O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) realizou nesta sexta-feira um avanço relâmpago perto da cidade síria de Aleppo, aproveitando a confusão criada pelos bombardeios russos nas regiões sob controle rebelde neste país em guerra.
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Paralelamente, o exército sírio, fortalecido pelos ataques de seu aliado russo e do Hezbollah xiita libanês, intensificou suas operações contra os rebeldes nas regiões do noroeste, onde os combatentes do EI não estão presentes.
Nesta guerra complexa há múltiplos atores e o principal alvo de Moscou até o momento são os grupos rebeldes hostis ao regime e a Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda. E em diversas ocasiões o EI.
O Ocidente critica a intervenção no conflito há dez dias da Rússia, um aliado do presidente sírio Bashar al-Assad. Ela é acusada de socorrer Assad, que estava em uma posição de debilidade, em vez de combater os jihadistas.
Aproveitando os bombardeios russos contra os rebeldes, o EI avançou rapidamente ao norte de Aleppo depois de ter expulsado grupos rebeldes rivais de várias localidades ao norte da cidade, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), que informou sobre dezenas de mortos.
"O grupo jihadista se aproveita da confusão entre os rebeldes atacados pelos russos em várias províncias. Avançou sem que nenhum bombardeio o impedisse", disse o diretor desta ONG, Rami Abdel Rahman.
Às portas de Aleppo
O EI "tomou o controle de regiões extensas ao norte de Aleppo (...) e está às portas de Aleppo", afirma um comunicado do grupo ultrarradical que controla a metade do território sírio e parte do Iraque.
Agora está a vinte quilômetros desta cidade, perto da zona industrial de Sheikh Najar, contígua à parte da cidade controlada pelo regime.
"O EI anunciou em várias ocasiões que desencadearia uma ofensiva contra Aleppo, mas não o fez. Esperava o momento oportuno e aproveitou os bombardeios russos contra os rebeldes para avançar", explica Romain Caillet, especialista em movimentos jihadistas. "A principal vantagem do EI é sua capacidade de reação. Sua tática similar consiste em aproveitar oportunidades".
Thomas Pierret, especialista em Islã na universidade de Edimburgo, concorda que "os russos concentram seus ataques nos rebeldes e muito pouco no EI".
A coalizão dirigida por Washington há um ano contra os jihadistas "também não está muito ativa nesta região", acrescenta.
Algo que poderia mudar. O secretário de Defesa americano, Ashton Carter, afirmou nesta sexta-feira que o presidente Barack Obama aprovou mudanças no programa de treinamento e equipamento dos rebeldes sírios moderados e as anunciará em breve.
A França, que atacou pela segunda vez o EI em seu reduto de Raqa (nordeste), afirmou nesta sexta-feira que "entre 80% e 90%" dos bombardeios russos não são dirigidos contra o EI.
No lançamento de sua campanha aérea, o Kremlin anunciou que se concentraria na luta contra o EI e "os outros grupos terroristas", termo com o qual designa todos os oponentes a Assad.
General iraniano morto
Na região de Aleppo, um comandante dos Guardiões da Revolução iraniana, o general Hossein Hamedani, morreu na quinta-feira em confrontos contra o EI, segundo Teerã. Este exército de elite do Irã, principal aliado regional de Damasco, conta com 7.000 membros na Síria.
Os bombardeios russos e o apoio terrestre do Hezbollah revitalizaram as forças armadas sírias, que acumulavam derrotas desde o início do ano, sobretudo na província de Idleb (noroeste), atualmente sob controle da insurgência.
As tropas de Assad lançaram na quarta-feira uma ofensiva para recuperar o terreno perdido. Conseguiram avançar nas províncias de Hama (centro) e de Latakia (oeste), um dos principais redutos do regime.
O Kremlin afirmou que a operação aérea russa acompanhará a ofensiva das forças sírias.
"A campanha é dirigida primeiro a proteger o território do regime nestas duas províncias e depois a contra-atacar para retomar Idleb, subindo em direção ao norte", segundo Abdel Rahman.
Em março de 2011, uma revolta popular reprimida brutalmente pelo regime se transformou em guerra aberta que deixou mais de 240.000 mortos e obrigou milhares de pessoas a fugir do país, provocando uma grave crise migratória.