Autoridades e ONGs de todo o mundo discutiam nesta segunda-feira (23) em Istambul, com mediação da ONU, como melhorar as respostas às crises humanitárias provocadas pelas guerras e a mudança climática.
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Com quase 60 milhões de deslocados no mundo e 125 milhões de pessoas com necessidade de ajuda, muitos Estados e organizações não governamentais consideram que o atual sistema de ajuda humanitária precisa de uma mudança profunda.
"Nunca desde a Segunda Guerra Mundial tantas pessoas haviam sido forçadas a abandonar suas casas", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon. "Estamos aqui para forjar um futuro diferente", completou.
"Não é uma tarefa fácil, pois exige uma vontade política de uma magnitude que não vimos nos últimos anos", admitiu Ban.
A reunião de dois dias definirá uma série de "ações e compromissos concretos" para ajudar na preparação dos países para enfrentar as crises, prevenir conflitos, respeitar o direito internacional e garantir o financiamento de projetos humanitários.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anfitrião da reunião, fez um apelo à comunidade internacional para "assumir suas responsabilidades" e lamentou a divisão desigual da ajuda humanitária.
"O atual sistema é insuficiente (...) o peso fica apenas com alguns países, hoje todo o mundo deve assumir suas responsabilidades", disse Erdogan.
A Turquia abriga quase três milhões de refugiados da Síria e do Iraque, incluindo 2,7 milhões de sírios.
"As necessidades aumentam a cada dia, mas os recursos não seguem obrigatoriamente", completou o chefe de Estado turco, antes de lamentar que "alguns membros da comunidade internacional evitam suas responsabilidades".
"Hoje, aqui, fazemos promessas. Devemos agora transformar as palavras em ações. Só então teremos solucionado todos os nossos problemas", disse.
Neste sentido, a chanceler alemã Angela Merkel pediu o cumprimento das promessas de doação e defendeu a necessidade de um "sistema confiável" de financiamento dos projetos.
"Devem cessar as promessas não cumpridas", disse Merkel. A Alemanha recebeu em 2015 quase um milhão de refugiados e migrantes, a grande maioria dos que chegaram ao continente europeu.
Os compromissos da reunião de cúpula não serão vinculantes. Desta maneira, os 6.000 participantes precisam superar o ceticismo generalizado sobre a capacidade de cumprir um programa ambicioso.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) decidiu não participar no evento, por antecipar uma "declaração de boas intenções" sem nenhum progresso concreto.
A reunião, com a presença de 60 chefes de Estado e de Governo, começou com a tradicional foto do grupo, seguida por uma cerimônia que contou com a participação do ator britânico Daniel Craig, que interpreta o agente James Bond.
À margem da cúpula foram organizadas reuniões bilaterais, incluindo uma entre Merkel e Erdogan.
A organização da primeira reunião sobre ajuda humanitária em Istambul é simbólica, pois a Turquia abriga 2,7 milhões de sírios que fugiram de seu país em guerra e é a principal nação de trânsito para os refugiados que desejam chegar à Europa.
A reunião de Istambul precisa ser um "marco", disse Kerem Kinik, diretor do Crescente Vermelho turco, para estabelecer metas de desenvolvimento e consolidar o sistema de financiamento.
"Queremos menos burocracia no sistema de ajuda humanitário mundial, que deveria dar meios aos agentes locais que lidam diretamente com as crises humanitárias", declarou à AFP.