O debate sobre impor um preço ao carbono para favorecer os investimentos em tecnologias mais limpas continuará excluído das negociações climáticas da COP21, apesar de inúmeros apelos em favor de tal dispositivo.
Líderes internacionais, empresários, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial advogaram pela instauração, por ocasião da conferência de Paris, de um preço do carbono (custo da tonelada de carbono emitido). O pagamento pelas emissões de gases de efeito estufa teria por objetivo incitar as empresas a investir em tecnologias mais limpas.
Trata-se de "provocar uma decisão de investimento de longo prazo, porque estes investimentos são necessários para uma transição para uma sociedade com baixo nível de carbono", explicou à AFP Frédéric Dinguirard, do centro de estudos The Shift Project.
A Comissão Mundial sobre Economia e Clima - presidida pelo ex-presidente mexicano Felipe Calderón e o economista Nicholas Stern -, em sua obra "A nova economia climática", "recomenda que os governos instaurem um preço de carbono forte, previsível e crescente".
Vinte organizações patronais mundiais, incluindo a organização europeia Business Europe, mandaram recentemente uma carta à responsável pelo clima da ONU, Christiana Figueres, para insistir na "importância de um mercado de carbono no acordo climático de Paris 2015".
Apesar destas manifestações, o tema não aparece na agenda das negociações da COP21, o que "ilustra perfeitamente o aspecto um pouco abstrato das negociações e do mundo em que vivem os diplomatas sobre a realidade econômica do mundo", lamentou para a AFP Brice Lalonde, conselheiro especial das Nações Unidas.
Para este ex-ministro francês do Meio Ambiente, uma seção dedicada ao preço do carbono no acordo internacional "não está excluído do todo", embora pareça improvável: "os países petroleiros não querem, nem os países produtores de carvão, etc... Porque isso encareceria seu desenvolvimento".
No sentido inverso, são favoráveis os países que já instauraram uma taxa ou um mercado de carbono, quer dizer, segundo o Banco Mundial cerca de 40 países e 23 cidades, que representam 12% das emissões de gases de efeito estufa e 40% do PIB.
"Arsenal de medidas necessárias"
"Portanto, as coisas evoluem. Mas não rápido o suficiente para ter um impacto real sobre os modelos econômicos, porque o preço dado ao carbono ainda é muito baixo", lamenta Pascal Canfin, do World Resources Institute, em seu livro "30 questões climáticas para entender a conferência de Paris".
Desde 2005, a Europa tem um sistema chamado ETS. Mas muitas vezes é considerado ineficaz por seu baixo preço e demais isenções, que não afetam de forma real as decisões de investimento.
Com efeito, se a taxa não deve ser fixada em um nível muito alto para evitar efeitos econômicos negativos, deve ser "suficientemente dissuasiva" para pesar nas decisões de investimento. "Em outras palavras, o mercado está inclinado para o carvão porque é o menos caro e mais abundante", explicou Brice Lalonde.
Outras medidas devem acompanhar o preço do carbono como a suspensão dos subsídios aos combustíveis fósseis, ou um apoio aos projetos mais verdes.
Frédéric Dinguirard fala de "um arsenal de medidas, todas elas necessárias, porque a base de fixar todo tipo de obrigações, incitações e medidas é como vamos conseguir conscientizar, obrigar a medir de forma periódica e confiável, comprovável e por último reduzir as emissões".