No Magdalena, principal rio da Colômbia, a multiplicação dos peixes sempre foi realidade nos primeiros meses do ano - mas neste 2016, com a seca causada pelo fenômeno climático El Niño, só chegou lama.
Com os peixes, vinham os pães e o trabalho do primeiro trimestre, dando aos pescadores meios de sobreviver durante todo o ano. "Nos armazéns conseguíamos comprar fiado, porque sabiam que certamente teríamos renda depois", contou à AFP Juan Carlos Diaz, de 48 anos, falando sobre a temporada anual de migração dos peixes.
"As pessoas ficaram sem recursos para recuperar os penhores, sem pagar dívidas... não há dinheiro para isso, nem para os impostos", afirmou Hugo Granados, 67.
Ambos estão em uma doca de Honda (Tolima, centro), uma vila de pescadores de cerca de 26.000 habitantes no Vale do Magdalena Médio, cercado por montanhas. Estavam acostumados com o fluxo de pessoas de todo o país que chegavam para pescar. Mas agora isso mudou: "não tem mais nada", repetem.
Bocachicos, peixe-gato ou nicuros chegavam aos milhões e se acumulavam entre Honda e La Dorada (Caldas, centro), cerca de 30 km ao norte. "A gente colocava uma rede e saía com um cesto cheio de peixe-gato", lembra Alfredo Moreno, de 54 anos, outro pescador sem peixe.
Um bagre de bom tamanho chegou a valer 200 pesos (0,06 dólares). Hoje, não baixam dos 80.000 pesos (24 dólares). Mas a maioria é muito pequena.
O aumento de 10,85% nos preços dos alimentos em 2015 é outra consequência da seca que a Colômbia sofre há meses. Em particular, os produtos agrícolas tiveram um aumento de preços pelos estragos que a escassez de água tem causado na agricultura.
Com uma média de 60 centímetros de profundidade, o ponto mais seco do Magdalena está em Honda, onde ultrapassava os 2,5 metros, de acordo com dados oficiais. Hoje, a maior via fluvial da Colômbia desliza com um terço do seu volume e mantém apenas 10% do seu potencial de pesca, de acordo com as associações de pescadores.
O fenômeno El Niño, agravado pelas alterações climáticas, levou a uma seca severa na Colômbia e tem sido classificado como "forte" pelo governo. Mas não é o único mal que assola o rio Magdalena, onde barcos a vapor vinham do Caribe para o Centro-Oeste, fonte inesgotável de recursos e uma fonte de orgulho.
Agora, diante de suas margens secas e previsões de chuvas em abril e maio que não passam da metade do habitual para esses meses, os pescadores listam suas preocupações.
"Isso vai de mal a pior", disse à AFP o ambientalista Luis Eduardo Hincapie, que vê o rio "derrotado" pelos resíduos industriais.
"Os nossos pântanos de produção de peixes estão cheias de produtos químicos e resíduos tóxicos, incluindo plásticos", explica. Com o desmatamento das margens dos afluentes tornou-se mais difícil manter a umidade e os riachos e córregos que alimentavam o rio estão "completamente secos", acrescenta.
Há uma dúzia de departamentos que despejam seu esgoto no Magdalena, disse Hincapie. O verde brilhante da área circundante virou ligeiramente verde ou marrom. "Foi o orgulho nacional. Agora, é o esgoto do país", lamenta.