Com o avanço das investigações, especialistas estão cada vez mais inclinados na direção de que a tragédia com o avião de passageiros russo no Egito foi um ataque terrorista do Estado Islâmico(EI). Uma ação que deixou 224 pessoas mortas. Independente se foi mais um atentado ou não, o cenário atual mostra que o grupo continua expandindo sua máquina de guerra e terror, mesmo sob ataques de potências militares como Estados Unidos e Rússia, com um Califado que ocupa 25% da Síria e quase 40% do Iraque.
Michel Weiss e Hassan Hassan, no livro Estado Islâmico: Desvendando o Exército do Terror, em 270 páginas definem que a trajetória de conquistas que trouxe até aqui o EI foi tão improvável quanto a viabilidade de um fim próximo das ações orquestradas pelos extremistas. Nesse caso, o que cabe é apresentar os diversos fatores que fazem o mundo conviver atualmente com essa tensão, num Oriente Médio ainda mais instável que as disputas historicamente já conhecidas.
Em palestra recente no International Peace Institute, em Nova York, Michael Weiss, afirmou que o palco para a consolidação do EI nessa região só faz piorar desde que os EUA deram início a “guerra ao terror”, após os ataques de 11 de setembro de 2011. “Os bombardeios destroem a infraestrutura da Síria e do Iraque, os civis perdem os únicos meios de sobrevivência que teriam. Do outro lado aparece o EI oferecendo o único meio de sobrevivência disponível”, pontua o jornalista, que cobriu durante cinco anos os conflitos no local. O EI quando entra em uma cidade passa a ter o controle sobre o lugar e das pessoas que ali vivem. Se portando como um verdadeiro Estado, definindo impostos, cobrando uma série de obrigações, mas oferecendo também promessas, como salários e uma proteção, mesmo que tênue, para a família do combatente. “Se o soldado é diagnosticado com câncer, por exemplo, o EI paga a viagem e o tratamento na Turquia, com tudo gratuito, em alguns casos até para seus parentes mais próximos”, explica o Weiss.
Ou seja, a “guerra ao terror” iniciada pelos EUA só fez elevar o descontentamento das populações locais e o acirramento das facções extremistas, quadro que, para o especialista em Oriente Médio e consultor da Organização das Nações Unidas(ONU), Fernando Brancoli, deve piorar com os bombardeios feitos pela Rússia.
As afirmações deles encontram respaldo nos números que mostram a escalada da violência. De acordo com o Índice Global de Terrorismo, há cinco vezes mais mortes por atentados hoje do que em 2000. De lá até 2013, foram registrados 48 mil ataques terroristas em 123 países, com 107 mil vítimas fatais. Só em 2013, último ano da pesquisa, foram 17,958 mil pessoas mortas. Outro levantamento, esse feito pelo departamento de Estado americano, aborda o ano de 2014, mostrando uma queda no número de ataques, porém elevação no de óbito. Foram registrados 13,463 mil ações, com 32,7 mil mortos. A perspectiva é que 2015 apresente números ainda mais elevados. Mas os próprios especialistas concordam que a conta não pode cair apenas pela ação militar americana. Tendo mudando de nome várias vezes desde 2003, e atraído lideranças de outros grupos, o EI é visto como fruto de um amálgama de fatores.
Iniciou como um braço armado da Al-Qaeda, tendo rompido, dentre outras questões, justamente pela ações mais radicais e a divulgação de técnicas cruéis contra opositores. Contou ainda, num primeiro momento, com financiamento do Irã e, posteriormente, encontrou na instabilidade dos governos no Iraque, Síria e na Líbia um terreno fértil para a disseminação de uma interpretação radical do islamismo. Tendo o resultado mais concreto, até agora, no estabelecimento em 2013 do Califado, com o atual líder e califa, Abu Bakr al-Baghdadi.
Se todos esses pontos elencados trazem a conclusão de que a luta contra o grupo precisa contar concomitantemente com uma operação de suporte a população afetada, elas não explicam o motivo de ter sido o EI a lograr “êxito”, e não os outro tantas facções que já emergiram e continuam aparecendo na região. No entanto, a bibliografia atual e os especialistas afirmam que uma resposta concreta, para um tema que os próprios líderes mundiais ainda tentam entender, só uma análise futura será capaz de responder.