O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi finalmente recebido na quinta-feira (31) por seu colega americano, Barack Obama, em Washington, durante uma visita repleta de tensões envolvendo a Síria e a questão curda, que provocou cenas de violência entre sua escolta e a imprensa.
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A Casa Branca anunciou que o presidente Obama havia se reunido na noite de quinta-feira (31) com Erdogan à margem da cúpula sobre segurança nuclear, uma reunião que não estava programada, o que foi considerado uma afronta ao presidente turco num momento em que Washington e Ancara divergem sobre a crise síria e o tema dos direitos humanos na Turquia, em particular pela liberdade de imprensa.
Segundo um comunicado da Casa Branca, Obama e Erdogan conversaram sobre "a cooperação entre Estados Unidos e Turquia em matéria de segurança regional, contraterrorismo e migrações".
O discurso de Erdogan mais cedo no centro de reflexão Brookings em Washington foi precedido por confrontos entre os serviços de segurança turcos e jornalistas e manifestantes - alguns dos quais carregavam cartazes a favor dos combatentes curdos sírios - que trocaram socos e insultos antes da intervenção da polícia.
Um integrante da escolta do presidente turco agrediu um jornalista americano que tentava filmar os incidentes. Outro chamou uma cientista política de "puta do PKK", o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, proibido por Ancara. E outros tentaram impedir que dois jornalistas turcos entrassem no edifício da Brookings Institution, mas membros da fundação conseguiram fazer com que ingressassem no local após um tenso embate com os funcionários turcos.
Fora do edifício, militantes pró-curdos gritavam "Erdogan fascista!" e "Erdogan, assassino de crianças!".Unidade para combater o terrorismo
O Clube Nacional da Imprensa americana, uma grande organização de jornalistas, protestou vivamente pelos incidentes. "O presidente turco e sua equipe de segurança são convidados dos Estados Unidos", declarou Thomas Burr, presidente da organização em um comunicado. "Não têm o direito de agredir jornalistas e manifestantes", afirmou.
"Erdogan não pode exportar" as violações de direitos humanos e de expressão que ocorrem na Turquia, acrescentou.
Imperturbável após estes confrontos, o presidente turco defendeu em um discurso muito firme as ações de seu governo contra meios de comunicação turcos, apesar das críticas internacionais, e sua luta contra o separatismo curdo, após um novo atentado.
Em referência ao caso de 52 "autoproclamados jornalistas detidos", afirmou que estas pessoas "já haviam sido condenadas por atos terroristas e (por) terem estado envolvidas em organizações terroristas".
"Não há nas prisões turcas jornalistas condenados por (exercer) sua profissão". Seu direito de expressão também não foi violado, afirmou.
Por outro lado, Erdogan convocou a comunidade internacional a apoiar a política de seu governo contra os separatistas curdos após um atentado com carro-bomba que deixou sete policiais turcos mortos na quinta-feira em Diyarbakir, a maior cidade do sudeste do país de maioria curda, um ataque atribuído a separatistas curdos.
"Não podemos tolerar isso", disse Erdogan. "Espero que os países europeus e os demais países vejam o autêntico rosto (do terrorismo) por trás destes atentados", declarou.
Erdogan estimou que o mundo inteiro deveria se reunir para combater o terrorismo, e disse que os terroristas curdos são tão perigosos quanto os combatentes do grupo Estado Islâmico.A coalizão internacional contra o EI, liderada pelos Estados Unidos na Síria, apoia as Unidades de Proteção do Povo (YPG) - braço armado do principal partido curdo na Síria, o Partido da União Democrática (PYD) - em sua luta contra a organização jihadista.
Mas a Turquia considera que as YPG são aliadas do PKK. O Ocidente não deve considerar que há "terroristas bons" porque combatem os jihadistas do EI, declarou Erdogan.