DITADOR

Quatro anos após a morte de Kadhafi, sua herança ainda pesa sobre a Líbia

Desde sua morte, o país, de estrutura predominantemente tribal, está mergulhado no caos com disputas entre grupos armados

Da AFP
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Publicado em 20/10/2015 às 12:31
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Desde sua morte, o país, de estrutura predominantemente tribal, está mergulhado no caos com disputas entre grupos armados - FOTO: Foto: AFP
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Quatro anos após a morte do ex-ditador líbio Muammar Kadhafi, seu legado ainda pesa sobre o país, assolado pela violência e lutas pelo poder e ainda à procura de uma unidade nacional.

"Kadhafi construiu um Estado em torno de sua personalidade" durante as quatro décadas que passou no poder, explica Michael Nayebi-Oskui, especialista em Oriente Médio no centro de reflexão americano Stratfor.

Ele "usou o dinheiro do petróleo para financiar um aparato repressivo destinado a esmagar toda a oposição, ao invés de construir instituições sólidas do Estado que poderiam sobreviver a ele", afirma.

"Vai levar anos ou décadas para que a Líbia possa construir uma identidade nacional", acredita o pesquisador.

Morto em 20 de outubro de 2011, após oito meses de conflito desencadeado por uma revolta popular, Kadhafi governou o país com mão de ferro depois de tomar o poder em 1969 por meio de um golpe de Estado, abolindo o regime monarquista até então apoiado pelo Ocidente.

Desde sua morte, o país, de estrutura predominantemente tribal, está mergulhado no caos com disputas entre grupos armados rivais e autoridades pelo poder, apesar dos esforços das Nações Unidas para formar um governo de unidade nacional.

Em agosto de 2014, a capital Trípoli caiu nas mãos de milícias, algumas das quais islâmicas, que estabeleceram uma autoridade rival à autoridade reconhecida pela comunidade internacional, forçada a fugir para o leste, em Tobruk.

Aproveitando o vácuo político e a insegurança, o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) também se estabeleceu no país neste mesmo ano.

De A a Z

A Líbia também se tornou o playground favorito de traficantes sem escrúpulos, que organizam por enormes somas partidas para a Europa de milhares de migrantes, em sua maioria africanos, em embarcações frágeis,contribuindo para tornar o Mediterrâneo um vasto cemitério.

"Tudo o que Kadhafi deixou para trás é corrupto: política, economia, sociedade e até mesmo o esporte. As leis, as regras de funcionamento (impostas por Kaddhfi) precisam ser mudadas de A a Z", indica por sua vez uma autoridades do governo paralelo em Trípoli.

"Ele jogou tribos locais e grupos étnicos uns contra os outros, o que explica a dificuldade para os líbios de definir atualmente uma identidade nacional", analisa Nayebi-Oskoui.

Este especialista prevê que "o nome de Kadhafi permanecerá onipresente, particularmente por conta do julgamento de seus parentes e dos eventos relacionados a ele como o atentado de Lockerbie".

40 anos de caos

Na semana passada, magistrados escoceses identificaram dois novos suspeitos líbios no ataque contra um Boeing da Pan Am sobre Lockerbie em 1988 (270 mortos). O regime de Kadhafi tinha admitido sua responsabilidade pelo ataque e pagou US$ 2,7 bilhões em compensação às famílias das vítimas.

Para Nayeb-Oskoui, Kadhafi deixou para trás "uma nação fraturada" e "continuará a assombrar as mentes até que os 40 anos de caos possam ser superados".

Além disso, a economia corre o risco de um colapso total caso o conflito atual continue, alertam as autoridades líbias.

Kadhafi fez do petróleo o principal motor da economia, mas as exportações caíram em mais da metade, a 400.000 barris por dia, devido ao caos em todo o país.

E a ONU ainda não conseguiu fazer com que os protagonistas entrem em acordo para formar um governo de unidade nacional, apesar dos repetidos apelos da comunidade internacional para tirar o país da crise.

Nos muros de Tripoli, pichações do ex-ditador foram pintadas, uma delas representando-o em uma lata de lixo.

Nesta terça-feira (20), os habitantes da capital deveriam se reunir no centro da cidade para comemorar o quarto aniversário da morte do homem que chegou a ser chamado de "o rei dos reis da África".

"Antes tínhamos medo de olhar para seu quartel-general", diz Ahmad, um vendedor de cigarros. "As coisas mudaram, é claro, mas esse medo, nós ainda sentimos cada vez que passamos em frente às muralhas e que nos fazem lembrar dele (Kadhafi). Levará gerações para que esse medo desapareça para sempre."

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