Uma onda de violência atinge mais uma vez o histórico conflito entre Israel e Palestina. O movimento, que está sendo chamado de Intifada das Facas (leia mais na arte) deixou, só nestas três primeiras semanas de outubro, um saldo de mortos de mais de 40 palestinos e oito israelenses, fora outras dezenas que ficaram feridos. O nome dado ao novo conflito – por conta do instrumento usado pelos palestinos nos ataques – talvez engane, à primeira vista, levando a crer que tal artefato não representa grande perigo, incapaz de provocar estrago, mas o acirramento dos ânimos tende a piorar nos próximos dias. “Importante salientar que essa mobilização palestina não é fruto de uma força oficial, um grupo terrorista, mas de jovens. São pessoas frustradas com a calamidade em que vivem e canalizam isso contra a repressão exercida por Israel”, pontua o chefe do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP, especialista em Oriente Médio, Reginaldo Nasser.
O estudioso, organizador do livro Os Conflitos Internacionais Em Múltiplas Dimensões, elenca a maior singularidade desse momento: “Essa é a geração de Oslo que se revolta”. Esse fato relatado por Nasser é consenso entre grande parte dos especialistas. Os jovens palestinos do atual movimento, a maioria com idade entre 22 e 25 anos, nasceram durante ou após as negociações e assinaturas dos Acordos de Oslo, em 1993 e 1995. Esses tratados representam diversos entendimentos que deveriam levar a paz para esses povos. Dentre os pontos acertados, estava a retirada de colonos israelenses de terras Palestina e o fim do bloqueio econômico e físico exercido por Israel.
As promessas não prosperaram e a situação econômica dos palestinos só se agrava, principalmente na Faixa de Gaza. “Uma juventude sem previsão de futuro se frustra e parte para buscar com as próprias mãos esse futuro. Estão usando facas pelo fato de não possuírem armas de fogo. Tenha certeza, o que puder ser usado será nessa escalada, numa tentativa de fugir desse apartheid social imposto pelos israelenses”, explica Nasser.
Inicialmente, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, trataram publicamente de recriminar os ataques – incluindo o primeiro cometido por israelenses, visto como o que acirrou o distúrbio atual, em que colonos atearam fogo contra a casa de uma família palestina matando um bebê de 18 meses, em julho. Mas na última semana as movimentações ganharam contornos mais bélicos. Israel, que já tinha executado dezenas de palestinos alegando “defesa”, colocou, semana passada, seu exército novamente nas ruas de Jerusalém e bloqueou o acesso a vários bairros e vilarejos palestinos no leste da cidade. A resposta de Abbas elevou ainda mais a temperatura, ao acusar Israel de não respeitar as regras de administração da Esplanada das Mesquitas de Jerusalém. “Netanyahu comete um erro quando diz que respeita o status quo. Não é correto, é um erro”, afirmou Abbas, de acordo com a AFP.
Há 20 anos se dedicando ao tema, José Palma, da Universidade de Lisboa, traz para a discussão a ideia de que o isolamento do povo palestino se volta também contra a população israelense. “A imagem que muitos desses jovens têm de um israelense é vestido como soldado armado e autoritário. Ensinados com o discurso único de ódio da facção palestina Hamas (que controla a Faixa de Gaza)”, discorre, frisando que essa retórica é usada já na educação das crianças, dos dois lados envolvidos. Os especialistas concordam com um infeliz ponto, enquanto não aceitarem a presença um do outro, a existência de ambos estará ameaçada. Mas a previsão para que isso aconteça nenhum deles se arrisca em apontar.