Colômbia

FARC fazem suspense sobre compromisso de assinar acordo de paz em março

Guerrilha aproveitou a retomada dos diálogos para criticar o governo pelos 'atrasos' que impediram a libertação de 30 guerrilheiros

Da AFP
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Publicado em 13/01/2016 às 21:33
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Guerrilha aproveitou a retomada dos diálogos para criticar o governo pelos 'atrasos' que impediram a libertação de 30 guerrilheiros - FOTO: Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
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As Farc fizeram suspense sobre o compromisso assumido com o governo colombiano de assinar um acordo de paz definitivo em 23 de março, porque, segundo a guerrilha, há "obstáculos importantes" na negociação retomada na quarta-feira em Havana.

Após o recesso de fim de ano, as partes retornaram à mesa de diálogo sob a expectativa dos colombianos de concretizar em pouco mais de dois meses o acordo para por um fim a meio século de luta armada.

No entanto, as Farc consideram quase impossível cumprir o prazo com que tinham se comprometido com o presidente Juan Manuel Santos em setembro, em Havana.

"Estamos fazendo até o impossível, mas há causas ou fatores objetivos que certamente vão impedir que isto aconteça no 23" de março, disse à imprensa Joaquín Gómez, negociador de paz do grupo comunista.

O líder rebelde reforçou que ainda resta superar obstáculos nas conversações celebradas com o governo há mais de três anos em Cuba.

"Há obstáculos tão importantes quanto é o esclarecimento e o desmantelamento do paramilitarismo", destacou Gómez, em alusão aos grupos clandestinos de ultradireita que combatem a guerrilha há décadas.

O pronunciamento vai de encontro ao esforço de Santos de "acelerar" as negociações com vistas a assinar o acordo definitivo em março.

Nossos negociadores têm "instruções muito claras: pisar no acelerador do processo para que ponhamos um fim o mais rápido possível a este conflito que tanto mal fez ao nosso país", disse Santos na semana passada.

O conflito colombiano, que começou com um levante camponês, é um dos mais prolongados do mundo e deixou 220 mil mortos e seis milhões de deslocados.

Depois as diferenças que atrasaram o acordo sobre as vítimas, anunciado em 15 de dezembro, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) já tinham expresso seu ceticismo sobre o cumprimento do prazo para firmar o acordo final.

"Insistir no 23 de março como data limite dos diálogos, depois da demora do acordo" sobre as vítimas "é uma ingenuidade", escreveu na terça-feira em sua conta no Twitter Iván Márquez, negociador chefe da guerrilha.

Joaquín Gómez, por sua vez, esclareceu que as Farc continuarão trabalhando para chegar a um acordo mesmo sendo impossível concretizá-lo nesta data.

"Temos feito um grande esforço e vamos continuar fazendo, mas são coisas que saem das nossas mãos", disse.

As Farc e o governo fecharam parcialmente quatro dos seis pontos acordados na negociação: a questão agrária, o cultivo e o tráfico de drogas ilícitas, e a participação política dos guerrilheiros assim que as armas forem depostas.

Resta definir o fim do confronto - que inclui o desarmamento da guerrilha - e a implementação e referendamento dos convênios.

Para Santos e a guerrilha, o tema mais espinhoso ficou praticamente resolvido com o acordo de dezembro, que prevê a reparação das vítimas e a punição dos responsáveis por crimes atrozes durante o conflito, incluindo agentes do Estado.

Entretanto, as Farc aproveitaram a retomada dos diálogos para voltar a criticar o governo pelos "atrasos" que impediram a libertação de 30 guerrilheiros indultados por Santos em 22 de novembro, segundo Joaquín Gómez.

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