O grupo de 19 eritreus que havia solicitado asilo na Itália chegou nesta sexta-feira (9) à Suécia, no âmbito da primeira operação organizada pela União Europeia para dividir dezenas de milhares de refugiados pelo continente.
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No momento em que ocorria a transferência dos eritreus, cerca de 7.000 migrantes chegaram na Grécia, país que está à beira de uma crise humanitária em razão da entrada de 440.000 migrantes desde o início do ano, de um total de 575.000 que chegaram na Europa em 2015 cruzando o Mediterrâneo.
Os 19 eritreus, entre eles cinco mulheres, partiram da Itália em um avião da polícia financeira e aduaneira, na presença do ministro italiano do Interior, Angelino Alfano, e do comissário europeu para a Migração, Dimitris Avramopoulos.
"Este avião representa a vitória de uma Europa que sabe ser solidária e responsável, que salva vidas", declarou Alfano ao se despedir do grupo.
Uma centena de demandantes de asilo na Itália e outro tanto da Grécia deverão viajar nas próximas semanas para Alemanha, Holanda e os demais 28 países "que comunicaram sua disponibilidade", acrescentou.
Os 19 eritreus são os primeiros dos 160.000 demandantes de asilo que se beneficiarão nos dois próximos anos deste programa de realocação inédito no seio da UE.
O ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo, Jean Asselborn - país que ocupa a presidência da UE - também acompanhou a operação.
A operação tem por objetivo aliviar a pior crise migratória que a Europa enfrenta desde a Segunda Guerra Mundial.
A autorização a esta operação se tornou possível depois que a União Europeia rejeitou categoricamente a dura posição das nações da Europa Oriental, contrárias a acolhê-los.
Na próxima semanas outros grupos de refugiados deverão partir ao norte da Europa.
Para o grego Avramopoulos, esta sexta-feira é "um dia histórico para a Europa" e agradeceu a Luxemburgo pela rapidez com a qual colocou em andamento o sistema.
Forças de segurança, bombeiros, ONGs e meios de comunicação se dirigiram em grande número ao aeroporto militar de Ciampino de Roma.
"Hoje é um dia positivo e importante. São os primeiros que viajam no âmbito do novo plano europeu", declarou à imprensa Carlotta Sami, porta-voz para o sul da Europa do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).
"É um dia importante porque é o início do plano europeu. Esperamos que siga adiante, mas é preciso fazer mais", acrescentou, exigindo "medidas para fazê-los chegar à Europa de forma segura".
Segundo as estatísticas do Acnur, os eritreus representam 26% das 132.000 pessoas que chegaram neste ano à Itália, depois de terem sido resgatadas no Mediterrâneo.
Mais de 3.000 migrantes perderam a vida no mar desde o início de 2015, a maioria diante da costa da Líbia.
A outra face da moeda
Enquanto a acolhida e a divisão dos refugiados com direito a pedir asilo são organizados, a União Europeia decidiu na quinta-feira deportar de forma sistemática os imigrantes ilegais que fogem de seus países por razões econômicas.
"Os que não precisam da proteção internacional devem retornar ao seu país", anunciou Asselborn.
Paralelamente às transferências internas de refugiados, a UE iniciou nesta semana a segunda fase de uma operação militar sem precedentes, batizada de "Sophia", contra os traficantes de seres humanos no Mediterrâneo.
O plano agora consiste em realizar operações de busca, resgate e captura em águas internacionais dos navios que são utilizados para o tráfico de seres humanos.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas adotou nesta sexta-feira uma resolução que autoriza a operação com o objetivo de obter legitimidade internacional. Quatorze países votaram a favor e apenas a Venezuela se absteve.
A União Europeia aprovou em meados de setembro o uso da força contra os traficantes de seres humanos que partem da Líbia, mas deverá se limitar a operar em águas internacionais.
Para operar em águas líbias é necessária a autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a aprovação das autoridades líbias, o que não é fácil.
Apesar desta exigência, navios militares de Itália, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Espanha navegam muito próximos à costa da Líbia, já que o limite é de 12 milhas náuticas.