Brexit

Brexit agrava as incertezas sobre a economia mundial

Antes do histórico referendo de quinta-feira (23), instituições como o FMI e a OCDE advertiram sobre os perigos globais de Brexit

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Publicado em 24/06/2016 às 19:02
Foto: Curto De La Torre / AFP
Antes do histórico referendo de quinta-feira (23), instituições como o FMI e a OCDE advertiram sobre os perigos globais de Brexit - FOTO: Foto: Curto De La Torre / AFP
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A vitória do Brexit no referendo britânico agrava as incertezas sobre a economia mundial, que ainda não se recuperou de todo da crise de 2008.

"Estamos entrando em um território completamente desconhecido, onde a única certeza é a incerteza", afirmou Jean-Michel Six, economista-chefe para Europa da agência de classificação de risco SP Global Rating, depois da decisão britânica de sair da União Europeia (UE).

Antes do histórico referendo de quinta-feira, instituições como o FMI e a OCDE advertiram sobre os perigos globais de Brexit.

A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, havia alertado na quarta-feira sobre as consequências para os Estados Unidos, a maior economia do mundo. "Isso teria um certo  impacto. De que envergadura? Teremos que debater", disse Lagarde.

Já confirmado, o Brexit poderá provocar um efeito dominó, que afetará uma economia mundial debilitada. Com um crescimento fraco, a Europa pode ser incapaz de assegurar o relevo das economias emergentes, que sustentam a economia mundial desde a crise de 2008, antes da queda dos preços das matérias-primas.

O México anunciou nesta sexta-feira um corte de 1,68 bilhão em seu gasto público, para enfrentar o Brexit.

Diante das fortes turbulências dos mercados financeiros, os ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do G7 alertou para os "efeitos nefastos" na estabilidade econômica por causa de movimentos "excessivos" na taxa de câmbio. 

Crescimento "comprometido"

"A saída da crise e um retorno duradouro ao crescimento parecem agora comprometidos por essa sucessão de acontecimentos nos mercados financeiros", lamentou Christopher Dembik, economista do Saxo Bank.

Depois do resultado britânico, a Europa se transformou em um risco. "Antes do Brexit, a UE era considerada um polo de estabilidade no sistema internacional", explicou à AFP Thomas Gomart, diretor do centro de pesquisa francês IFRI.

"Com a crise grega, a crise migratória, o Brexit e o auge dos populismos, a Europa está deixando de ser um fator de estabilidade internacional e passa a alimentar a instabilidade global", explicou o autor de um recente estudo sobre "o regresso do risco geopolítico".

"O pior dos cenários está se concretizando", admitiu Ludovic Subran, economista da seguradora Euler Hermes, Ele lembra, no entanto, que "não se trata do apocalipse". 

Essa erosão da UE tem repercussões imediatas no cenário internacional. "Isso levanta questões sobre a Europa em seu conjunto, em especial durante as negociações do tratado de livre-comércio com os Estados Unidos e também (afetará) o peso dos europeus no G7", admitiu Subran.

Uma situação que poderá "alentar países como a China a tentar estabelecer diretamente relações bilaterais com os países europeus", em vez de negociar com Bruxelas, constatou Gomart.

Segundo o diretor do IFRI, o que se questiona hoje em dia é o conceito de globalização.

"A globalização era vista como uma convergência inexorável de modelos. Na verdade, agora estamos diante de uma divergência de modelos, com a volta provável de formas de protecionismo", destacou. 

"O enfraquecimento do comércio mundial já influenciou no crescimento mundial nesses últimos anos", considerou Larry Summers, ex-secretário do Tesouro americano.

Há uma urgência nos mercados. O gestor de ativos Candriam não descarta uma "recessão europeia" caso os "governos europeus não consigam um acordo em suas negociações com o Reino Unido nos próximos meses e um acordo para manter a atividade econômica", disse em comunicado.

"O que esperamos do resto da UE é que se comprometa com uma Europa mais eficaz. Mas dadas as experiências anteriores (...), não acreditamos que isso tenha muita credibilidade nos mercados", advertiu o banco americano Goldman Sachs.

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