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O fundador do Wikileaks, Julian Assange, "apareceu" nessa quinta-feira (15) na Argentina. De dentro da Embaixada do Equador em Londres, onde está asilado desde 2012, ele fez uma videoconferência com espectadores de um fórum sobre tecnologia em Buenos Aires.
Aparentando estar bem de saúde, apesar do pedido para sair do edifício para um exame médico, Assange criticou a decisão do governo do Reino Unido de retirar os policiais da porta da embaixada. Para ele, se trata de uma ação de propaganda.
"É uma publicidade da polícia. Se prestar atenção, eles mesmos disseram que aumentaram o aparato de vigilância contra mim", disse. "Hoje [nesta quinta, 15] era possível ver que havia carros civis de vigilância ao redor da embaixada."
Segundo Assange, a retirada dos 164 policiais que faziam o monitoramento da embaixada se deve à dificuldade de se justificar os gastos nesse efetivo, de US$ 21 milhões (R$ 81 milhões) nos últimos três anos.
"Foi uma estratégia de relações públicas. Os britânicos querem mostrar que são duros, mantendo alguém que está sendo acusado preso."
Para ele, o governo inglês não entra na embaixada do Equador e o detém para se auto-proteger. "O custo seria muito alto. Isso abriria precedente para que invadam as embaixadas do Reino Unido em qualquer país do mundo".
O fundador do Wikileaks, responsável por revelar documentos secretos de EUA e de outros governos, afirmou que as agências de inteligência, como a CIA, são "burocráticas, incompetentes e corruptas" e que, por isso, não foram capazes de capturá-lo, nem Edward Snowden, asilado na Rússia.
"Como um pequeno divulgador de informações, como eu, pode vencer essas estruturas? Não por mim, mas porque são extremamente incompetentes e corruptas."
TRATADO DO PACÍFICO
Em sua palestra, a uma plateia predominantemente de jovens acomodados no novo Centro Cultural Kirchner, Assange falou sobre controle das nações desenvolvidas, sobretudo os EUA, da informação global e como isso afeta os outros países.
Ele classificou o Tratado Transpacífico, grande acordo de liberação de comércio anunciado há poucos dias, como uma tentativa dos EUA de espalhar suas normas e controlar outros territórios.
"É uma tentativa de criar um circuito fechado, um novo regime legal e econômico", disse.
"É a tentativa de criar uma nova ordem mundial, onde as indústrias de propriedade intelectual dos EUA têm muito poder. É uma projeção da lei de diretos autorais dos EUA, das regras que os provedores devem seguir e que afetam outros tantos aspectos da economia".
Para o fundador do Wikileaks, essa busca por uma "formalização" dos EUA tem como objetivo manter o monopólio americano e anglo-saxão sobre os direitos de propriedade no mundo, que inclui a produção de medicamentos e de outros produtos de tecnologia.
Falando para uma plateia de argentinos, Assange afirmou que a Argentina "deve liderar, antes que seja tarde" a soberania da internet na região.
Segundo ele, embora muitos pensem que deveria ser o Brasil, pelo tamanho e pela população, pelo idioma, é a Argentina que deveria liderar o mundo hispânico nessa iniciativa.
Segundo Assange, 98% das comunicações da América Latina são interceptadas pelos EUA, por isso é importante investir em redes próprias de fibra ótica e satélites.