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A oposição síria decidiu nesta sexta-feira (29) depois de quatro dias de debates intensos, ir a Genebra para assistir as negociações de paz sob a égide da ONU para tentar por um fim à tragédia naquele país.
Embora oficialmente não vá manter contato com o regime do presidente Bashar al Assad, nas apenas com a ONU, o Alto Comitê de Negociações (ACN) anunciou em Riad que enviará "entre 30 e 35 pessoas" a Genebra, explicou à AFP um de seus representantes.
"A ACN confirma que vai participar de conversações com a ONU, não para negociar", explicou o principal grupo opositor mediante um tuíte.
Delegados do governo sírio já se reuniram na cidade suíça com o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.
"Tenho boas razões para acreditar que (as partes) contemplam muito seriamente iniciar as negociações, talvez no domingo", indicou de Mistura.
O secretário de Estado americano, John Kerry, saudou a decisão do grupo de participar das conversações.
"Os Estados Unidos saúda a importante decisão do Alto Comitê de Negociações da oposição síria para participar de negociações auspiciadas pelas Nações Unidas em Genebra", destacou Kerry em um comunicado.
A ACN foi criada em dezembro em Riad. Até agora recusava-se a negociar diante da continuidade dos bombardeios contra civis. Mas foram obtidas "garantias de parte das Nações Unidas e de outros atores", declarou Farah Atassi, uma opositora próxima ao comitê em coletiva de imprensa em Genebra.
A Arábia Saudita, que apoia o grupo, "saudou" a decisão de viajar, destacou um comunicado oficial.
Desafio histórico, poucas esperanças
Os representantes da ONU se reuniram com a delegação de 16 membros governamentais, chefiada pelo embaixador sírio na ONU Bashar al Jaafari, nas últimas horas da tarde de sexta-feira em uma grande mesa retangular.
O enviado especial e o embaixador sírio na ONU estavam sentados um diante do outro. constatou a AFP.
na saída, houve declarações da parte síria, enquanto o enviado das Nações Unidas qualificou a reunião "preparatória".
Manifestantes na saída do edifício protestaram contra a presença dos delegados do regime. "Al Assad, Al Qaeda, mesmos métodos, mesmo combate", gritaram.
Está previsto que estas negociações inter-sírias, que buscam por um fim a uma guerra que deixou mais de 260 mil mortos e milhões de refugiados desde março de 2011, durem seis meses.
Segundo Bettina Luescher, porta-voz do Programa Mundial de Alimentos (PMA), 18 regiões na Síria estão situadas e mais de 4,6 milhões de pessoas têm pouco ou nenhum acesso à ajuda humanitária.
"O PMA pede que todos os atores e organizações humanitárias tenham acesso a estas zonas para entregar ajuda de urgência, comida, água e medicamentos", disse à imprensa de Genebra.
Negociações indiretas
As negociações serão indiretas. As partes ficarão em salas separadas e os emissários irão de uma para a outra, levando as propostas.
Outra interrogação é o tema da representação dos curdos. O PYD, principal partido curdo, não foi convidado para as negociações, para contrariedade de Moscou.
O PYD sírio - ao qual a Turquia considera um braço do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), o inimigo número um de Ancara - luta no terreno contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI), mas opositores sírios o acusam de complacência com o regime de Damasco.
"O importante é que as negociações comecem com os que estiverem aqui", avaliou Randa Kassis, uma opositora laica que faz parte dos convidados em título pessoal.
As negociações se baseiam na resolução 2254 votada em dezembro na ONU. Prevê um cessar-fogo, um governo de transição nos próximos seis meses e eleições em 18. A oposição exige que Assad saia do poder quando começar o período de transição.
O Irã, um dos principais atores do conflito sírio, que apoia o regime de Damasco, duvida que seja possível encontrar uma solução política rapidamente.
"Ficaria surpreso que (as negociações) terminem logo, pois na Síria há grupos em guerra contra o governo, mas também entre eles. Há ingerência nos assuntos internos sírios", disse o presidente iraniano, Hassan Rohani, a meios de comunicação franceses.