A nova primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, prometeu nesta quarta-feira (13) superar o desafio do Brexit e construir "um papel audacioso e positivo" para o seu país fora da União Europeia.
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A premiê já começou a anunciar membros de seu novo gabinete, que a imprensa britânica prevê que seja muito mais feminino que o precedente.
O ex-prefeito de Londres e figura emblemática do campo pró-Brexit Boris Johnson foi nomeado para o cargo de ministro das Relações Exteriores, anunciaram os serviços da nova primeira-ministra Theresa May.
O antecessor de Johnson, Philip Hammond, comandará a pasta das Finanças no lugar de George Osborne.
David Davis, outro proeminente ativista pelo Brexit e ex-ministro europeu, foi nomeado negociador-chefe encarregado da saída do Reino Unido da União Europeia.
Ao chegar à residência oficial de Downing Street, May prometeu um Reino Unido com um novo papel, "audaz e positivo" fora da UE.
"Após o referendo, enfrentamos um momento de grande desafio em nível nacional, mas somos o Reino Unido e vamos estar a altura".
Pouco depois de ser anunciado como membro do gabinete, Johnson declarou: "temos a grande oportunidade de estabelecer uma nova e bem sucedida relação com a Europa e o resto do mundo".
May, a segunda mulher a assumir o executivo britânico depois de Margareth Thatcher (1979-1990), quer garantir "a justiça social" e a unidade do Reino Unido, ameaçado de divisão pela saída da UE.
A ex-ministra do Interior, de 69 anos, recebeu da rainha Elizabeth II a tarefa de formar um novo governo conservador durante uma audiência privada no Palácio de Buckingham.
Uma foto publicada pelo palácio, na qual May faz uma reverência à rainha, testemunha o encontro solene.
Pouco minutos antes, Elizabeth II recebeu seu predecessor, David Cameron, que apresentou sua renúncia na companhia de sua esposa Samantha e de seus três filhos.
Em frente ao Downing Street para seu último discurso como primeiro-ministro, Cameron desejou que o seu país, que "tanto ama", "continue a ter sucesso".
"Sigo os passos de um grande primeiro-ministro moderno", declarou May ao tomar posse, depois de receber felicitações da Casa Branca e do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
O presidente da França, François Hollande, telefonou para parabenizar May e lembrá-la de seu desejo de que as negociações para o Brexit sejam "realizadas o mais rápido possível".
Segundo o Palácio do Eliseu, os dois líderes "se comprometeram a continuar ativamente o desenvolvimento da relação bilateral que une, amigavelmente, França e Reino Unido em todos os campos".
Em Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, se disse disposto a manter "um diálogo construtivo" com Theresa May.
"Vladimir Putin confirmou o desejo de manter um diálogo construtivo e colaborar com a primeira-ministra britânica sobre assuntos atuais nas relações bilaterais e da agenda internacional", declarou o Kremlin em um comunicado, no qual o presidente "agradeceu a David Cameron por sua cooperação e se mostrou confiante de que as relações russo-britânicas terão um potencial positivo".
'Tão perto quanto possível'
Horas antes de se retirar, David Cameron aconselhou Theresa May a permanecer "tão perto quanto possível" da União Europeia, apesar do Brexit que ela deverá conduzir.
Conhecida por sua determinação, sua força de trabalho, mas também por uma certa frieza, Theresa May, filha de um pastor, herda um Reino Unido que o referendo deixou de cabeça para baixo, entre turbulências econômicas e pressão dos líderes da UE para que o Reino Unido inicie o mais rapidamente possível o processo de divórcio.
Esta eurocética, que defendeu a permanência na UE durante a campanha do referendo, já havia avisado que não tinha a intenção de ativar o artigo 50 do Tratado de Lisboa - que lança o processo de saída da UE - antes do final do ano.
Ansiosos de ver o Executivo britânico esclarecer as suas intenções, os líderes europeus não esperaram a posse para apresentar as suas queixas.
"Agora cada um deverá se colocar em uma posição que será a de defender os interesses, a Grã-Bretanha de um lado e, do outro, os interesses da Europa", considerou nesta quarta-feira o porta-voz do governo francês, Stéphane Le Foll.
Uma cúpula sobre as consequências do Brexit com Hollande, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, será realizada no final de agosto na Itália.
Ecoando as declarações de Cameron, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse que era a favor "de relações tão estreitas quanto possíveis com o Reino Unido".
Os primeiros dias da nova primeira-ministra também vão ser acompanhados de perto pelos mercados, que buscam certezas após o choque provocado pelo referendo.
"A libra recuperou mais de 4% em relação a seu mais baixo nível em 31 anos", atingido semana passada, "enquanto os mercados comemoravam o fato de Theresa May se tornar a nova primeira-ministra", comenta Hussein Sayed, analista da FXTM.
A vida nova de Cameron
Para David Cameron, que defendeu a permanência do país na UE, é uma nova vida que começa, com o peso nos ombros de um referendo que ele mesmo lançou, mas cujo resultado foi o inverso do que desejava.
O líder conservador venceu duas eleições legislativas (2010 e 2015), sobreviveu ao referendo de independência da Escócia... mas permanecerá na História como o primeiro-ministro do Brexit.
"Foi a maior honra da minha vida servir ao nosso país como primeiro-ministro nesses últimos seis anos", ressaltou antes de agradecer, muito emocionado, seus filhos e sua esposa, "o amor da minha vida".
"Nem sempre foi fácil (...) mas hoje nosso país é mais forte", afirmou.
Enquanto o país acolhe um novo líder, a oposição trabalhista permanece abalada por uma crise de liderança profunda, outra repercussão do referendo.
Afetado por uma verdadeira guerra entre os seus parlamentares, o líder do partido Jeremy Corbyn marcou uma importante vitória na noite de terça-feira contra os seus opositores após a decisão do comitê executivo do partido de permitir que ele se apresente nas novas eleições para a liderança do Partido Trabalhista.
"Mas isso não resolverá os problemas do Labour", ressaltou o tabloide Daily Mirror: "O veneno nas veias do Labour é tão tóxico que ninguém consegue enxergar um resultado harmonioso".