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Crise humanitária atual só teve atenção quando os países ocidentais foram atingidos

Instituições internacionais alertam que o drama enfrentado hoje poderia ter sido solucionado há muito tempo. Hoje sofrem os imigrantes, a Europa e o mundo.

MARCOS OLIVEIRA
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MARCOS OLIVEIRA
Publicado em 12/09/2015 às 18:00
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Instituições internacionais alertam que o drama enfrentado hoje poderia ter sido solucionado há muito tempo. Hoje sofrem os imigrantes, a Europa e o mundo. - FOTO: Foto: AFP
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A dor que o mundo sente com as cenas chocantes de milhares de pessoas se arriscando diariamente para chegar à Europa não é simplesmente o reflexo de uma onda de apoio aos miseráveis, que, na fuga de guerras e perseguições, têm perecido no fundo do Mediterrâneo ou já em solo europeu. É também resultado dos distúrbios imputados por eles e pela ação tardia do Ocidente. A constatação é feita em relatório da organização Human Rights Watch (HRW). Se a atual reação fosse fruto exclusivo da solidariedade, a mobilização planetária teria vindo bem antes, diz a entidade. Só para dar um exemplo, os sírios vivem um colapso humanitário crescente há quatro anos, nada foi feito para protegê-los. Nada.

As próprias ações em resposta ao problema atual ratificam essa constatação. Com exceção de poucas nações, capitaneadas pela Alemanha, a atitude tem sido a de militarizar ainda mais as fronteiras e promover ataques aéreos contra o Estado Islâmico (EI). Estratégia já adotada há meses, anos, e que não tem diminuído o ímpeto do califado extremista. Além do objetivo principal, salvar vida de inocentes, busca-se mais uma vez os fins: levar para longe do Velho Continente as mazelas de uma política de guerras inacabadas nos países de origem dos imigrantes. Muitas delas, se não causadas pelas grandes nações que hoje se dizem vitimadas, poderiam ter sido encerradas no início, quando a dor da população não era comparada aos abusos cometidos no período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). 

Até que o sofrimento dos deslocados atingiu o quintal de quem poderia ter se envolvido para, pelo menos, atenuar a crise. Para chegar a um Oriente Médio menos turbulento e a um Norte da África longe das tiranias e guerras civis, no entanto, é preciso investir nos meios. Mas as ações, até agora, não mostram essa disposição. As imagens que chegam de mortes, tragédias e abusos – tendo o ponto de maior comoção na foto do menino Aylan Kurdi, de 3 anos, morto numa praia da Turquia – mostram apenas o que instituições internacionais, como Médicos Sem Fronteiras e Organização das Nações Unidas (ONU), já vinham denunciando. Situações diariamente se agravam nos países de origem. No caso do Afeganistão, são mais de dez anos de violência.

Socorrer estas pessoas não está no pacote anunciado pela União Europeia ou pelos Estados Unidos. A política externa de Obama, tão alardeada nos últimos tempos pela reaproximação com Cuba e pelo acordo nuclear com o Irã, segue com a mácula de ter visto a ascensão do EI, o acirramento da guerra civil na Síria e a falta de condições humanitárias no Afeganistão. Segundo a própria pré-candidata a presidência pelo partido Democrata, Hillary Clinton, os “Estados Unidos precisam estar na mesa, têm de liderar isso”. 

Mas até agora a ajuda encampada pelo líder da maior economia do planeta e prêmio Nobel da Paz em 2009 foi o anúncio de acolher 10 mil sírios em 2016. Para organizações humanitárias, isso representa uma “não-meta”. O número foi ironizado pelo diretor executivo da Human Rights Watch, Kenneth Roth. “Fantástico! Obama acolherá 10 mil refugiadosç sírios. Isto é 0,25% dos 4 milhões necessários”, escreveu pelo Twitter. 

Enquanto isso, a Venezuela, do rival Nicolás Maduro, definiu o quantitativo de 20 mil. O Brasil, que hoje conta com 2.077 refugiados vindos da Síria, informou que deve prorrogar as regras que facilitam a entrada desses refugiados no País.

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