Tão admirado quanto criticado, Fidel Castro completa 90 anos neste sábado (13) em uma Cuba que, em plena aproximação com os Estados Unidos, mais aberta do que a que liderou durante meio século, faz homenagens.
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Shows e exposições fotográficas, literárias e gráficas, além de inúmeros cartazes com sua imagem em toda a ilha comemoram as nove décadas de um dos homens mais influentes e controversos do mundo no último século.
Entretanto, não está previsto um grande ato oficial para festejar o aniversário, ainda que não descarte a visita, como em outras ocasiões, do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
"Estaremos (...) comemorando os 90 anos desse homem também imortal", assinalou nos últimos dias.
Em Cuba "Fidel é tudo, é esporte, é a cultura... é a rebeldia. O cubano é rebelde por Fidel", diz Manuel Bravo, um vidraceiro autônomo de 48 anos, enquanto caminha em frente a um dos múltiplos locais de Havana adornados com o lema: "Fidel 90 e mais".
"Logo serei como os outros"
O pai da revolução Cubana, que instaurou um regime socialista de partido único criticado por violações de direitos humanos, mas que deu saúde e educação gratuitas a milhares de cubanos, cedeu o poder há uma década a seu irmão Raúl (85 anos), por motivo de saúde.
Desde então, está aposentado e só recebe visitas esporádicas de personalidades. Nos últimos anos, a velhice e as sequelas deixadas por uma severa doença intestinal acabaram com ele.
Apenas um restrito círculo sabe exatamente qual é seu estado, devido à reserva oficial que ronda sua saúde.
A última vez que apareceu em público foi em 19 de abril, no encerramento do Congresso do Partido Comunista Cubano. Lá, Fidel apareceu sentado, com jaqueta esportiva azul e voz trêmula, atribuindo sua longa vida ao acaso e conclamando os cubanos a manterem o rumo socialista.
"Logo serei como todos os outros. Para todos chegará a sua vez", disse em um discurso que foi interpretado como um testamento aos comunistas.
Mas Fidel não é só venerado em sua velhice. Também é combatido por aqueles que acabaram na prisão por se oporem a ele.
"Não sei se poderei desejar um bom aniversário a ele", assinala à AFP Marta Beatriz Roque, uma dissidente de 71 anos que foi presa duas vezes durante o governo do ex-presidente. Atualmente, Roque está em liberdade condicional.
Para ela, o legado do nonagenário líder é o "caos, a falta de solução" para os problemas econômicos, e o "controle da vida de todas as pessoas no país".
Influência indireta
Mesmo sem estar à frente da ilha de 11,3 milhões de habitantes, poucos duvidam do predomínio de Fidel Castro.
Ele segue exercendo "uma influência indireta através de algumas figuras do regime, que estão incomodadas com as reformas que Raúl fez", disse à AFP Kevin Casas-Zamora, consultor internacional e doutor em Ciências Políticas da Universidade de Oxford.
Apenas sua presença física - agrega - atua como "um muro nas reformas econômicas e políticas mais agressivas".
Fidel já não é o mesmo devido à idade, mas Cuba tampouco é o país que moldou com mãos firmes ao longo dos 48 anos seguintes ao triunfo da revolução em 1959.
Sem abrir mão do socialismo, Raúl Castro flexibiliza o sistema soviético dando maior abertura ao trabalho privado e aos investimentos estrangeiros, e terminou com as restrições de viagens e de compra e venda de casas e automóveis.
Mas, sobretudo, restabeleceu as relações diplomáticas em 2015 com os Estados Unidos, o inimigo jurado de Fidel Castro, apesar de o embargo econômico continuar vigente - o que os dirigentes cubanos veem como a razão para boa parte das dificuldades.
O ex-presidente nunca se opôs à aproximação, mas não cedeu em suas críticas. "Não necessitamos que o império nos presenteie com nada", escreveu Fidel dias depois da visita do presidente Barack Obama, em março.
"Para a maioria dos latino-americanos, Fidel Castro representa a heroica resistência à hegemonia e controle dos Estados Unidos", comenta Peter Hakim, analista do centro de pensamento Diálogo Interamericano, com sede em Washington.
Entretanto, acrescenta, "não acredito que se mantenha como herói por muito mais tempo (...) e suspeito que será visto como um homem que foi capaz de impor sua vontade aos cubanos". "O mundo moderno deixou Fidel e Cuba em segundo plano", opina.
Antes de adoecer, Fidel Castro costumava festejar seus aniversários com estudantes, mas desde 2006 o faz de forma reservada com visitas como as que recebeu no ano passado de Maduro e do presidente boliviano, Evo Morales.