Milhares de migrantes entraram nesta quinta-feira (17) na Croácia, decididos a seguir viagem até os países da Europa ocidental após o fechamento da fronteira Sérvia-Hungria, onde a calma retornou após os violentos confrontos com a polícia na véspera.
Leia Também
Nesta quinta-feira (17), a pequena estação ferroviária de Tovarnik, uma localidade croata próxima da fronteira sérvia, foi tomada por migrantes que tentava embarcar em trens com destino à capital Zagreb, de onde esperam seguir viagem para o oeste do continente.
"Há entre 4.000 e 5.000 pessoas tentando embarcar nos trens. Os trens estão chegando, mas não podem transportar tantas pessoas", disse o porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Jan Kapic
Voluntários da Cruz Vermelha começaram a distribuir alimentos, com prioridade para os bebês e as crianças.
"A situação aqui é difícil. São tantas pessoas. Não sabemos o que está acontecendo", disse Hasan Shekh-Hasan, um sírio de 25 anos, estudante de Direito.
"É difícil saber se este será o próximo campo de trânsito. O governo croata precisa ver como administrar a situação", afirmou o porta-voz do Acnur.
No total, 5.650 migrantes chegaram à Croácia nas últimas 24 horas, segundo o ministério do Interior, e serão transportados em trens e ônibus para centros de registro.
A ministra croata da Saúde, Sinisa Varga, afirmou que as autoridades calculam a chegada de mais de 20 mil migrantes nas próximas duas semanas.
No entanto, o primeiro-ministro croata Zoran Milanovic advertiu que o país tem capacidades limitadas para receber e registrar os migrantes que transitam por seu território.
Calma na fronteira Sérvia-Hungria
Na manhã desta quinta-feira (17), quase 400 migrantes permaneciam na fronteira sérvio-húngara. A situação estava calma, após os distúrbios de quarta-feira, que deixaram 14 policiais feridos, segundo as autoridades. O número de migrantes feridos não foi divulgado.
Diante da intransigência da Hungria, que até semana passada era o principal ponto de passagem dos migrantes em sua viagem rumo ao oeste da Europa, mas que fechou completamente a fronteira na terça-feira, os migrantes se viram obrigados a seguir para a Croácia.
A polícia húngara utilizou jatos de água e gás lacrimogêneo na quarta-feira contra os migrantes, bloqueados na Sérvia, que atiraram pedras contra as forças de segurança. Os migrantes conseguiram arrancar parte do alambrado que fechava a passagem fronteiriça de Röszke.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou "inaceitável" o tratamento da polícia húngara aos migrantes.
O ministro húngaro das Relações Exteriores, Peter Szijjarto, afirmou que a polícia apenas se defendeu de migrantes "agressivos".
Situação "complicada"
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, declarou em uma entrevista ao jornal francês Le Figaro que também planeja construir uma cerca na fronteira com a Croácia para, segundo ele, "acabar com o negócio dos traficantes de pessoas".
As medidas adotadas pela Hungria foram radicais: de acordo com a polícia, apenas 277 migrantes entraram ilegalmente na Hungria na quarta-feira. De acordo com a nova legislação, todos foram detidos e podem ser condenados a penas de até cinco anos de prisão.
Ao mesmo tempo, na Turquia, centenas de sírios buscam uma porta de entrada terrestre para a Grécia. No decorrer do ano, 500.000 migrantes chegaram à União Europeia após longas e perigosas viagens por terra e mar.
A Bulgária reagiu nesta quinta-feira com envio de mil soldados para a fronteira com a Turquia, ante uma situação que chamou de "complicada", provocada pela crise migratória.
Na terça-feira, a chefe de Governo da Alemanha, Angela Merkel, e seu colega austríaco, Werner Faymann, pediram a organização rápida de uma reunião de cúpula europeia para alcançar um acordo sobre a distribuição obrigatória entre os países da UE de 120.000 refugiados.
Reunidos de em caráter de urgência nesta quinta-feira, os eurodeputados votaram a favor da proposta. Mas a principal dificuldade será convencer os países do leste europeu, contrários à recepção em massa de refugiados.
A votação do Parlamento, que organizou uma sessão extraordinária, não é vinculante, mas no processo formal da proposta da Comissão os eurodeputados deveriam se pronunciar a respeito.
No total, 372 eurodeputados votaram a favor, 124 votaram contra e 54 optaram pela abstenção. A Eurocâmara tem 751 representantes.
Hungria, Eslováquia e República Tcheca não aceitaram a divisão. Outros países como a Polônia também expressaram dúvidas.
Nesta quinta-feira, o governo da Dinamarca anunciou que receberá voluntariamente 1.000 refugiados dos 120.000 que a UE planeja distribuir entre os Estados membros.
A Alemanha é o país ao qual a maioria dos migrantes espera chegar. A Polícia Federal do país registrou na quarta-feira 9.100 novas entradas de migrantes em seu território, superando com folga a marca de 6.000 de terça-feira.
O país estabeleceu no domingo controles nas fronteiras, mas permite a passagem dos demandantes de asilo.
Em uma entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, o presidente da Agência de Empregos do país, Frank-Jürgen Weise, comentou os efeitos da chegada de migrantes.
"A chegada de centenas de milhares (de refugiados) é, a princípio, uma carga para o mercado de trabalho", disse.
A longo prazo representarão um "enriquecimento" para o país, sua sociedade e sua economia, porque o envelhecimento da população alemã poderia comportar escassez de mão de obra no futuro, completou Wise.
Mas a curto prazo, como a integração dos refugiados levará tempo, as estatísticas de desemprego podem ser afetadas.