Ter a alcunha de “herói de guerra”, ostentar o cargo de governador ou de senador. Pela tradição americana, para que alguém se coloque como candidato, ou pré-candidato, ao cargo de presidente é preciso cumprir pelo menos um desses três requisitos. Porém, nas primárias republicanas deste ano, os líderes nas pesquisas passam ao largo dessas definições. Para analistas, isso demonstra que os eleitores do partido conservador estão, no momento, mais distantes das figuras tradicionais. Essa tendência, de forma bem mais moderada, também é nas prévias democratas.
O melhor colocado é o polêmico bilionário Donald Trump, em seguida, na mais recente pesquisa da rede CNN, figura a ex-presidente da HP, Carly Fiorina, e na terceira colocação o neurocirurgião Ben Carson. Carly Fiorina pode ser personagem de um fato histórico caso seja a escolhida: seriam duas mulheres concorrendo ao posto máximo do Executivo, já que Hillary Clinton ainda segue como a mais popular pelo lado democrata.
Para a PHD em ciência política pela Universidade da Califórnia Lara M. Brown, esse cenário nas primárias dos dois partidos, não só no Republicano, mostra que a sociedade está cansada dos discursos dos políticos tradicionais, mais inclinada aos posicionamentos que apontem para mudanças fortes.
“Os americanos se abusaram de ver os governantes demorarem no combate ao terrorismo, nas guerras intermináveis. Pedem uma resposta mais satisfatória na questão econômica e outros problemas internos”, defende a autora de Jockeying for the American Presidency: The Political Opportunism of Aspirants, um estudo dos candidatos presidenciais de 1790 até os dias de hoje. A obra de Lara não está disponível no Brasil.
Ela inclui ainda nessa conta de insatisfeitos os eleitores democratas, que provocaram a queda de intenções de voto da favorita, Hillary Clinton. Desde que se colocou na disputa, há dois meses, ela sempre figurou com mais de 20 pontos à frente do segundo colocado. Distância que foi abalada após o escândalo de que ela teria usado uma conta de e-mail pessoal para tratar de questões oficiais quando era secretária de Estado do atual presidente Barack Obama.
Porém, a especialista analisa que a força inicial desses nomes mais distantes da política deve arrefecer até o início do ano que vem. O que deve dar margem para o crescimento de nomes como Jeb Bush, inicialmente favorito, e Marco Rubio. Essa defesa de Lara ganha respaldo com o histórico americano. O último presidente que não era “herói de guerra”, ex-governador ou ex-senador foi Gerald Ford, em 1971. Mesmo assim, Ford tinha um extenso currículo parlamentar, servindo por 25 anos na Câmara dos Representantes. Além disso, ele não foi eleito presidente. Era vice e assumiu após a renúncia de Richard Nixon.
Um movimento contrário aos políticos tradicionais, no entanto, não representa que os republicanos estão mais distantes da política e desmotivados com o pleito presidencial do ano que vem. Uma pesquisa da CNN ofereceu bons ventos para os candidatos em geral: 65% dos eleitores do partido disseram que estão “extremamente” ou “muito” entusiasmados com a votação, em comparação com 51% dos democratas. A própria audiência dos maiores debates realizados até agora, na rede Fox e na CNN, com números recordes aponta para isso. A decisão final das primárias deve sair em maio de 2016.
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