Os Estados Unidos suspenderam nessa segunda-feira (3) as conversações com a Rússia sobre a reativação de um cessar-fogo na Síria e a criação de equipes conjuntas para enfrentar os extremistas, informou o departamento de Estado.
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O regime sírio realiza há onze dias, com a ajuda da Rússia, uma vasta ofensiva contra bairros controlados pelos rebeldes em Aleppo, com base de bombardeios em massa, o que tem indignado os países ocidentais.
"Esta não é uma decisão tomada sem pensar", afirmou John Kirby, porta-voz do departamento de Estado, acusando a Rússia e seu aliado sírio pela intensificação dos ataques em áreas civis.
Por sua parte, a Casa Branca defendeu a decisão de por fim às conversações de cessar-fogo, acusando Moscou de bombardear civis.
"A paciência de todo mundo com a Rússia se esgotou", declarou Josh Earnest, porta-voz da Casa Branca.
"Lamentamos a decisão de Washington", respondeu a chancelaria russa por meio de sua porta-voz, Maria Zakharova.
Apesar da suspensão das negociações, Estados Unidos e Rússia seguirão trocando informações para evitar qualquer incidente entre seus aviões no espaço aéreo sírio, destacou o departamento de Estado.
O delegado da ONU para a Síria expressou sua decepção pela suspensão do diálogo entre Estados Unidos e Rússia para tentar reavivar a trégua, mas prometeu continuar trabalhando para uma solução política para que o país, devastado pela guerra, possa sair do conflito.
"A ONU vai continuar impulsionando energicamente uma solução política do conflito na Síria, apesar do decepcionante rompimento das intensas e longas discussões entre os atores-chave em nível internacional", disse o escritório de Staffan de Mistura em um comunicado.
De Mistura esperava que o cessar-fogo ajudasse a tirar do impasse as conversações de paz, e lamentou profundamente "a suspensão do diálogo para uma trégua, em especial na cidade de Aleppo".
O gabinete do delegado da ONU reafirmou que o pessoal humanitário "vai seguir com seu árduo trabalho de assistir à entrega de ajuda aos civis vulneráveis na Síria".
"A ONU jamais vai abandonar o povo sírio neste conflito violento sem fim".
Caos em Aleppo
No setor rebelde de Aleppo, o maior hospital da região foi completamente destruído nesta segunda-feira por bombardeios.
Moscou, que destaca a "grande eficiência" de seus bombardeios, nega ter atacado hospitais ou escolas.
"As acusações de que a Rússia bombardeou instalações médicas, hospitais e escolas não têm qualquer fundamento", declarou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Guennadi Gatilov, considerando que a intervenção da força aérea russa ajudou a "evitar um caos absoluto" na Síria.
Segundo Adham Sahlul, da SAMS (Syrian American Medical Society), uma ONG médica, "o hospital M10, o maior do leste de Aleppo, foi destruído e ficou fora de serviço de forma permanente".
"Tememos que o prédio desabe sobre a parte subterrânea do hospital (...). Tememos pelo pessoal", declarou Sahlul.
De acordo com a SAMS, o bombardeio deixou três mortos entre o pessoal da manutenção do centro médico.
Desde o início da atual ofensiva, no dia 22 de setembro, as forças do regime sírio já reconquistaram diversas posições no centro e norte de Aleppo, em combates que já deixaram 220 mortos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Aleppo está dividida desde 2012 entre o setor oeste, controlado pelo regime, e os bairros em poder dos rebeldes, no leste, onde vivem cerca de 250 mil pessoas, incluindo 100 mil crianças.
Rússia rejeita proposta francesa
A Rússia informou que não apoia o projeto francês de cessar-fogo para Aleppo apresentado pela França ao Conselho de Segurança da ONU e que está sendo estudado pelos 15 países-membros.
"Não apoiamos, a princípio, este tipo de medida politizada destinada a utilizar o Conselho de Segurança para aumentar a pressão sobre a Síria e a Rússia", afirmou Guenadi Gatilov, vice-ministro russo de Relações Exteriores, citado por agências de notícias russas, que não esclareceram se Moscou vetaria o projeto.
O texto do projeto elaborado pela França, o qual a AFP obteve uma cópia nesta segunda-feira, circulou durante o fim de semana entre os membros do Conselho de Segurança e poderia ser votado esta semana, disseram os diplomatas.
Trata-se da última tentativa para que a Rússia e o governo de Damasco detenham a operação aérea sobre Aleppo, que já provocou a indignação internacional, especialmente pelos bombardeios a hospitais.
Morte de líder extremista
A Frente Fateh al Sham (antiga Frente Al-Nursa, braço sírio da Al-Qaeda) anunciou nesta segunda-feira em sua conta do Telegram que um de seus dirigentes, "Ahmed Salama ou Abu Faraj, o Egípcio (...) caiu como mártir durante um ataque aéreo da coalizão internacional no oeste da província de Idleb".
O porta-voz do Pentágono Peter Cook confirmou que o Egípcio, "um dos líderes mais importantes da Al-Qaeda na Síria e um terrorista herdeiro da Al-Qaeda, que tinha vínculos com Osama bin Laden", foi alvo de um ataque americano na região de Idleb.
"Sua morte, caso confirmada, interromperá e degradará a coordenação entre as principais figuras da Al-Qaeda e dos extremistas", declarou Cook.