ATAQUE

Síria é bombardeada; negociações diplomáticas estancadas em NY

Os chefes da diplomacia americana e russo, John Kerry e Serguei Lavrov, artífices da trégua, intervêm na reunião

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Publicado em 21/09/2016 às 15:35
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Os chefes da diplomacia americana e russo, John Kerry e Serguei Lavrov, artífices da trégua, intervêm na reunião - FOTO: Foto: AMEER ALHALBI / AFP
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Violentos bombardeios voltaram a atingir nesta quarta-feira (21) Aleppo (norte da Síria), epicentro do conflito sírio, muito distante de Nova York, onde as negociações para retomar a trégua atravessavam dificuldades pelas divergências entre russos e americanos.

"Tudo pode pender para um lado ou para o outro", advertiu nesta quarta-feira o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ante o Conselho de Segurança, que debate a situação na Síria e o fracasso de mais um cessar-fogo, decretado em 9 de setembro.

Os chefes da diplomacia americana e russo, John Kerry e Serguei Lavrov, artífices da trégua, intervêm na reunião.

No entanto, a atitude de boa vontade que mostravam há uma semana parece ter evaporado com a retomada dos bombardeios e dos combates em vários fronts da guerra.

Em um dos ataques morreram dois motoristas de ambulância e dois enfermeiros, ao sul de Aleppo, informou a União de Organizações de Socorros e Cuidados Médicos, que opera em toda a Síria.

A mesma havia informado inicialmente que um de seus centros havia sido atacado, mas depois esclareceu que isso se deveu à "confusão inicial".

O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) disse que o bombardeio estava dirigido contra o "Exército da Conquista", um grupo rebelde que inclui a Frente Fateh al-Sham (ex-braço sírio da Al-Qaeda) e outros grupos islamitas.

Os funcionários médicos foram atingidos quando retiravam os feridos do ataque.

Não foi determinada a nacionalidade dos aviões que realizaram o bombardeio, mas as forças aéreas do regime e de seu aliado russo costumam atacar a província de Aleppo.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Síria é o país mais perigoso para as equipes de saúde, com 135 ataques contra centros médicos em 2015.

Chuva de morteiros

Na madrugada desta quarta-feira foram registrados dezenas de bombardeios contra Aleppo e os arredores desta cidade, dividida entre leais ao regime e rebeldes, informaram um correspondente da AFP e uma ONG.

Um jornalista da AFP na parte rebelde da segunda cidade da Síria constatou "ao menos 100" explosões da meia-noite às 05h00 da madrugada (23h00 de Brasília).

Um imóvel de seis andares foi completamente derrubado no bairro rebelde de Sukari, segundo o mesmo. "Só havia dois irmãos dentro do edifício", indicou à AFP Abu Ahmad, que vivia em um edifício vizinho, enquanto retirava os escombros da calçada.

"Visitei-os uma hora antes do bombardeio, tomamos juntos o chá e agora estão mortos", lamentou.

O OSDH informou sobre dezenas de bombardeios na metrópole e em seus arredores, sem fornecer um balanço de vítimas.

Moscou acusado

Em Nova York, à margem da Assembleia Geral da ONU, Rússia e Estados Unidos se enfrentaram pela responsabilidade do bombardeio aéreo dirigido na véspera contra um comboio humanitário das Nações Unidas em Aleppo.

A Casa Branca acusou o governo russo de ser o responsável pelo bombardeio, ressaltando que apenas Moscou ou o regime sírio poderiam estar por trás deste ataque.

Um responsável americano que pediu o anonimato declarou que, segundo sua "melhor estimativa (...), foram os russos que dirigiram este bombardeio" e que dois bombardeiros russos SU-24 sobrevoavam a zona naquele momento.

No entanto, a diplomacia russa condenou "com indignação e revolta" estas acusações "sem fundamento e precipitadas" e disse que no local havia um drone americano.

Cerca de vinte pessoas, incluindo um funcionário do Crescente Vermelho, morreram neste ataque, que provocou a suspensão do envio de ajuda da ONU, que havia apenas começado.

Enquanto isso, nesta quarta-feira o ministro francês das Relações Exteriores, Jean Marc Ayrault, pediu que o Conselho de Segurança adote sanções contra autores de ataque com armas químicas na Síria, em particular o governo de Damasco.

"Não se deve permitir que nenhum crime passe em silêncio, mesmo ao custo de uma trégua. Não há paz se existir impunidade, e o Conselho de Segurança deve agir, sob seu capítulo 7, para condenar estes ataques e punir seus autores", disse.

Além disso, a Rússia anunciou o envio de seu porta-aviões Kuznetsov à costa da Síria no Mediterrâneo para apoiar suas operações.

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