Cuba nunca seguirá "fórmulas de privatização", nem aplicará "terapias de choque" no processo de atualização de seu modelo econômico, assegurou neste sábado o presidente Raúl Castro na abertura do Sétimo Congresso do Partido Comunista Cubano.
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"Cuba jamais pode se permitir a aplicação das chamadas terapias de choque, frequentemente aplicadas em detrimento das classes mais humildes da sociedade", afirmou Castro diante de milhares de delegados do partido, órgão máximo decisório.
No poder desde 2008, Raúl iniciou um processo gradativo de flexibilização de sua economia de corte soviético, através de uma cautelosa abertura ao trabalho privado e aos investimentos estrangeiros.
Distanciado do tom de renovação que marcou sua aproximação com os Estados Unidos, Raúl Castro, de 84 anos, justificou o ritmo lento das reformas internas, aludindo ao compromisso assumido há cinquenta anos pela revolução de proteger os cubanos, que tem uma população de 11,1 milhões de habitantes.
"Esta premissa, que corresponde ao princípio de que ninguém ficará desamparado, condiciona em grande medida a velocidade da atuação do modelo econômico cubano, no qual é inegável a influência da crise econômica internacional e, em particular, os efeitos de bloqueio contra Cuba", afirmou Castro em discurso transmitido pela televisão cubana.
Raúl Castro, de 84 anos, abriu o que deveria ser seu último congresso do Partido Comunista de Cuba como chefe de Estado, pois deixará o cargo em 2018, segundo o próprio confirmou neste dia.
No entanto, assim como seu irmão, Fidel - perto de completar 90 anos e que lhe transmitiu o poder devido a problemas de saúde -, poderia seguir influenciando as decisões dentro do sistema de partido único que governa Cuba.
O chefe de Estado voltou a insistir no peso que representa para a ilha o embargo vigente desde 1962 e que permanece ativo, apesar da reconciliação política com Washington e da suspensão de algumas restrições de parte do presidente Barack Obama.
No entanto, assegurou que "as fórmulas neoliberais que amparam a privatização acelerada do patrimônio estatal e dos serviços sociais, como a educação, a saúde e a seguridade social, nunca serão aplicadas no socialismo cubano".
As decisões na economia - enfatizou - "não podem em nenhum caso significar uma ruptura com os ideais de igualdade e justiça da revolução".
A economia estatal, prosseguiu, "continuará sendo a forma principal da economia nacional e do sistema socioeconômico" e que "a empresa privada atuará em limites bem definidos e constituirá um elemento complementar do tecido econômico do país, todo o qual deverá ser regulamentado pela lei".
O desafio geracional
Apesar da nova era de relações com os Estados Unidos, muitos cubanos dão por fato que deste Congresso - de transição, segundo Raúl Castro - não sairão grandes anúncios.
Os cubanos mais velhos e próximos da gênese revolucionária de 1959, quando os irmãos Castro chegaram ao poder, apenas esperam novo alívio para a situação econômica.
Esta reunião "trará boas perspectivas para o desenvolvimento do país, minha economia avançará e meu estado social avançará", afirmou Roberto Díaz, 78 anos, funcionário do Escritório do Historiador, responsável pela conservação da parte antiga de Havana.
Mas entre os jovens, a posição é muito mais cética.
"Pode melhorar para mim? Não acredito, o mais provável (...) é que vá ficar igual. Realmente penso que todo mundo tem baixa expectativa em praticamente qualquer coisa; nos acostumaram muito a não ter expectativa de nada", desabafou Leonardo Gamboa, um caricaturista de 20 anos.
O analista Arturo López-Levy, cientista político da Universidade do Texas do Rio Grande Valley, acredita justamente que o desafio do PCC é dar uma resposta a "um grupo importante da população", que "já virou a página da era revolucionária".
"Se o PCC quer seduzir estes setores a adotar suas metas, terá que fabricar um novo consenso. No econômico, este desafio implica construir uma economia que dê maiores recursos para promover seus interesses cada vez mais pluralizados", escreveu o especialista em um artigo divulgado em meios de comunicação.
Durante seu discurso, Castro admitiu como o "obstáculo fundamental" no chamado processo de "atualização do modelo" o "lastro da mentalidade obsoleta que conforma uma atitude de inércia ou de ausência de confiança no futuro".
"Não faltaram, como era lógico esperar, sentimentos de nostalgia com momentos menos complexos do processo revolucionário, quando existia a União Soviética", sustentou.
O Congresso deve eleger um novo Comitê Central (atualmente tem 116 membros) e o seleto Birô Político (14). Raúl Castro pode ser reeleito primeiro-secretário por um segundo e último mandato de cinco anos.