O presidente americano, Barack Obama, lançou uma séria advertência nesta sexta-feira (8) à União Europeia sobre eventuais negociações conflitivas no processo de divórcio com o Reino Unido, seu melhor aliado na Europa.
"Ninguém tem interesse em negociações longas e conflitivas", disse Obama em uma coletiva de imprensa em Varsóvia, antes de participar da última cúpula da Otan de seu mandato.
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Obama dividia o palco com os presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, Donald Tusk e Jean-Claude Juncker, respectivamente.
Washington seguiu de perto o processo britânico que terminou com a decisão de que o Reino Unido saia da União Europeia, abrindo caminho para um incerto e inédito processo que Londres ainda não ativou, apesar das pressões das capitais europeias.
O Reino Unido, potência nuclear e membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, é o melhor aliado dos Estados Unidos na Europa, com quem mantém uma "relação especial".
"Este talvez seja o momento mais importante para as relações transatlânticas desde o fim da Guerra Fria", disse Obama em uma coluna publicada nesta sexta-feira pelo jornal Financial Times.
Diante desta advertência, Jean-Claude Juncker afirmou que não encarava o processo de divórcio "de maneira hostil".
- O Reino Unido "não dá as costas" -
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, que participa, assim como Obama, de sua última cúpula da Aliança Atlântica, afirmou ao chegar que o Reino Unido não está "dando as costas à Otan".
Cameron, cujo país é o principal contribuinte europeu da Aliança, também declarou que "a Grã-Bretanha não terá um papel menor no mundo".
Por sua vez, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, voltou a insistir que o Brexit mudará inevitavelmente seus vínculos com a UE, "mas não a posição de liderança do Reino Unido dentro da Otan".
Stoltenberg também assinou com Tusk e Juncker uma declaração conjunta que esboça como devem ser as relações entre a Otan e a UE.
Em Varsóvia, os 28 líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) buscarão reafirmar sua presença no leste europeu, outrora sob a influência de Moscou.
A cúpula é realizada na simbólica capital polonesa, onde em 1955 a União Soviética assinou o Pacto de Varsóvia para contrabalançar a criação, anos antes, da Aliança Atlântica.
A principal decisão será a ratificação do plano de ação para contrabalançar a Rússia após a anexação da Crimeia e a intervenção na Ucrânia em 2014.
O plano de resposta, esboçado pela Otan na cúpula de Gales em 2014, o "Readiness Action Plan", envolve respeitar um mínimo de gastos militares de 2% do PIB e cessar os cortes.
Para acalmar os aliados que se tornaram independentes de Moscou no início dos anos 1990, a Otan decidiu reforçar sua "Força de Resposta" (NRF, Nato Response Force), triplicando seus efetivos a 40.000 soldados e criando uma "ponta de lança" ("Spearhead") de 5.000 homens capaz de ser mobilizada em apenas alguns dias diante de qualquer foco de crise.
No entanto, a Polônia e os três países Bálticos obtiveram mais. A cúpula deve ratificar a mobilização nestes países de quatro batalhões multinacionais (entre 600 e 1.000 militares cada um) com base em uma rotação, um deles com tropas americanas na Polônia, confirmou Obama.
Esta decisão não tem precedentes desde o fim da Guerra Fria e a Ata Fundacional de 1997 que rege as relações Otan-Rússia e que estabelecia a redução das forças convencionais na Europa e na Rússia.
Rússia "não é uma ameaça"
A unidade com a qual os aliados prepararam a cúpula pareceu desvanecer nesta sexta-feira com a chegada do presidente francês, François Hollande.
Hollande estimou que a Otan não deve ditar o tipo de relações que a Europa deve ter com a Rússia, país considerado um "sócio" por ele. "A Rússia não é um adversário, não é uma ameaça", disse.
Por sua vez, Moscou considera que a Otan, que avança sobre o que eram seus 'satélites', é a que ameaça sua segurança.
A cúpula desperta um grande interesse em Moscou, disse nesta sexta-feira o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.
Mas Moscou reserva suas maiores advertências ao escudo antimísseis que os Estados Unidos desenvolvem na Europa. Na cúpula deve ser declarado que já está operacional depois da inauguração em maio de uma primeira base de interceptadores balísticos na Romênia.
O escudo antimísseis neutralizaria a doutrina de dissuasão nuclear. Os Estados Unidos sustentam que serve para proteger seu território e o de seus aliados de eventuais ataques com mísseis balísticos do Irã e da Coreia do Norte.