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O papa Francisco anunciou nesta segunda-feira (21) que a reforma da Cúria "seguirá adiante com determinação", apesar dos escândalos que afetam a Igreja, e apresentou um "catálogo de virtudes" para prestar serviço no Vaticano.
Durante a tradicional mensagem de Natal aos cardeais e bispos que trabalham no Vaticano, o papa voltou a abordar um dos temas mais espinhosos de seu pontificado, "as enfermidades" que afetam o Vaticano, denunciadas há um ano com particular franqueza, resumidas em 15 pontos, o que provocou mal-estar na hierarquia da Igreja.
"A reforma da Cúria (governo central da igreja) seguirá adiante com determinação, clareza e resolução", afirmou o pontífice durante o encontro de Natal celebrado na imponente Sala Clementina, diante dos cardeais e bispos que trabalham no Vaticano.
Com a voz dando sinais de um resfriado e um pouco cansado, o papa fez referência indireta aos novos escândalos de corrupção e aos gastos excessivos protagonizados por alguns religiosos e denunciados pela imprensa italiana como o caso "Vatileaks 2", baseado no vazamento de documentos confidenciais.
O caso provocou a detenção de um religioso espanhol da Cúria. Ele está sendo julgado por divulgação ilegal de documentos confidenciais ao lado de outras quatro pessoas, dois jornalistas e dois consultores italianos.
"É necessário ter a capacidade de renunciar ao supérfluo e à lógica consumista", advertiu Francisco no discurso, em referência às tentações mundanas de muitos religiosos, alguns deles denunciados pelo uso de recursos para reformar quartos com luxo.
O papa também falou com os funcionários do Vaticano na sala Paulo VI, a quem pediu "perdão" pelos escândalos.
"Gostaria que rezassem pelas pessoas envolvidas, para que os que se desviaram possam recuperar o caminho correto", disse, com um tom menos duro que o utilizado ano passado, quando denunciou o "Alzheimer espiritual", o mundanismo, a corrupção, a pretensão que afetam a máquina central da Igreja.
"Antibióticos" para curar os males da Igreja
O papa falou desta vez dos "antibióticos" para combater as doenças da Igreja, na realidade um "catálogo de virtudes", entre elas "a honestidade, a humanidade, a racionalidade e a bondade, o respeito, a lealdade, a confiabilidade e a sobriedade".
"Seria uma grande injustiça deixar de expressar uma profunda gratidão e um grande estímulo a todas as pessoas sãs e honestas que trabalham com dedicação, devoção, lealdade e profissionalismo no Vaticano", disse.
Em referência ao "Jubileu da Misericórdia", que começou em 8 de dezembro em todas as catedrais dos continentes, Francisco pediu às centenas de milhares de padres e religiosos no mundo que mantenham uma atitude aberta.
"Na realidade é inútil abrir todas as portas santas de todas as basílicas do mundo se a porta do nosso coração está fechada ao amor, se nossas mãos estão fechadas ao doar, se nossas casas estão fechadas a receber", disse.
"Quando é difícil chorar seriamente ou rir apaixonadamente, então começou a nossa decadência e a nossa transformação de homens em outra coisa. Humanidade é saber mostrar ternura e familiaridade e cortesia com todos", explicou.
O pontífice concluiu o discurso à Cúria com um texto que é atribuído ao novo beato Oscar Arnulfo Romero, arcebispo de San Salvador, assassinado em 1980 por um grupo de extrema-direita, no qual fala justamente da "misericórdia".
"Somos operários, não mestres de obra, servidores, não messias. Nós somos profetas de um futuro que não nos pertence".