PODER

Presidente reforça poder na Turquia com premier aliado

A principal missão do próximo chefe de governo será realizar o projeto de reforma constitucional de Erdogan

AFP
Cadastrado por
AFP
Publicado em 22/05/2016 às 14:56
Foto: ADEM ALTAN / AFP
A principal missão do próximo chefe de governo será realizar o projeto de reforma constitucional de Erdogan - FOTO: Foto: ADEM ALTAN / AFP
Leitura:

O presidente islâmico-conservador Recep Tayyip Erdogan reforçou neste domingo (22) seu poder na Turquia, com a eleição de um aliado fiel, Binali Yildirim, como líder do partido governante e próximo premier.

Yildirim, ministro dos Transportes, foi eleito neste domingo para o comando do partido islâmico-conservador no poder, em um congresso no qual era candidato único.

O político, 60, que receberá neste domingo a incumbência de formar o novo governo, após a renúncia do atual chefe do Executivo, Ahmet Davutoglu, recebeu o apoio do conjunto dos delegados do Partido de Justiça e Desenvolvimento (AKP).

A principal missão do próximo chefe de governo será realizar o projeto de reforma constitucional de Erdogan, para tornar o regime turco presidencialista.

"O que devemos fazer como prioridade é passar da atual situação, de fato, para uma situação legal", mudando a Constituição para um regime presidencialista", disse Yildirim no congresso do AKP. Isto consolidaria os poderes de Erdogan.

"Trabalharemos em harmonia total com todos os nossos camaradas do partido em todos os níveis, começando por nosso presidente, fundador e líder", prometeu nesta semana o novo chefe do AKP.

- Aviso à UE -

No rastro da política de Erdogan, o próximo premier disse que "a União Europeia deve pôr fim à confusão envolvendo uma adesão plena da Turquia ao bloco".

"Já é hora de saber o que a UE pensa sobre a Turquia", disse Yildirim neste domingo em seu discurso para os militantes do AKP.

A Turquia apresentou sua candidatura em 1987, e negocia uma adesão à UE desde 2005.

Esta confusão também se aplica ao tema dos migrantes, sobre o qual Ancara e a UE fecharam um acordo em março, afirmou Yildirim, ministro dos Transportes, que se tornou hoje novo chefe do AKP, partido islâmico-conservador no poder.

Ancara impôs condições ao acordo sobre migrantes entre UE e Turquia - segundo o qual aceita receber todos os migrantes e solicitantes de asilo que chegam às ilhas gregas -, entre elas uma aceleração das negociações para se aproximar da UE e a isenção de vistos para cidadãos turcos que viajarem ao continente europeu.

Yildirim sucede no comando do partido e do governo Ahmet Davutoglu, que se destacou por sua atuação moderada e pediu demissão como primeiro-ministro devido à tensão crescente com Erdogan.

Binali Yildirim, ministro dos Transportes quase sem interrupção desde 2002, foi o artífice dos trabalhos de urbanização faraônicos promovidos por Erdogan.

- Sob a sombra de Erdogan -

Horas depois de sua eleição como líder do AKP, no poder na Turquia desde 2002, Yildirim será encarregado pelo chefe de Estado da formação do novo governo.

O novo Executivo terá a marca de Erdogan, que sempre controlou o partido que fundou em 2001, embora, como presidente da Turquia, seu papel devesse ser neutro.

A chegada ao comando do governo de um homem leal ao presidente permitiria a este último reforçar sua autoridade no Executivo e pôr fim ao governo de Davutoglu, com quem teve diferenças, principalmente em relação ao conflito curdo e à forma de negociar com a UE a crise migratória.

"Yildirim poderá ser o último premier da Turquia. Ocupará apenas um papel de adjunto de Erdogan no sistema presidencialista que o mesmo deseja estabelecer", comentou o especialista em ciência política Gökhan Bacik.

O analista também previu que Erdogan terá sob seu controle as políticas externa e econômica do novo Executivo.

A perspectiva de ver Erdogan reforçar ainda mais seu poder preocupa seus detratores, que o acusam de seguir por um caminho autoritário.

A decisão mais recente dos parlamentares turcos aponta para esta polarização crescente na sociedade turca.

O parlamento aprovou na última sexta-feira, por sugestão de Erdogan, a retirada da imunidade dos deputados pró-curdos, no momento em que o país vive no ritmo dos combates sangrentos entre as forças de segurança e os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Últimas notícias