Um rapaz prestativo, reservado e fã de videogames de guerra: para os vizinhos do atirador do shopping de Munique, todos agora sob choque total, nada pode explicar a chacina desencadeada por David Ali Sonboly.
Com dupla nacionalidade, alemã e iraniana, o rapaz de 18 anos vivia com sua família em um conjunto de moradias sociais moderno e discreto, localizado no bairro de Maxvorstadt, não muito longe do centro da capital da Bavária.
Na entrada do edifício, situado entre uma concessionária de carros de luxo Mazerati e uma loja de vestidos de noiva, Delfye Dalbi tenta decifrar o mistério envolvendo seu jovem vizinho.
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"Nunca o vi chateado, nunca soube que tivesse problemas com a polícia ou com algum vizinho", comenta esta mãe de família de origem macedônia.
O autor da chacina vivia com seus pais e seu irmão em um apartamento de três cômodos e frequentava a escola do bairro.
"Ele era muito gentil, prestativo. Ria como qualquer pessoa normal. Alguma coisa aconteceu na cabeça dele", especula Dalbi.
Os pais são iranianos, segundo a vizinha. O pai é motorista de taxi e a mãe empregada de uma cadeia de lojas muito conhecida, a Karstadt.
"Estou morrendo de pena da família, até mesmo do menino... As pessas dizem que isso tem a ver com o fato dele ser muçulmano, mas nada disso tem a ver com a religião muçulmana”, enfatiza Dalbi.
Mas, segundo o ministro do Interior, Thomas de Maizière, o rapaz havia se convertido ao cristianismo, e adotado o prenome David.
Outra vizinha confirma: a família não era particularmente religiosa.
Para Sedik Ali, um afegão de 29 anos, o atirador, um jovem grande e robusto, era uma pessoa muito solitária.
"É estranho, mas ele nunca falava com a gente", comenta o vizinho, que conta que sempre jogou bola com o irmão mais novo dele em um parque do bairro.
- 'Não quero falar com ninguém'
Segundo Stephan, atendente de uma cafeteria "Treemans", Sonboly era visivelmente sinônimo de 'não quero falar com ninguém'"
"Ele não era como os jovens da idade dele, alegre, moderno, usando o cabelo da moda. Ele era mais calmo. Era um garoto tímido", acrescentou.
Como a maioria dos moradores locais, de origem estrangeira, o rapaz sempre passava diante do bar, mas não parava. "Eu dizia 'olá'. Ele respondia 'olá', mas como aqui é uma cafeteria americana, ele não costumava frequentar", contou ainda.
O autor do tiroteio sofria de "uma forma de depressão", afirmou neste sábado o procurador de Munique, descrevendo sua atitude como a de um "desequilibrado", sem ligações com o grupo Estado Islâmico (EI).
Em um vídeo amador difundido nas redes sociais na noite de sexta e autentificado pela polícia, é possível ver no telhado do shopping um homem insultando outro, vestido de negro e com uma pistola na mão.
Em resposta aos insultos do outro indivíduo, o agressor responde: "Sou alemão, nasci aqui. Em um bairro do Hartz IV", nome do auxílio desemprego recebido por muitos beneficiários. "Estava em tratamento hospitalar", disse ainda.
Segundo uma fonte policial citada pela agência DPA, Sonboly era fã de games de guerra e, mais sintomático ainda, admirador do jovem alemão de 17 que cometeu um massacre na escola perto de Stuttgart, em 2009.
A polícia também achou indícios de que o jovem sentia grande fascínio pelos assassinatos em massa e que juntava informações sobre pessoas desequilibradas e autoras de chacinas, como livros e artigos de jornais.
Os investigadores disseram existir um vínculo "evidente" entre este tiroteio e o assassino supremacista norueguês Anders Behring Breivik.
O tiroteio em Munique aconteceu justamente no dia em que o massacre de 77 pessoas cometido pelo radical de direita norueguês completava 5 anos.