Um número recorde de países, incluindo Estados Unidos e China, os maiores poluidores do mundo, assinaram nesta sexta-feira (22) na ONU o histórico acordo para desacelerar o aquecimento global, negociado em dezembro passado em Paris.
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Simbolicamente, o presidente francês, François Hollande, foi o primeiro a assinar o acordo, entre os 175 países que já assinaram.
"Nunca antes tantos países assinaram um acordo internacional em um único dia", comemorou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, saudando um "momento histórico".
China e Estados Unidos estiveram representados, respectivamente, pelo vice-premiê Zhang Gaoli e o secretário de Estado americano John Kerry. Este último assinou o acordo com sua neta em seus braços e foi muito aplaudido.
Os signatários desta sexta-feira representam mais de 93% das emissões de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, de acordo com a ONG World Resources Institute.
"Já no ano passado, os investimentos em energias renováveis registraram uma alta histórica, quase 330 bilhões de dólares. E espera-se investimentos de trilhões de dólares até o final do século", declarou Kerry nesta sexta-feira.
A assinatura é apenas o primeiro passo. O acordo entrará em vigor apenas quando 55 países responsáveis por pelo menos 55% das emissões de gases do efeito estufa o ratificarem.
DiCaprio na tribuna
Antes de assinar, Hollande pediu ao mundo para traduzir o acordo em "atos", e desejou que a UE "dê o exemplo", ratificando o acordo de Paris "até o final do ano". "Devemos nos mover rapidamente, ainda mais rapidamente", insistiu.
"O mundo está nos assistindo (...) não precisamos de mais retórica, mais desculpas, mais manipulação da ciência e da política por empresas ligadas aos combustíveis fósseis", como o petróleo ou o carvão, ressaltou, por sua vez, o ator e ambientalista Leonardo DiCaprio.
"Sim, nós concluímos o Acordo de Paris, é um motivo de esperança, mas não é suficiente", ressaltou.
Sessenta chefes de Estado e de governo estavam presentes na sede da ONU para esta assinatura.
A presidente Dilma Rousseff, ameaçada por um processo de impeachment, evocou brevemente, ao final de seu discurso, a crise política no país, expressando sua esperança de que os brasileiros vão impedir qualquer "retrocesso" da democracia.
A sociedade civil também comemorou a assinatura. "Este é um momento que vai entrar para os livros de história, um ponto de curva para a humanidade para avançar na direção de uma economia 100% limpa", afirmou Michael Brune, diretor-executivo do Sierra Club, em um comunicado.
O número de ao menos 175 países signatários em um dia é um recorde. O anterior datava de 1982, quando 119 países assinaram a Convenção da ONU sobre direito marítimo.
Abertura para a assinatura durante um ano
Ban Ki-moon, indicou que espera que os países concordem já nesta sexta-feira em ratificar o acordo, a fim de "deixar claro para os governos e ao mundo dos negócios que é chegada a hora de intensificar as ações sobre o clima".
Porque o tempo corre depressa. O último mês foi o março mais quente já registrado, de acordo com os meteorologistas americanos. Há 11 meses, cada mês tem batido um recorde de calor, uma série inédita em 137 anos de registro.
O acordo de Paris compromete seus signatários a limitar o aumento da temperatura "bem abaixo dos 2°C" e "continuar os esforços" para limitar o aumento a 1,5 ºC. Este objetivo muito ambicioso requer um compromisso sério e centenas de bilhões de dólares para fazer a transição para as energias limpas.
O acordo permanecerá aberto por um ano aos 195 países que negociaram.
Treze pequenos países altamente vulneráveis às mudanças climáticas (Fiji, Tuvalu, Maldivas, Belize, Barbados e Samoa) disseram que estavam dispostos a ratificar o acordo já nesta sexta-feira.
"O acordo de Paris deve salvar Tuvalu e salvar o planeta", declarou o primeiro-ministro de Tuvalu, um arquipélago polinésio, Enele Sosene Sopoaga.
Para atingir rapidamente a marca de 55 países/55%, será preciso que ao menos um ou dois dos grandes poluidores (Estados Unidos, China, União Europeia, Rússia, Índia) ratifique o acordo.
Pequim (responsável por 20% das emissões) e Washington (18%) se comprometeram a fazê-lo antes do final do ano.
Do lado americano, o acordo foi negociado para que o presidente Barack Obama não necessite da aprovação do Congresso controlado pelos republicanos hostis ao texto.