SÍRIA

Rússia começa a retirar seus aviões de combate da Síria

Os jihadistas da Frente al-Nusra falaram de ''derrota'' russsa e anunciaram que vão lançar uma ofensiva neste país nas próximas 48 horas

Da AFP
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Da AFP
Publicado em 15/03/2016 às 12:33
Foto: VADIM GRISHANKIN / RUSSIAN DEFENCE MINISTRY / AFP
Os jihadistas da Frente al-Nusra falaram de ''derrota'' russsa e anunciaram que vão lançar uma ofensiva neste país nas próximas 48 horas - FOTO: Foto: VADIM GRISHANKIN / RUSSIAN DEFENCE MINISTRY / AFP
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Os aviões de combate russos começaram a se retirar nesta terça-feira da Síria, poucas horas depois do anúncio de Vladimir Putin, que os ocidentais esperam que contribua para o avanço das negociações de paz em Genebra.

Os pilotos foram recebidos na base militar de Voronezh, no sudeste da Rússia, por uma multidão que agitava bandeiras russas e trazia flores e balões coloridos.

Antes de pouso, os pilotos fizeram uma exibição aérea, segundo imagens da TV russa.

O inesperado anúncio do presidente Putin de tirar do país a maior parte de seu contingente militar pegou todos de surpresa, num momento em que a guerra na Síria entra em seu sexto ano.

Os jihadistas da Frente al-Nusra, o ramo sírio da Al-Qaeda, falaram de "derrota" russsa e anunciaram que vão lançar uma ofensiva neste país nas próximas 48 horas.

O secretário americano de Estado, John Kerry, anunciou por sua parte que se reunirá na próxima semana com Putin. 

Kerry não revelou a data da visita, mas seu porta-voz, John Kirby, assinalou que pode ocorrer na próxima terça-feira, assim que o secretário de Estado voltar da viagem que fará com o presidente Barack Obama a Cuba.

Em Genebra, o enviado especial da ONU para a Síria, Stafan de Mistura, considerou que a retirada parcial russa da Síria é um "acontecimento significativo", que espera que tenha um "impacto positivo" nas negociações de paz em Genebra.

"Este anúncio pelo presidente (Putin) no mesmo dia do início das negociações inter-sírias, é um acontecimento significativo, que esperamos que tenha um impacto positivo nestas negociações em Genebra para alcançar uma solução política ao conflito sírio", disse De Mistura.

Os militares russos na Síria começaram a recolher os equipamentos e o material em grandes aviões de transporte.

Um primeiro grupo de aeronaves, incluindo aviões de transporte T-154 e bombardeiros Su-34, decolou da base aérea de Hmeimin (noroeste) em direção à Rússia, indicou o ministério da Defesa.

No entanto, o chefe da administração presidencial russa, Sergei Ivanov, advertiu que esta retirada não se aplica aos sistemas de defesa aérea mais modernos implantados na Síria, sem confirmar se tratar das baterias anti-mísseis S-400.

"Manteremos uma proteção eficaz para a parte do contingente que permanecerá na Síria, principalmente os meios de proteção em terra, mar e ar", disse Ivanov, citado por agências de notícias russas.

"Para garantir a segurança, incluindo aérea, precisamos da tecnologia mais moderna", acrescentou.

Além disso, o vice-ministro da Defesa russo advertiu que seu país irá continuar a bombardear "alvos terroristas" na Síria. "Ainda é muito cedo para falar de vitória sobre o terrorismo. A missão da força aérea russa é continuar a atingir alvos terroristas", garantiu Nikolai Pankov da base aérea russa Hmeimim, no noroeste da Síria.


Reações positivas

Tanto o Conselho de Segurança da ONU como o Irã, através de seu ministro das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, consideraram positivo o anúncio do Kremlin.

A Casa Branca, por sua vez, indicou que Putin e Barack Obama falaram por telefone sobre a "retirada parcial" das forças russas, embora segundo Josh Earnest, um porta-voz do presidente americano, seja difícil medir o impacto deste anúncio sobre as negociações.

A França também saudou nesta terça a decisão russa, chamando-a de "evolução positiva". "Tudo o que possa contribuir para a desescalada na Síria deve ser aclamado", declarou um porta-voz da chancelaria francesa.

Desde 30 de setembro, mais de 50 aviões de combate russos atacaram alvos terroristas e permitiram que o exército do regime, em dificuldades, conquistasse importantes vitórias. No entanto, os ocidentais acusam a Rússia de atacar mais os rebeldes moderados que os jihadistas do Estado Islâmico (EI).

Em Nova York, o embaixador russo na ONU, Vitali Churkin, disse ter recebido instruções de "intensificar os esforços para chegar a uma solução política na Síria".

E em Genebra, onde estão sendo realizadas negociações indiretas entre as partes em conflito, a oposição síria acolheu a decisão russa com prudência.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse que a retirada da Rússia "aumenta a pressão sobre o regime do presidente Assad para negociar por fim de maneira séria em Genebra a transição política".

O anúncio de Putin chega poucas horas após o início em Genebra de um novo ciclo de negociações entre os representantes do regime e a fragmentada oposição síria, nas quais a questão central continua sendo o futuro de Bashar al-Assad.

O conflito sírio, que começou em 15 de março de 2011, com protestos pacíficos reprimidos violentamente, tornou-se uma complexa guerra com um grande número de atores locais e internacionais envolvidos.

Desde então, mais de 270.000 pessoas morreram e milhões fugiram de suas casas, provocando, por extensão, uma crise migratória na União Europeia.

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