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Suicídio ou homicídio. A dúvida permanece na Argentina um ano depois da morte do ex-procurador Alberto Nisman, que investigou o atentado, em 1994, contra a associação judaica AMIA, para quem velas serão acesas nesta segunda-feira (18) em um apelo por justiça.
'Velas por Nisman' diz a convocação para acender uma luminária na praça Alemanha, em Buenos Aires, um ato impulsionado pela comunidade judaica argentina que, com 300.000 pessoas, é a maior da América Latina. Sua liderança considera o esclarecimento da morte do procurador uma dívida da justiça.
Na véspera do aniversário da morte de Nisman, o presidente Mauricio Macri recebeu as duas filhas de Nisman, Iara e Kala, em uma residência privada de descanso, nos arredores da capital, e a elas manifestou a intenção de "fazer justiça com a memória de seu pai".
"O chefe de Estado considera uma 'dívida pendente' com a família do falecido o reconhecimento ao trabalho que executou à frente da Unidade Fiscal AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina)", destacou a Presidência em um comunicado após o encontro.
A morte do procurador que investigou por mais de uma década o atentado contra a AMIA, que deixou 85 mortos e 300 feridos em 1994, em Buenos Aires, se transformou em 2015, ano eleitoral, em símbolo e bandeira da então oposição argentina.
No dia seguinte à sua morte, o procurador devia ampliar perante o Congresso uma denúncia contra a então presidente Cristina Kirchner (2007/2015), a quem acusava de acobertar ex-altos funcionários iranianos apontados pela justiça argentina como mentores do atentado contra a AMIA.
A denúncia foi logo repudiada em várias instâncias judiciais por "inexistência de crime".
VERDADE INCERTA
"Espero que se possa chegar à verdade sobre a morte do meu pai, para além do temor que provocou nas pessoas", escreveu no domingo Iara, a filha de 16 anos, convencida de que se tratou de um assassinato.
Várias passeatas pedindo justiça, algumas multitudinárias, foram celebradas no ano passado, convocadas por promotores e uma parte do poder judiciário que sustenta a teoria de homicídio.
Outro setor de pares se declarou convencido de seu suicídio, enquanto familiares das vítimas da AMIA criticaram duramente o trabalho do procurador.
A investigação judicial sobre a morte ainda não chegou a uma resposta definitiva.
As perícias da procuradoria parecem fazer a balança pender para a tese do suicídio, enquanto as da acusação buscam justificar a tese de homicídio.
"Esta segunda-feira é um dia especial para toda a sociedade argentina. Completa-se um ano do dia em que morria um procurador da Nação em circunstâncias estranhas e até hoje não sabemos com certeza o que aconteceu", declarou o presidente da AMIA, Ralph Saieg, após pedir união no apelo por justiça.
Nisman apareceu morto com um tiro na cabeça em 18 de janeiro de 2015 no banheiro de seu apartamento, localizado no exclusivo bairro de Puerto Madero.
Ao lado do corpo foi encontrada uma pistola Bersa calibre 22, de onde saiu o tiro, e que o procurador tinha pedido para proteger suas filhas, segundo declarações do assessor de informática Diego Lagomarsino, colaborador da procuradoria, o único processado por emprestar uma arma a Nisman.
"Se olhar o litígio, (...) tudo indica que Nisman estava sozinho quando morreu. (...) Agora, a gente começa a ouvir coisas de fora e isso fica em dúvida. Fica em dúvida na mente, não no factível", declarou Lagomarsino ao portal Diez Sudacas.
O técnico de informática se considerava amigo de Nisman, ao ponto de ser um dos cotitulares, juntamente com a mãe e a irmã do procurador, de uma conta não declarada em Nova York da qual Nisman era procurador.
"Sinceramente não sei se conhecia Alberto (Nisman). Conheci uma parte, talvez a que ele mostrava", afirmou.
NISMA, AMIA, IRÃ
"Nisman era a pessoa que mais conhecia o caso AMIA, entendemos que certamente sua morte está relacionada com o atentado", disse à AFP Ariel Cohen Sabban, que revelou ter se encontrado com ele 72 horas antes de sua morte.
O procurador tinha sido convidado a falar ao Congresso sobre sua denúncia contra Kirchner a pedido das então deputadas opositoras Patricia Bullrich e Laura Alonso, hoje ministra da Segurança e titular do Departamento Anticorrupção, respectivamente.
A investigação lançou luz também a uma trama dos serviços de inteligência, encabeçada pelo ex-chefe dos serviços de inteligência Antonio 'Jaime' Stiuso, demitido em 2014 após 40 anos no cargo.
Stiuso foi quem deu a informação chave para a acusação que Nisman fez em 2006 contra ex-governantes iranianos, uma causa que permanece sem detidos 21 anos depois.