O diretor da empresa aeroespacial SpaceX, Elon Musk, revelou nesta terça-feira (27) seu ambicioso plano para enviar humanos em um grande foguete com cabines, a um custo mínimo de US$ 100 mil por pessoa.
Leia Também
Subindo no palco sob um grande globo de Marte no Congresso Internacional de Astronáutica, Musk mostrou sua visão de um foguete gigante que poderá levar homens e mulheres para o Planeta Vermelho "em nossa existência".
"Nós precisamos partir dessas missões exploratórias iniciais para realmente construir uma cidade", disse a uma multidão no centro de exposições com capacidade para milhares de pessoas, em Guadalajara.
Musk exibiu um vídeo futurista, representando seu conceito de um sistema de transporte interplanetário baseado na reutilização de foguetes, em um propulsor em Marte e 1.000 espaçonaves em órbita, carregando 100 pessoas cada.
A espaçonave teria restaurantes, cabines, jogos de gravidade zero e filmes.
"Tem que ser divertido, ou excitante. Não pode ser apertado, ou chato", afirmou.
O primeiro voo seria caro, mas o objetivo é "tornar isso acessível para quase qualquer pessoa que queira ir", diminuindo o preço da entrada a cada vez até atingir os US$ 100 mil, disse Musk.
Milhões de toneladas de carga também seriam necessárias para decolar a bordo do poderoso foguete, descrito por ele como uma "versão em escala do foguete Falcon 9", sistema atual da empresa que pode pousar verticalmente.
O empresário americano-canadense nascido na África do Sul disse que o plano exige uma "parceria público-privada enorme" para estabelecer uma civilização humana autossustentável em Marte.
A SpaceX disse que seu plano é enviar a cápsula de carga não tripulada Dragon para Marte em 2018, criando um caminho para uma missão humana que deixaria a Terra em 2024 e chegaria ao Planeta Vermelho no ano seguinte.
We'll start a cadence of sending Dragons to Mars in two years. Will be like a train leaving the station pic.twitter.com/Jpjwn3hWax
— SpaceX (@SpaceX) 27 de setembro de 2016
O foguete levaria uma nave espacial em órbita, que seria deixada lá, e pousaria de volta na Terra para pegar um tanque de combustível. Imediatamente, retornaria com a nova carga para a nave a fim de abastecer até sua viagem a Marte, descreveu Musk.
Uma vez em Marte, os seres humanos teriam de criar uma fábrica para produzir o propulsor, usando os recursos do planeta, como o metano, de modo a abastecer a nave espacial. Com isso, poderiam voltar para a Terra.
"Objetivos agressivos"
Mas para os especialistas, chegar a Marte - a uma distância média de 225 milhões de quilômetros da Terra - e viver lá exigiria uma verdadeira proeza de engenharia e um investimento enorme.
"É improvável que (Musk) seja capaz de levar humanos para Marte em 2025", considera John Logsdon, ex-diretor do Instituto de Política Espacial na Universidade George Washington.
Logson lembra que Musk já programou erroneamente lançamentos de foguetes SpaceX e assinala que a empresa teria que se associar com uma agência espacial governamental para financiar semelhante missão.
"Primeiro que tudo é caro. Estamos falando de muitos bilhões de dólares e a SpaceX não tem essa quantidade de dinheiro", assinala o especialista.
Mas o astronauta aposentado Leroy Chiao apontou que Musk "acumulou um grupo de peritos técnicos e operacionais, e que a SpaceX está gerando receitas a partir de lançamentos de foguetes".
"Elon Musk fixa objetivos agressivos e ainda que nem sempre consiga na data exata, normalmente é capaz de alcançá-los. Eu diria que é possível", disse Chiao à AFP.
A agência espacial americana, Nasa, que também pesquisa os efeitos no corpo humano de um voo espacial prolongado, anunciou seus próprios planos de enviar missões tripuladas para Marte na década de 2030.
O diretor da Agência Espacial Europeia, Jan Woerner, assinalou em Guadalajara que poderia construir uma aldeia de pesquisa na Lua como um primeiro "degrau" até a missão para Marte.
"Ir a Marte envolve utilizar recursos lá e isso pode ser experimentado na Lua", assinalou durante uma coletiva de imprensa na segunda-feira (26).
Competência espacial para o mercado
A SpaceX não é a única empresa que sonha em enviar pessoas para Marte.
A Blue Origin, fundada pelo diretor da Amazon, Jeff Bezos, revelou este mês seus planos de construir um foguete massivo chamado New Glenn para enviar humanos ao espaço. Mas o empresário assegurou que ir ao planeta vermelho poderia levar décadas.
"Queremos que milhões de pessoas vivam e trabalhem no espaço em algumas décadas, se assim desejarem", disse à AFP Rob Meyerson, presidente da Blue Origin.
Esta companhia, autora de um foguete que já realizou aterrissagens verticais, está concentrada em achar uma forma de levar as pessoas ao espaço continuamente e a um menor custo.
A Blue Origin compete com a empresa espacial Virgin Galactic, do milionário britânico Richard Branson, na corrida para fazer viagens turísticas ao espaço.
Mas ao perguntá-lo em Guadalajara se Marte estava dentro de seus objetivos, o diretor-executivo da Virgin Galactic, George Whitesides, disse: "Minha visão e a de Richard é que vamos estar muito focados no planeta Terra em um futuro próximo".
Enquanto a Virgin Galactic apresentou neste mês uma nova nave espacial com asas, a SpaceX e a Blue Origin lançaram foguetes que podem aterrissar verticalmente, uma conquista-chave que poderia reduzir os custos das viagens ao espaço, pois os foguetes seriam reutilizáveis.
A SpaceX desenhou o poderoso foguete Falcon Heavy, que poderia levar ao espaço a nave tripulada Dragon.
A empresa espera lançar no final deste ano o foguete de 70 metros de comprimento, que tem um impulso equivalente a 18 Boeing 747 juntos.
A SpaceX sofreu um revés em 1 de setembro quando seu foguete Falcon 9 explodiu durante um lançamento de teste na Flórida.
Mas a empresa, com sede na Califórnia, realizou antes do acidente 18 lançamentos do Falcon 9 que deram certo, e por quatro vezes conseguiu pousá-lo estando intacto.