Ao menos 82 pessoas morreram e 534 ficaram feridas neste sábado no Iêmen em bombardeios aéreos contra uma multidão que acompanhava um funeral na capital. Os ataques foram atribuídos pelos rebeldes huthis à coalizão árabe, que negou envolvimento.
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O balanço de vítimas foi fornecido por um funcionário de alto escalão do ministério da Saúde, controlado pelos rebeldes, Naser al Argaly, que indicou que o mesmo ainda pode aumentar.
Segundo o site dos rebeldes, sabanews.net, a coalizão liderada pela Arábia Saudita seria a responsável pelo ataque aéreo.
"Dezenas de cidadãos caíram como mártires ou foram feridos neste ataque da aviação (...) saudita-americana", afirmaram os rebeldes em seu site, em referência à coalizão árabe sob liderança saudita.
Os bombardeios foram registrados no momento em que Arábia Saudita, que lidera uma coalizão contra os rebeldes xiitas huthis desde março de 2015, está sendo vigiada de perto por ter sido supostamente responsável pela morte de civis com seus bombardeios.
Em um comunicado, a coalizão negou ter realizado operações militares contra o prédio bombardeado e que "outras causas" deviam ser consideradas.
Equipes de resgate retiravam corpos queimados e tentavam alcançar outros presos entre os escombros do local atingido, informou um fotógrafo da AFP no local.
Alguns feridos perderam as pernas e eram tratados ali mesmo por voluntários, acrescentou.
Os aviões da coalizão atacaram um edifício na capital, controlada pelos rebeldes, onde aparentemente um grupo de pessoas havia se reunido no meio da tarde para dar seus pêsames pela morte do pai do ministro do Interior rebelde, Jalal al Ruishen, acrescentou o sabanews.net.
A rede de televisão rebelde Almasirah afirmou que o prefeito de Sanaa, Abdel Qader Hilal, estava entre os mortos.
Pessoas de toda parte se dirigiram a Sanaa para acompanhar o funeral, disse Mulatif Al Mojani, testemunha dos bombardeios.
"Um avião lançou um míssil e minutos depois outro avião atacou" o edifício, disse à AFP.
Outra testemunha, que pediu o anonimato, descreveu o ataque como um "crime de guerra".
"Era o funeral de um homem em Sanaa e agora se tornou o funeral de dezenas de iemenitas", afirmou.
Uma fonte de segurança, citada pelo mesmo site, disse que um enorme incêndio foi declarado no edifício.
'Erros'
Os huthis se apoderaram de Sanaa há mais de dois anos e controlam também outras regiões do país. O governo iemenita, que precisou fugir do país, tenta recuperar o terreno perdido com o apoio da coalizão árabe liderada pela vizinha Arábia Saudita.
Mais de 6.700 pessoas, em sua maioria civis, morreram no Iêmen desde que a coalizão iniciou sua campanha em apoio ao presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, segundo as Nações Unidas.
As ambulâncias retiravam as vítimas e os hospitais fizeram um apelo para que a população doe sangue, segundo os moradores.
Organizações de defesa dos direitos humanos acusaram a coalizão de cometer erros depois que setores civis foram atingidos por seus bombardeios.
Um relatório da ONU publicado em agosto apontava que bombardeios da coalizão árabe podem ter provocado cerca da metade das mortes de civis no Iêmen.
O documento pedia a criação de um organismo independente que investigue as violações cometidas supostamente pelos dois grupos, depois que 4.000 civis perderam a vida.
A coalizão havia informado anteriormente à AFP que utiliza um laser muito preciso e armas guiadas por GPS e que comprova os alvos muitas vezes para evitar a morte de civis.