Quatro dos homens suspeitos de ter desempenhado um papel-chave nos atentados de Paris - Abdelhamid Abaaoud, Brahim e Salah Abdeslam e Mohamed Abrini - figuravam em uma lista de 85 pessoas "radicalizadas" transmitida pelos serviços de inteligência belgas à prefeitura de Molenbeek, informaram nesta quinta-feira as autoridades locais.
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"Confirmo que esses indivíduos figuravam na lista enviada em junho de 2015 pelo Órgão de Coordenação para a Análise de Ameaças (Ocam) à prefeita de Molenbeek (Françoise Schepmans) e ao comandante (da polícia local)", afirmou à AFP uma fonte próxima às autoridades municipais.
O suposto mentor dos ataques de 13 de novembro, o belga-marroquino Abdelhamid Abaaoud, morto aos 28 anos numa ação da polícia francesa contra um apartamento em Saint-Denis, ao norte de Paris, estava listado como "radicalizado, que partiu para a Síria".
Brahim Abdeslam, um francês de 31 anos que residia na Bélgica, membro do comando que atacou bares e restaurantes e que se explodiu em Paris, e seu irmão Salah, de 26 anos, que fugiu para a Bélgica algumas horas após os ataques e ainda é procurado, eram listados como "radicalizados, pertencentes ao movimento islamita", segundo a fonte.
Mohamed Abrini, de 30 anos, identificado na companhia de Salah Abdeslam dois dias antes dos ataques e que é alvo de um mandado de prisão internacional, era listado como tendo "supostamente viajado à Síria, e retornado".
A lista foi estabelecida pela Ocam após o desmantelamento de uma célula jihadista em Verviers (leste) com conexões em Molenbeek. Listas similares foram enviadas a outras cidades belgas.
"O objetivo era tentar reduzir o número de partidas, retirando, por exemplo, os passaportes ou privando de qualquer assistência social", observou a fonte.
"A polícia local, que dispõe de uma centena de homens para toda a cidade (quase 100.000 habitantes), pode fornecer informações aos serviços de inteligência e à Polícia Federal, mas não tem competências próprias em matéria de luta contra o terrorismo", explicou.
"Fomos nós, os prefeitos dos municípios em causa, que pedimos essas informações", disse por sua vez nesta na quinta-feira na televisão francesa iTele a prefeita de Molenbeek, Françoise Schepmans.
"A polícia local esteve em contato com algumas famílias, a polícia local recebeu informações", acrescentou Schepmans, considerando "importante dispor dessas informações".
No entanto, ela argumentou que, apesar de as autoridades locais terem o poder de adotar "medidas administrativas", como a retenção de registros municipais, "para o resto, é função da Polícia Federal identificar e deter as pessoas e da Justiça de prender".
"Pergunte às autoridades locais, aos prefeitos, eles podem estar na vanguarda da luta contra o terrorismo, mas acredito que o que é importante, é a colaboração que deve existir entre o nível local e federal", afirmou Schepmans.
Ela também pediu de "ir mais longe nas medidas a tomar". "É importante que todas as pessoas envolvidas neste radicalismo ou suspeitas sejam obrigadas a andar com uma pulseira eletrônica, que todas as pessoas que retornem da Síria possam ser detidas", afirmou com veemência a prefeita de Molenbeek.
As autoridades belgas têm sido muito criticadas por ter permitido o desenvolvimento de células terroristas em seu território. Uma delas fomentou a partir de Bruxelas os ataques de Paris, que fizeram 130 mortos.