A trégua iniciada na última segunda-feira (12) por Estados Unidos e Rússia conheceu, nesta sexta (16), os mais sérios obstáculos com bombardeios aéreos e violentos combates, enquanto cresciam os atritos entre Estados Unidos e Rússia sobre a ajuda humanitária.
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No plano diplomático, hoje, o Conselho de Segurança da ONU cancelou uma reunião urgente convocada por Estados Unidos e Rússia para discutir a trégua. O encontro havia sido convocado para que os enviados de ambos os países apresentassem detalhes sobre o acordo conjunto. Sem um consenso bilateral sobre o que revelar, suspendeu-se a reunião.
A trégua em si esteve marcada pela demora na chegada da ajuda humanitária, pelas violações do cessar-fogo, que provocaram a morte de civis nesta sexta, e pela crescente fricção entre Washington e Moscou.
Nesta sexta, em conversa por telefone com o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, o secretário de Estado americano, John Kerry, condenou "os atrasos repetidos e inaceitáveis da ajuda humanitária" destinada à população afetada pela guerra - disse seu porta-voz, John Kirby.
Dezenas de caminhões cheios de ajuda humanitária para os habitantes da cidade sitiada de Aleppo (norte) continuavam bloqueados na fronteira turca.
"O desafio que continuamos enfrentando - e se trata de uma triste realidade - é assegurar que todas as partes do conflito e aqueles que têm influência nelas se ponham de acordo", declarou à AFP o porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA, na sigla em inglês), David Swanson.
"Para nosso pessoal humanitário, (a espera) é terrivelmente frustrante", lamentou.
Para chegar à população da zona rebelde de Aleppo, o pacto prevê a desmilitarização da estrada de Castelo, ao norte da cidade.
O OSDH afirmou que as tropas do governo continuam estacionadas lá, embora a Rússia tenha garantido que tinham começado a se retirar.
Troca de acusações
A Rússia acusa Washington de não ter cumprido seus compromissos, ao não pressionar os rebeldes o suficiente para que se afastassem de grupos extremistas, como a Frente Fateh al-Sham.
Esse é um dos principais desafios para conseguir a aplicação do acordo, já que os rebeldes contam com o apoio da Fateh al-Sham para a batalha contra o governo de Al-Assad em Aleppo. Além disso, juntos controlam extensas faixas de território nas províncias de Aleppo e Idleb.
As zonas sob controle do EI e da Frente Fateh al-Sham estão excluídas do acordo de trégua e continuam sendo alvo de bombardeios aéreos por parte da Rússia, do governo e dos Estados Unidos.
Segundo o acordo, um cessar das hostilidades durante sete dias consecutivos deveria abrir caminho para a instalação de um centro de coordenação militar entre ambos os países para atacarem juntos os extremistas.
Renovada uma primeira vez na quarta-feira (14), a suspensão das hostilidades por um período de 48 horas seria ampliada hoje à tarde por russos e americanos.
"Estamos dispostos a prolongar a trégua por mais 72 horas", declarou o general russo Viktor Poznikhir durante uma sessão transmitida pela televisão russa.
O Pentágono descartou, porém, uma colaboração militar entre ambas as potências, enquanto não se desbloquear a ajuda humanitária.
"O secretário (John Kerry) deixou claro que os Estados Unidos não vão estabelecer um centro de coordenação conjunta até que se cumpram os acordos para o acesso de ajuda humanitária", disse Kirby.
Mortes de civis
Depois de violações menores registradas desde segunda-feira, hoje houve intensos combates entre tropas do governo e rebeldes na periferia leste de Damasco.
Pouco antes, um comunicado oficial do Ministério da Defesa da Rússia havia advertido que "apenas uma das partes" - em referência ao governo de Bashar al-Assad - respeitava o cessar-fogo.
O Exército bloqueou uma tentativa dos rebeldes de entrar na capital pelo bairro de Jobar. Uma fonte militar mencionou "enfrentamentos intensos e disparos de foguetes". Jobar está nas mãos de facções rebeldes aliadas do grupo Frente Fateh al-Sham (ex-Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda), presente nesse bairro.
Na província de Idleb, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) registrou as primeiras vítimas civis em bombardeios aéreos contra uma localidade rebelde desde o início da trégua na segunda-feira. Foram três mortos, entre elas duas crianças, em Khan Sheijun.
O Pentágono informou, por sua vez, que um bombardeio aéreo da coalizão liderada pelos Estados Unidos liquidou, em 7 de setembro passado, o "ministro da Información" do EI, Wa'il Adil Hassan Salman al-Fayad.
O porta-voz do Pentágono, Peter Cook, disse que esse indivíduo de alto perfil do EI havia, entre outras tarefas, supervisionado a produção de vídeos que mostravam torturas e execuções.
Além disso, era um "colaborador próximo" do número dois do grupo, Abu Mohammed al-Adnani. Este último também teria sido abatido em 30 de agosto em outro lugar.