quase sessenta dias de greve de fome, o Tribunal israelense decidiu quarta-feira à noite suspender, "neste momento", sua detenção e mantê-lo em cuidados intensivos.
Ainda não há informações sobre a reação de Allan e sua capacidade de analisar novos elementos dado seu estado de saúde.
Após o coma induzido, "ele está melhor", segundo o diretor do hospital. Ele começou a falar com as pessoas próximas, mas "está muito fraco" e o caminho para sua recuperação se anuncia "muito, muito longo", acrescentou.
Compromisso
Os três juízes da principal instância israelense retiraram as restrições às visitas de familiares. Mas deixaram em suspenso uma questão fundamental: Mohammed Allan poderá ser colocado novamente em prisão administrativa uma vez recuperado?
A justiça se contentou em indicar que o Estado, em discussões anteriores a sua decisão, se disse pronto a libertá-lo caso tenha sofrido danos irreversíveis.
A suspensão da detenção pelo Tribunal, um aparente compromisso destinado a acabar, ao menos provisoriamente, com um impasse político e humanitário, aliviou os parentes de Allan, mas frustrou muitos outros, do lado israelense e palestino.
Allan, um advogado de Nablus e defensor dos presos palestinos foi detido em novembro de 2014 e iniciou a greve de fome em 18 de junho, em protesto por sua detenção administrativa.
Este regime de encarceramento extrajudicial permite às autoridades israelenses deter um suspeito sem indiciamento por seis meses, renováveis de maneira indefinida.
Os motivos precisos de sua detenção nunca foram revelados publicamente. Israel o apresenta como um integrante da Jihad Islâmica e esta organização, que o Estado hebreu classifica como terrorista, também o descreve como um de seus membros.
O caso mobilizou a opinião pública em um contexto já tenso. A situação é um quebra-cabeças para as autoridades israelenses, preocupadas com a possibilidade de parecer que cederam a uma chantagem, ao mesmo tempo que lidam com o risco de que a eventual morte de Allan provoque uma nova escalada da violência.
Instrumento de 'punição'
Allan não estaria nesta situação se o Supremo Tribunal tivesse decidido antes que ele estivesse "à beira da morte", lamentou um dos advogados do prisioneiro, Jamil al-Khatib, em um comunicado emitido pela organização Adalah, que apoia Allan.
O caso de Allan prova que a detenção administrativa "tornou-se um instrumento para punir e se vingar dos palestinos sem acusação nem julgamento", disse ele.
Dos quase 5.800 prisioneiros palestinos, cerca de 340 estão em detenção administrativa segundo as autoridades israelenses, e mais de 450 de acordo com os palestinos.
O destino de Allan tem atraído há vários dias a atenção da opinião pública palestina e põe em dificuldade o governo israelense.
A decisão do tribunal provocou discórdia até mesmo dentro do campo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O ministro Miri Regev, membro do seu partido, acusou de "ceder à chantagem do terrorista Mohammed Allan", ao invés de forçar sua alimentação, evocando uma lei aprovada em julho, especificamente para lidar com tais situações.