Os compromissos anunciados até o momento à ONU pelos países são insuficientes para manter o planeta abaixo da meta de dois graus de aquecimento, advertiram os especialistas reunidos nesta quarta-feira (2).
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"As metas sobre mudança climática apresentadas até o momento à ONU pelos governos conduzem a emissões muito acima das necessárias para evitar que o aquecimento supere dois graus centígrados", advertiu o Climate Action Tracker (CAT).
O consórcio de quatro organizações de especialistas publicou sua análise no momento em que representantes de 195 países estão reunidos em Bonn (Alemanha) para preparar o caminho a um acordo global na conferência de dezembro em Paris.
Segundo o CAT, as medidas prometidas pelos países em termos de limitação dos gases do efeito estufa estão "muito abaixo" das necessárias para evitar as consequências desastrosas de um aquecimento global.
A ONU estabeleceu a meta de limitar o aumento da temperatura a dois graus, na comparação com o nível médio da era pré-industrial.
Segundo o CAT, o mundo se encaminha para um aumento global da temperatura média de entre 2,9 e 3,1 graus centígrados até 2100.
Até o momento, 56 países oficializaram os compromissos e planos nacionais (INDC, na sigla em inglês) que serão compilados no pacto global de dezembro.
Os compromissos incluem, entre outros, as potências mais poluentes - China e Estados Unidos - e os 28 membros da União Europeia (UE. As promessas cobrem 65% das emissões planetárias e 43% da população mundial.
Para respeitar a meta de 2ºC, as emissões de gases do efeito estufa devem cair das atuais 50 bilhões de toneladas anuais de equivalente de CO2 (GtCO2e) para entre 39 e 43 GtCO2e em 2025 e 36-45 GtCO2e em 2030, segundo os cálculos dos especialistas.
Limitar o aquecimento global à meta ainda mais ambiciosa de 1,5ºC exigiria limitar as emissões a 38 GtCO2e em 2025 e 32 GtCO2e em 2030. O aquecimento alcança atualmente 0,8ºC, quase metade do caminho para o temido limite de 2ºC.
"Os compromissos atuais conduzem a emissões que excedem o limite dos 2ºC em 12-15 GtCO2e até 2025, e 17-21 GtCO2e até 2030", adverte o CAT.
"Os limites para permanecer abaixo de 1,5ºC estão ainda mais superados, em 15-19 GtCO2e até 2025 e 23-27 GtCO2e até 2030".
O CAT examinou 15 compromissos, que representaram 64,5% das emissões globais em 2010 e 41% da população do planeta.
Estes níveis implicam que a meta global de 2ºC é "quase inalcançável".
A temperatura aumentaria "entre 2,9 e 3,1ºC em 2100", disse à AFP Bill Hare, do Climate Analytics, um dos quatro membros do consórcio CAT.
"Está claro que se a reunião de Paris se limitar aos atuais compromissos até 2030, manter o aumento da temperatura abaixo dos 2ºC pode se tornar uma meta inalcançável, sem falar no 1,5ºC".
Dos 15 INDC examinados, sete foram considerados "inadequados": Austrália, Canadá, Japão, Nova Zelândia, Cingapura, Coreia do Sul e Rússia.
Seis foram considerados "intermediários": China, UE, México, Noruega, Suíça e Estados Unidos.
Apenas dois, apresentados por Etiópia e Marrocos, foram qualificados como "suficientes" e de acordo com a meta de 2ºC.
"Muitos governos que apresentaram seus INDC devem revisar as metas para o objetivo global e, na maioria dos casos, fortalecê-las", disse Niklas Hoehne, do NewClimate Institute, outro participante do consórcio CAT.
"Aqueles que estão preparando suas propostas devem garantir que o objetivo será o mais elevado possível", completou.
Os próximos países que devem apresentar os objetivos INDC são Índia, Brasil, Irã, Indonésia, Arábia Saudita, África do Sul, Tailândia, Turquia, Ucrânia e Paquistão, que totalizam 18% das emissões globais.