Várias autoridades europeias, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel, visitam neste sábado (23) a Turquia com o objetivo de apoiar o acordo migratório, em um momento de tensão pelas pressões contrárias ao pacto.
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O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, e Merkel viajarão a Gaziantep (sul), perto da fronteira com a Síria, para visitar um campo de refugiados e ter uma reunião com o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu.
A visita acontece três semanas depois da entrada em vigor do polêmico acordo entre Bruxelas e Ancara, que pretende dissuadir as viagens clandestinas por mar de migrantes e refugiados para a Europa, que enfrenta a maior crise migratória em 70 anos.
A Turquia se comprometeu a aceitar o retorno a seu território de todos os migrantes que entraram ilegalmente na Grécia desde 20 de março. O plano prevê que, para cada refugiado sírio expulso à Turquia, outro sírio deve ser "reinstalado" em algum país europeu, até o limite de 72.000 refugiados.
Em troca, os europeus aprovaram uma ajuda financeira à Turquia e aceitaram retomar as negociações sobre a adesão do país à UE e sobre a isenção de visto a partir de junho para os turcos que desejam entrar na União, apesar de terem destacado que não estão obrigados a transigir sobre estas condições.
Em resposta, o governo turco afirmou durante a semana que não será obrigado a respeitar o acordo migratório se os europeus não cumprirem a promessa sobre a isenção de vistos.
O Executivo europeu deve apresentar um relatório sobre a questão em 4 de maio.
Em uma entrevista à revista alemã Wirtschaftswoche, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban afirmou que a UE se "entregou à Turquia com consequências impossíveis de prever".
Entre as pressões de Ancara, dos críticos do acordo e das ONGs de defesa dos direitos humanos, a visita dos dirigentes europeus "será um exercício de equilibrismo delicado", resumiu Marc Pierini, ex-embaixador da UE em Ancara.
Os líderes europeus terão que lidar com a questão da liberdade de expressão e de imprensa na Turquia, onde na sexta-feira teve início o julgamento de quatro professores universitários acusados de "propaganda terrorista", assim como o de dois jornalistas famosos acusados de "espionagem".
Tusk publicou um artigo em vários jornais europeus no qual afirma que as liberdades de imprensa e expressão "nunca serão objeto de nenhuma chantagem política".
A chanceler alemã tem sido muito criticada em seu próprio país por autorizar a possibilidade de um processo penal exigido pela Turquia contra um humorista, que ironizou, inclusive com termos chulos, Erdogan em um programa de televisão. O caso aumentou a tensão entre Ancara e Berlim.
Merkel afirmou que a visita a Gaziantep permitirá fazer um balanço sobre a aplicação do acordo e decidir ações futuras para ajudar os 2,7 milhões de sírios refugiados na Turquia.