Como uma tripulação integralmente feminina interagiria no espaço? Para responder de maneira séria a esta questão sexista, cientistas russos lançaram nesta quarta-feira uma experiência inédita: colocar seis mulheres durante oito dias em condições que simulam uma missão para a Lua.
"Adoraria desejar que vocês não tivessem conflitos, mas é a tal história: duas mulheres na mesma cozinha não conseguem conviver", lançou Igor Ouchakov, diretor do Instituto de Problemas Médicos-Biológicos (IBMP), em referência a um velho ditado machista na Rússia durante o lançamento de uma expedição virtual.
Vestidas com o mesmo macacão vermelho, os seis voluntários ultrapassaram a porta de vidro que servirá como porta ao que será o local de trabalho durante a experiência, na sede do instituto, conhecido por suas pesquisas sobre os efeitos físicos e psicológicos das viagens ao espaço.
Uma médica, uma psicóloga e quatro pesquisadores participarão da experiência, que simula um voo de ida e volta para a Lua ao longo do qual as seis mulheres realizarão diversas experiências psicológicas e biológicas.
Em 2010, o IBMP colocou seis homens na mesma sala durante 520 dias, durante uma simulação de voo rumo a Marte.
"Será particularmente interessante nos aspectos psicológicos", argumentou Igor Ouchakov durante coletiva de imprensa.
"É a primeira vez que uma tripulação exclusivamente feminina participa de uma simulação do gênero. É interessante para nós vermos como uma equipe de mulheres vai se comunicar", afirmou Serguei Ponomarev, diretor da missão.
"Nunca tivemos uma tripulação inteiramente feminina na ISS. Nós consideramos que o futuro do espaço será igualmente masculino e feminino e nós devemos recuperar o tempo perdido em que ficamos sem enviarmos uma quantidade representativa de mulheres ao espaço", disse.
'Bonitas sem maquiagem'
Se a Rússia enviou a primeira mulher ao espaço em 1963, as mulheres foram pouco associadas ao desenvolvimento do programa espacial russo em seguida.
No ano passado, o país enviou a quarta mulher ao espaço, Elena Sérova. Quando retornou, a cosmonauta lamentou ter sido questionada sobre como fez para lavar os cabelos durante sua estadia na Estação Espacial Internacional (ISS), notando que os homens não tiveram que responder a esse tipo de questão.
Durante a apresentação da nova experiência, as questões dos jornalistas mais uma vez giraram em torno da forma como a seis mulheres fariam para aguentar passar uma semana sem maquiagem.
"Nós somos muito bonitas sem maquiagem", respondeu Daria Komissarova. "Nós trabalhamos e quando trabalhamos, não pensamos em homens ou mulheres", rebateu Anna Koussmaoul.
A líder da expedição, Elena Louchnitskaïa, disse acreditar que não haveria nenhum desentendimento durante a experiência. "Estou certa de que temos educação e qualidades pessoais necessárias para que tudo ocorra bem", declarou.
Cinquenta e quatro anos após o voo de Yuri Gagarin, primeiro homem no espaço, enviar um homem à Lua continua sendo uma grande ambição da Rússia, que viveu como uma afronta o fato de ser ultrapassada pelos americanos nesta conquista em 1969. Ela anunciou na terça-feira querer enviar cosmonautas à Lua até 2029.