Perto de completar o prazo decisivo de três dias para encontrar sob os escombros sobreviventes do forte terremoto que deixou 480 mortos no Equador, bombeiros e equipes de resgate prosseguem nessa terça-feira (19) com os trabalhos para tentar detectar sinais de vida nas ruas devastadas.
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Pelo menos 480 mortos, 4.605 feridos e 1.700 desaparecidos é o novo balanço do poderoso terremoto que atingiu no último sábado a costa equatoriana, segundo informou nesta terça-feira Diego Fuentes, vice-ministro do Interior.
"Nós temos 2.000 registros de pessoas que estão sendo procuradas, mas já encontramos 300", acrescentou.
Fuentes explicou que o ministério criou uma plataforma para que as pessoas "que tiverem uma necessidade de busca possam gerar um registro" para que as autoridades tentem localizá-las.
O presidente equatoriano, Rafael Correa, disse à AFP durante uma inspeção em Manta - onde entregou água e alimentos aos atingidos e procurou tranquilizar a população - que a reconstrução exigirá de dois a três anos.
"Está muito duro, mas estamos seguindo em frente", desabafou Correa, que com um megafone na mão pediu à população "um pouco de paciência". "Em 25 minutos chegarão mais víveres".
Correa revelou que "600 milhões de dólares já estão alocados para atender esta emergência", mas advertiu que a reconstrução "exigirá dois, três anos, e custará muito mais".
"As perdas são multimilionárias. Calculo a grosso modo 2, 3 bilhões de dólares, algo em torno de dois ou três pontos do Produto Interno Bruto (PIB)".
Em meio a esta grande tragédia, o presidente americano, Barack Obama, prometeu ao contraparte equatoriano, Rafael Correa, ajuda humanitária.
Segundo a Presidência americana, Obama telefonou para Correa "para expressar suas condolências e as dos americanos diante da perda de vidas" devido ao sismo.
Na conversa, Obama "assegurou ao presidente Correa que os Estados Unidos farão tudo o que puderem para oferecer apoio à reconstrução do Equador. O presidente Correa agradeceu aos americanos por sua assistência neste momento difícil", informou a Casa Branca em nota.
Pouco antes, o porta-voz da chancelaria americana, John Kirby, informou que o secretário de Estado, John Kerry, havia telefonado para o colega equatoriano, Guillaume Long, para reiterar a oferta de ajuda humanitária.
Segundo Kirby, durante a conversa, Kerry "reiterou o compromisso do povo americano em apoiar os cidadãos equatorianos neste momento tão, tão difícil".
Neste diálogo, os dois diplomatas também comentaram a chegada ao Equador de uma equipe da Agência Americana de ajuda para o Desenvolvimento Internacional (USAID) para participar "da distribuição de ajuda de emergência às populações afetadas pelo terremoto".
Correa determinou o fim das atividades da USAID no Equador em dezembro de 2013, após acusar a agência de financiar a oposição.
Nos locais afetados pelo tremor, familiares dos desaparecidos, impacientes e cansados, mas ainda com esperança, acompanham os tarefas de resgate do que o presidente Rafael Correa chamou de "pior tragédia em 67 anos".
No balneário turístico de Pedernales (oeste), epicentro do terremoto de 7,8 graus de magnitude, registrado no sábado às 18H58 (20H58 de Brasília), e que também deixou mais de 2.000 feridos na costa equatoriana e cidades destruídas, a esperança persiste, apesar do número de vítimas aumentar a cada dia.
Diante da montanha de escombros onde antes era o hotel Royal, um complexo de cinco andares com piscina, Laura Taco observa os trabalhos dos bombeiros e espera alguma notícia milagrosa sobre sua sobrinha e sua cunhada.
"Não entraram em contato e temos certeza de que estão aqui, porque o carro está na parte de trás, no estacionamento do que era o hotel Royal", disse à AFP.
As histórias de resgates de sucesso 48 horas depois do tremor e o trabalho incansável dos bombeiros, policiais, militares e cães farejadores, assim como voluntários de outros países, mantêm a esperança dos parentes.
Na segunda-feira, uma pessoa foi resgatada com vida dos escombros na cidade de Portoviejo, no local em que ficava o hotel 'El Gato'.
Na mesma cidade do estado de Manabí (oeste, o mais afetado), o centro devastado, com edifícios que desabaram e ruas repletas de postes sobre o asfalto, foi abandonado e conta apenas com a presença das forças de segurança para evitar saques.
O terremoto, de mais de um minuto de duração e considerado o mais forte no Equador em 40 anos, devastou a costa do país, do sul ao norte, com vários edifícios reduzidos a escombros, estradas destruídas e blocos de pedra e ferro retorcido nas áreas frequentadas por turistas.
Desde sábado foram registrados mais de 200 tremores secundários, que devem prosseguir nos próximos dias no país, "em estado de exceção".
Em uma visita a Pedernales na segunda-feira, o presidente Rafael Correa advertiu que a reconstrução da região vai demorar anos e custará "centenas, provavelmente bilhões de dólares".
O governo equatoriano ativou fundos de US$ 450 milhões para a reconstrução e receberá linhas de financiamento do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e outras instituições, assim como ajuda material e humana de países como Venezuela, Colômbia, Espanha e Peru.
Correa pediu ao país que aprenda com a tragédia.
"Desta dolorosíssima experiência, tomara que tiremos lições para o futuro. Depois do terremoto do Haiti, começaram a estudar normas de construção muito mais fortes, que já eram aplicadas em 2014, mas antes disto realmente havia construções tremendamente precárias e por isso, talvez, os danos são maiores".
O presidente estimulou os equatorianos a ser "mais rígidos nas normas de construção".
"Muitos edifícios desabaram pela construção ruim. Ninguém quer eludir responsabilidades, mas esta responsabilidade e sobretudo dos governos locais", disse Correa.
De acordo com as autoridades, o balanço de 413 vítimas fatais e mais de 2.000 feridos deve aumentar nos próximos dias.
Entre os mortos há sete colombianos, um americano, uma irlandesa e dois canadenses.