O primeiro-ministro britânico, David Cameron, reagiu nesta terça-feira ao avanço dos defensores da saída da Grã-Bretanha da União Europeia e pediu aos seus concidadãos que não se deixem seduzir por mentiras.
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"Não tomem a sua decisão baseando-se em informações falsas", pediu Cameron aos eleitores em coletiva de imprensa convocada de surpresa um dia depois de pesquisas de opinião darem vantagem aos partidários do Brexit (51% a 49%) pela primeira vez em mais de um mês.
O premiê conservador, confrontado a vários membros de seu governo na campanha, acusou seus adversários de ignorar a opinião do seu governo na campanha e de organizações independentes que alertam que a saída terá consequências nefastas para a economia britânica.
De concreto, negou que Londres vá pagar uma parte da conta da crise da Eurozona ou que Bruxelas vá exigir um aumento de sua contribuição.
"Por um lado, temos especialistas confiáveis alertando para os riscos para a segurança da nossa economia e por outro, uma série de afirmações que se mostraram totalmente falsas. A campanha 'Leave' (sair) está recorrendo a mentiras absolutas para enganar as pessoas e que deem um salto no vazio", prosseguiu.
"É irresponsável. É um erro", sentenciou.
Cameron respondeu a perguntas do público em um programa da emissora ITV, do qual também participou um dos líderes da campanha antieuropeia, Nigel Farage.
Os dois não coincidiram, nem debareram, mas apelaram ao coração quando se dirigiram ao público.
"Abandonar é desertar e não acho que sejamos desertaram", disse Cameron. "O correto, o britânico, é lutar por uma Grã-Bretanha dentro da UE e não optar pela pequena Inglaterra de Farage".
Quando lembraram a Farage as advertências de vários líderes europeus sobre as consequências de uma saída, inclusive as do presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, respondeu: "somos melhores, não nos deixaremos intimidar".
A ascensão dos partidários do Brexit coincide com o protagonismo da imigração na campanha, um tema que dominou muitas das perguntas destinadas a Farage e Cameron.
OS JOVENS, MOTIVADOS A VOTAR
Pesquisas de opinião estimam os indecisos em mais de 10% e a disputa por seu voto em 23 de junho promete recrudescer.
Analistas consideram que a disputa pode acabar sendo geracional e que todos os jovens terão um papel-chave em manter o país na União Europeia sempre que vão votar.
Esta terça foi o último dia para se registrar no censo eleitoral e a Comissão Eleitoral revelou um aumento da afluência de jovens nos últimos dias.
Na segunda-feira, 226 mil pessoas se registraram e mais da metade - 148.200 - tinham menos de 34 anos.
Também houve um aumento dos registros na sexta-feira, coincidindo com uma campanha no Facebook para incentivar o voto.
OMC SE SOMA ÀS ADVERTÊNCIAS
A saída do Reino Unido da União Europeia custaria a cada ano 5,6 bilhões de libras em tarifas alfandegárias aos exportadores britânicos, afirmou em Londres o diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevedo.
"Os exportadores britânicos correriam o risco de pagar até 5,6 bilhões de libras (8,15 bilhões de dólares, 7,17 bilhões de euros) a cada ano em taxas sobre suas exportações", disse Azevedo em discurso no World Trade Symposium de Londres.
Azevedo se somou, assim, às advertências do FMI (Fundo Monetário Internacional) e da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos), contrárias ao Brexit.
O diretor da OMC estimou que desfazer os laços comerciais com a UE e aqueles países com os quais o bloco europeu tem acordos comerciais seria uma tarefa incerta e complicada que poderia levar anos e anos.
"Posso afirmar que as negociações meramente para se ajustar aos termos existentes demoraram vários anos para se concluir, em certos casos até 10 ou mais. De todas as formas, no que diz respeito ao Reino Unido, é impossível dizer quanto tempo levaria", explicou.
"O único certo seria a incerteza", sentenciou Azevedo.
Os defensores da saída do Reino Unido minimizam o impacto econômico desta eventualidade e sustentam que o país ficaria com as mãos livres para negociar rapidamente acordos comerciais que substituiriam os arranjos existentes.
Boris Johnson, ex-prefeito de Londres e destaque da campanha do Brexit, disse em abril que o comércio britânico "aumentaria como resultado de se livrar de tanta burocracia e interferências políticas".