Forças iraquianas e sírias apoiadas por combatentes americanos continuavam, nesta quinta-feira (26), com a dupla ofensiva lançada em ambos os países dois e três dias antes, respectivamente, contra o grupo Estado Islâmico (EI), embora os especialistas tenham advertido que a batalha será longa.
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Tratam-se das operações de maior relevância contra o EI desde que o grupo extremista autoproclamou, em 2014, seu "califado" nesta região entre a Síria e o Iraque.
Na Síria, uma aliança apoiada por soldados americanos lutava para expulsar os extremistas de Raqa, seu reduto no norte do país.
As Forças Democráticas Sírias (SDF) lutam há sete meses em uma aliança dominada pelos combatentes curdos, mas nela também há cristãos muçulmanos e turcomanos.
Nesta quinta-feira, continuavam avançando através de pequenas aldeias e regiões agrícolas ao sul da cidade de Ain Issa, a menos de 60 quilômetros da cidade de Raqa.
Um comunicado destas forças declarava que haviam "avançado sete quilômetros desde Ain Issa e libertado cinco aldeias e quatro campos" de cultivo.
Fora da localidade de Fatsah, o comandante sobre o terreno das SDF, Baara al Ghanem, informou que a linha de frente situava-se a "cerca de oito ou nove quilômetros de Ain Issa".
"Libertamos as localidades de Fatsah, Namrudiya, e Wastah, assim como vários campos. A próxima batalha trará muitas surpresas", assegurou à AFP.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) declarou que os combatentes das SDF estavam bombardeando posições do EI perto de Ain Issa, ao mesmo tempo que aviões americanos atacavam de forma quase ininterrupta.
Túneis e carros-bomba
Mas o diretor do Observatório, Rami Abdel Rahman, também advertiu que as SDF ainda têm que chegar às principais posições estratégicas dos extremistas.
"As batalhas estão ocorrendo em pequenas localidades e em campos onde não há civis", disse à AFP.
O EI está "concentrando cerca de 2.000 combatentes ao longo da fronteira norte de Raqa. O EI se preparou para esta batalha nos últimos meses escavando túneis e abastecendo-se de explosivos, preparando carros-bomba e escondendo-se em edifícios entre os civis", declarou Rahman.
Embora as SDF tenham insistido que a campanha atual só pretende liberar a zona rural em torno da cidade de Raqa, o objetivo final é libertar a própria cidade, a capital de fato do EI.
"Talvez não ocorrerá a médio prazo, mas sitiar a cidade e bloquear os movimentos do EI também é muito importante", assegura o analista Mutlu Civiroglu desde Washington.
A batalha para recuperar Raqa começou na terça-feira, justo um dia antes do lançamento de uma operação na cidade iraquiana de Fallujah, também nas mãos do EI.
As tropas iraquianas apoiadas por milícias pró-governamentais haviam avançado até a cidade desde áreas circundantes.
Ao tempo que vão cercando a cidade, a coordenadora humanitária da ONU no Iraque, Lise Grande, alertou sobre os "relatórios inquietantes" que estava recebendo sobre civis presos incapazes de escapar.
A ONU disse que apenas 800 dos cerca de 50.000 habitantes presentes em Fallujah puderam fugir da cidade desde 22 de março, "a maioria de zonas periféricas".
Segundo esta funcionária, aqueles que conseguiram escapar narraram cenas de escassez de alimentos, medicamentos e água potável.
'Enormes' desafios
Os Estados Unidos e seus aliados na batalha contra o EI colocaram suas miras em Raqa, Fallujah e eventualmente Mossul, como aposta para derrotar os extremistas.
Mas os especialistas acreditam que as operações sobre o terreno têm possibilidade de complicarem e alongarem-se no tempo.
"Os desafios que envolvem debilitar e expulsar o (grupo) Estado Islâmico de posições nas quais estão há muito tempo são enormes", escreveu a organização Soufan Group, baseada em Nova York.
Para vencer definitivamente o EI, as forças iraquianas e sírias devem abordar ao mesmo tempo questões locais, política sectária e divisões étnicas.