O papa Francisco reconheceu nesta segunda-feira (29) que intercedeu pessoalmente a favor do compromisso alcançado pela paz na Colômbia, em declarações a bordo do avião papal que o conduzia a Roma, após sua viagem por Cuba e Estados Unidos.
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"Estou muito feliz, sempre quis isto. Conversei duas vezes com o presidente (Juan Manuel) Santos e não apenas eu. A Santa Sé tentou ajudar como podia", disse o pontífice argentino ao ser questionado sobre o compromisso de paz alcançado na semana passada entre o governo da Colômbia e a guerrilha das Farc.
"Quando soube da notícia de que o acordo final seria assinado em março, pedi ao Senhor: 'faça com que chegue março, que se cumpra o prometido, porque faltam pequenas coisas, mas a vontade entre as duas partes existe", completou.
Tanto o governo colombiano quanto a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) reconheceram a autoridade moral do papa Francisco e seu papel chave ao ter feito em Cuba no dia 20 de setembro um apelo no qual convocava as partes a não permitir que as negociações fracassassem.
O pontífice reiterou que "é preciso esperar até março para que seja assinado o acordo definitivo e que fica pendente o assunto da justiça internacional", sem apresentar mais detalhes.
Depois de pousar no aeroporto romano de Ciampino, às dez da manhã, o pontífice se dirigiu à basílica de Santa Maria Maior, como é sua tradição, para agradecer a Virgem pela viagem.
Durante o voo, o Papa concedeu uma entrevista de 40 minutos aos jornalistas que o acompanhavam.
Bombardeios na Síria
Interrogado sobre os primeiros bombardeios aéreos realizados no domingo pela França contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria, o Papa reconheceu que não havia lido nada e que não entendia bem o assunto.
"Quando escuto as palavras bombardeio, morte, sangue, respondo o mesmo que disse ante o Congresso americano e nas Nações Unidas: é preciso evitar isso. Eu não julgo a situação política porque não a conheço", disse.
Todos os muros caem, lembra o Papa
Na conversa com a imprensa, Francisco foi interrogado sobre a crise migratória que atinge a Europa e as cercas de arame farpado que foram construídas para impedir a entrada de refugiados.
"É verdade, é uma crise de refugiados, como disse ao Congresso (dos Estados Unidos), nunca havia visto uma crise assim desde a Segunda Guerra Mundial. Me pergunta sobre as barreiras. Você sabe como os muros terminam. Todos, todos os muros caem, hoje, amanhã, ou em cem anos, mas todos caem. Não é uma solução. O muro não é uma solução", afirmou.
O chefe da Igreja católica se referiu aos abusos de menores cometidos por religiosos e admitiu que compreende as famílias que não perdoam.
"Sim, as entendo, rezo por elas e não as julgo", disse.
"Rezo e peço a Deus, porque Deus é um campeão em buscar caminhos de solução. Peço que conserte isso", acrescentou.
Divórcio católico
Francisco, que em poucos dias preside uma complexa assembleia de bispos na qual serão debatidos temas importantes sobre o futuro da família católica, também abordou a reforma que adotou para facilitar a nulidade do matrimônio católico.
"Aqueles que pensam no divórcio católico se equivocam porque este último documento fechou a porta ao divórcio, que podia entrar pela via administrativa".
"Era preciso reduzir os processos. Havia processos que duravam dez, quinze anos. Uma sentença, e depois outra sentença, e uma apelação e outra apelação e não terminava nunca", explicou.
O Papa fechou a porta ao sacerdócio feminino, e insistiu que gostaria de visitar em breve a China, um país que "amo muito".
"Gostaria muito de ir à China. Temos contatos, falamos", disse.
Apesar da dura agenda cumprida, o Papa celebrará na quarta-feira a audiência geral e no domingo inaugura o Sínodo da Família.