SÍRIA

Rússia anuncia disposição de falar sobre cessar-fogo na Síria

''Estamos preparados para falar das modalidades de um cessar-fogo'', disse o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Gennady Gatilov

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Publicado em 11/02/2016 às 11:19
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''Estamos preparados para falar das modalidades de um cessar-fogo'', disse o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Gennady Gatilov - FOTO: Foto: AFP
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A Rússia anunciou nesta quinta-feira que tem uma proposta "concreta" de cessar-fogo na Síria, algo que os Estados Unidos esperam alcançar "o quanto antes", enquanto se realiza uma reunião internacional sobre o conflito inter-sírio em Munique, Alemanha.

"Fizemos propostas de um cessar-fogo que são totalmente concretas", declarou o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, ao início de um encontro com o colega americano, John Kerry, na capital bávara.

"Esperamos a resposta americana antes de apresentá-la ao ISSG", Grupo Internacional de Apoio à Síria, que reunirá os principais atores da crise, entre eles Irã, Arábia Saudita e Turquia - às 18h00 locais (15h00 de Brasília), acrescentou Lavrov.

O secretário de Estado americano, John Kerry, não fez qualquer comentário sobre a posição americana. "Queremos avançar sobre as questões do acesso humanitário e do cessar-fogo", limitou-se a comentar.

Mas em Washington, um diplomata americano disse à AFP nesta quinta-feira que os Estados Unidos querem um "cessar-fogo imediato" na Síria e que esperam alcançá-lo "o quanto antes".

"Os Estados Unidos continuam pressionando por um cessar-fogo imediato. Continuaremos com nosso trabalho por diversos canais para alcançar isto o quanto antes", respondeu uma autoridade do Departamento de Estado ao reiterar a posição americana.

As negociações para por um fim a este conflito que deixou 260 mil mortos desde 2011 foram rompidas no começo do mês em Genebra, em meio a acusações dos países ocidentais e da oposição de que a Rússia bombardeia grupos opositores e civis em Aleppo.

Além disso, desde 1º de fevereiro o regime de Bashar al-Assad, apoiado por Moscou, executa uma violenta ofensiva contra os rebeldes de Aleppo (norte). Segundo a ONU, mais de 51 mil civis se deslocaram nesta província depois deste ataque.

Esta ofensiva, que deixou até o momento 500 mortos, provocou a interrupção das conversações de Genebra, cuja retomada, prevista para 25 de fevereiro, é muito incerta.

Ao mesmo tempo, em Bruxelas, os ministros da Defesa da coalizão militar, liderada pelos Estados Unidos, se reúnem também nesta quinta-feira para reforçar a luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) que, segundo Washington, se aproveita do avanço do regime sírio ante os rebeldes mais moderados.

 

EUA pede suspensão dos bombardeios

Washington pediu aos russos a interrupção dos bombardeios que "matam mulheres e crianças em grande número", obrigando por sua vez milhares de civis a fugir de Aleppo.

A Rússia reafirmou a intenção de continuar com os "legítimos" ataques contra "terroristas", mas prometeu propor "novas ideias" em Munique para avançar a um cessar-fogo.

As negociações na Alemanha abordarão especialmente um acesso humanitário às cidades cercadas pelas forças pró-governo, especialmente Aleppo, onde os rebeldes estão retidos nos bairros da zona leste com 350.000 civis.

Os países ocidentais acusam Moscou de ter torpedeado, com os bombardeios em Aleppo, as negociações entre o regime de Bashar al-Assad e a oposição síria.

Para Joseph Bahout, da Fundação Carnegie em Washington, os participantes na reunião "deve chegar a um acordo de cessar-fogo que não será aplicado, já que os russos continuarão bombardeando os 'terroristas'".

Os ocidentais estão quase impotentes, a menos que se arrisquem a uma oposição frontal aos russos, que ganham tempo nos campos militar e diplomático.

"Para a Rússia, o que está em jogo na guerra da Síria é muito mais que Assad. O objetivo do presidente (Vladimir) Putin é desestabilizar e debilitar o Ocidente", afirma Koert Debeuf, pesquisador da Universidade de Oxford, citado pelo centro de estudos Carnegie Europa.

Por outro lado, as tensões são evidentes entre os Estados Unidos e alguns de seus aliados, que veem Washington disposto a fazer concessões demais antes do fim do mandato de Barack Obama.

Antes de deixar o cargo, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, destacou a "ambiguidade" americana. "Há palavras, mas as ações são outra coisa (...) Os russos e os iranianos o notam", assegurou.

A Turquia, preocupada pelo avanço dos curdos no norte da Síria, enfrenta ainda a onda de refugiados, aos quais impede de entrar em seu território apesar da insistência dos países ocidentais.

O presidente conservador-islâmico turco, Recep Tayyip Erdogan, denunciou as pressões internacionais para que abra suas fronteiras aos milhares de refugiados sírios que fogem dos combates em Aleppo e insinuou que poderá enviá-los a outros países.

Já o premiê turco, Ahmet Davutoglu, tinha dito que considerava "hipócrita que alguns digam para a Turquia que 'abra suas fronteiras' quando dizem à Rússia 'basta'" com seus bombardeios.

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