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Atingido de Paris a Beirute, passando pelo Sinai ou pela Califórnia, o mundo compreendeu em 2015 que é e continuará sendo vulnerável a uma forma de atentados promovidos ou organizados pelo grupo Estado Islâmico (EI).
O grupo jihadista fundado em 2014 nos confins do Iraque e da Síria, e que se dedicou em um primeiro momento a consolidar seu controle territorial, voltou sua mira aos "inimigos distantes" no ano que termina. Fomentou e inspirou ataques contra alvos civis em diferentes partes do mundo que deixaram centenas de vítimas.
"O EI, que reivindicou a responsabilidade destas atrocidades, passou a ser global", avalia Richard Barrett, vice-presidente do grupo de reflexão nova-iorquino Sounfa Group e que dirigiu antes o contraterrorismo nos serviços britânicos e a unidade de vigilância da Al-Qaeda e dos talibãs na ONU.
"E ficar dando voltas e enviar mais caça-bombardeiros não vai solucionar o problema. Pelo contrário, vai piorá-lo um pouco", declarou Barrett em entrevista recente à AFP.
"Mas os políticos têm muitas dificuldades para tratar estes temas. O público está assustado, já que este é o objetivo do terrorismo: instigar o medo. Se não desenvolvermos uma forma de resiliência social diante disso, vamos em direção a graves problemas", acrescenta.
A força do EI é que pode contar tanto com agentes enviados das "terras do califado" para montar operações na Europa (como os autores dos atentados de 13 de novembro em Paris) quanto com simpatizantes já no local. Este foi o caso de Syed Rizwan Farook e Tashfeen Malik, que se radicalizaram e decidiram passar à ação nos Estados Unidos sem ter aparentemente contatos diretos com o grupo jihadista.
É preciso somar a estas duas ameaças a constituída por jihadistas bem treinados, como os irmãos Kouachi, autores do massacre na revista Charlie Hebdo, vigiados por um tempo, mas considerados pouco perigosos, que sabem se fazer esquecer e depois atacam de maneira inesperada.
Sociedades mais selvagens
Diante desta multiplicação de suspeitos, as forças públicas têm dificuldades, embora seus meios tenham sido reforçados em todos os países alvos do EI ou da Al-Qaeda.
"Todos os membros dos serviços de segurança europeus com os quais tive contatos no último ano estão petrificados quando evocam o problema dos combatentes estrangeiros" que voltam da Síria ou do Iraque, afirma Bruce Riedel, do centro de reflexão Brookings de Washington. E este problema "é praticamente insolúvel", afirma.
Apenas sua vigilância intensiva mobilizaria todas as forças de segurança e os exércitos do mundo ocidental, e isso "é impossível, é claro", acrescenta Riedel, ex-membro da CIA. "Temos um problema sério: isto se chama estar submersos".
Apesar da criação, por iniciativa da Arábia Saudita, de uma coalizão de 34 países, majoritariamente muçulmanos, para "combater o terrorismo militar e ideologicamente", há muitas dificuldades para colocar em andamento uma cooperação internacional eficaz contra o EI, afirma Jean-Pierre Filiu, professor do Instituto de Ciência Política de Paris.
"Os atentados de Paris em novembro e o de San Bernardino lembraram os países ocidentais" que o EI "pode agir a qualquer momento", afirma.
"E vemos que a França, apesar do apoio da Grã-Bretanha e da Alemanha, está longe de ser sustentada ativamente neste plano pelos outros países europeus. Quanto aos Estados Unidos, privilegiaram uma campanha de longa duração" que permite ao EI "desenvolver suas redes transnacionais. E a Rússia de Vladimir Putin está mais interessada no apoio ao seu aliado, Bashar al-Assad, bombardeando sua oposição, que em uma ofensiva contra" o Estado Islâmico, afirma Filiu.
Embora saibam que são vulneráveis, os países atacados pelo EI evitaram até agora em suas reações a armadilha criada pelo movimento jihadista, cujo interesse é que as comunidades muçulmanas locais sejam estigmatizadas, acusadas de cumplicidade, para que se voltem ao seu lado.
"Além do medo que provoca, o terror, que chegou ao seu ápice no ano de 2015, está destinado a tornar 'mais selvagem' a sociedade 'ímpia', fragmentando-a em guetos confessionais até que afundem em uma guerra civil", escreve o cientista político francês Gilles Kepel em seu livro "Terreur dans l'hexagone" (Terror no hexágono, em tradução literal, Editorial Gallimard).
"Esta visão apocalíptica e delirante dos jihadistas se nutre do fantasma de um recrutamento possível de seus correligionários, que se sentiriam vitimados pela islamofobia atiçada em reação aos massacres lançados pelos islamitas", sustenta.