A rota dos Bálcãs ficou fechada nesta quarta-feira depois que a Eslovênia decidiu não deixar mais refugiados passarem por seu território, uma medida destinada a desanimar os novos migrantes, mas que aumenta o risco de explosão de uma crise humanitária na Grécia.
"A rota (dos Bálcãs) para a imigração clandestina já não existe", declarou o primeiro-ministro esloveno, Miro Cerar, depois que seu país começou a aplicar na terça-feira (8) à noite as restrições fronteiriças aos migrantes ilegais.
Croácia, Sérvia e Macedônia passaram a proibir a entrada de todo migrante a partir da Grécia desde segunda.
No caso da Sérvia, entre 1.500 e 2.000 migrantes ficaram bloqueados. Enquanto a vizinha Hungria enviou reforços policiais a sua fronteira.
Agora, salvo exceções humanitárias, só poderão entrar na Eslovênia os refugiados que quiserem solicitar o asilo neste país, o que representa uma ínfima minoria entre as 850.000 pessoas que chegaram no ano passado às ilhas gregas, que se converteram na porta de entrada à Europa.
Os países da União Europeia (UE) não quiseram decretar oficialmente na segunda-feira em Bruxelas o fechamento desta rota, onde foi criado um corredor humanitário por onde passam há vários meses os migrantes que buscam chegar ao norte da Europa.
A decisão da Eslovênia aumenta um pouco mais a pressão sobre a UE e a Turquia para finalizar um acordo que busca encontrar uma solução para esta crise.
Com este acordo, criticado por ONGs e alguns países europeus, a Turquia aceitaria a readmissão em seu território de todos os migrantes que chegarem ilegalmente à costa grega, incluindo os solicitantes de asilo sírios. Em troca, a UE se compromete a levar a partir da Turquia um número de refugiados sírios equivalente ao de migrantes expulsos desta origem.
O governo austríaco aplaudiu a decisão eslovena, que - disse - desencorajará os migrantes.
"É eliminado o incentivo para que as pessoas busquem chegar à Europa", estimou o ministro austríaco de Relações Exteriores, Sebastian Kurz.
Grécia sob pressão
O fechamento da rota dos Bálcãs aumenta o risco de explosão de uma crise humanitária na Grécia, onde mais de 36.000 migrantes se encontram bloqueados. Cerca de 13.000 seguem bloqueados em Idomeni, na fronteira com a Macedônia, em condições sub-humanas.
"A Grécia está sob pressão", admitiu o primeiro-ministro esloveno, Miro Cerar. "Até agora não cumpriu com seus compromissos. Agora, a Grécia deve se mover, e todos vamos ajudá-la", afirmou.
A União Europeia ofereceu na semana passada 700 milhões de euros de ajuda humanitária aos seus países membros que enfrentam a chegada em massa de migrantes, entre eles a Grécia.
As autoridades gregas buscarão agora "convencer os refugiados bloqueados em seu território a irem temporariamente a centros de acolhida", indicou à AFP uma fonte governamental.
Atenas, que receberá uma ajuda financeira da UE, decidiu contratar 5.000 pessoas para trabalhar nos centros de acolhimento.
Os líderes europeus devem analisar e finalizar o plano de ação com a Tuquia, com o qual esperam mudar a situação atual até a realização de uma cúpula nos dia 17 e 18 de março em Bruxelas.
O acordo inclui aumentar de 3 a 6 bilhões de euros a ajuda prometida pela UE à Turquia para que receba os refugiados em seu território.
Nesta quarta, os eurodeputados criticaram o projeto de acordo, acusando os líderes da UE de cederem "à chantagem de Ancara".
"Vemos acusações injustas contra a Turquia (...) É como se o dinheiro fosse doado, como se fosse mendicância", reagiu o chanceler turco, Mevlüt Cavusoglu.
Os dias da imigração irregular à Europa terminaram, disse o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que estima que ocorreram importantes progressos.
Otimismo que não é compartilhado pelo Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grande, que se declarou profundamente preocupado pelo acordo esboçado entre Ancara e a UE.