No Recife, a presidente da Justiça do Trabalho da Escócia, Shona Margaret Wilson Simon, diz ao JC que parte da economia do Reino Unido depende da mão-de-obra da União Europeia e explica como o Brexit complicou o debate pela independência da Escócia. A entrevista teve apoio do intérprete Edson Kropniczki.
JORNAL DO COMMERCIO - Existem estimativas de que 3 milhões de cidadãos europeus vivem no Reino Unido. E também uma quantidade grande de britânicos vivendo na União Europeia. Qual a solução para garantir o emprego dessas pessoas?
SHONA SIMON - Há uma questão que afeta o debate sobre o Brexit. É o medo de que trabalhadores da União Europeia pudessem vir a tomar os empregos de cidadão do Reino Unido. Mas, quando a gente olha para os fatos, o que vemos é que muitas das indústrias e das áreas que proporcionam empregos no Reino Unido na verdade dependem dessa mão-de-obra que vem da União Europeia. Por exemplo, no sistema de saúde do Reino Unido, muitos dos médicos e das enfermeiras originam-se de outros países da União Europeia. E uma das preocupações agora diz respeito ao que pode acontecer com essas indústrias e serviços caso essa mão-de-obra não tiverem mais permissão para permanecer ou decidirem que não querem mais permanecer no Reino Unido. Essa seria uma questão problemática que está na frente das nossas preocupações.
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JC - A Escócia votou contra a saída da União Europeia. E um plebiscito sobre a participação da Escócia no Reino Unido voltou ao debate. Como essa indefinição afeta os trabalhadores da Escócia?
SHONA - Nós já tivemos um plebiscito há dois anos atrás. Parte do debate na época era sobre se a Escócia tinha uma economia forte o suficiente para deixar o Reino Unido. Muitos empregadores em grande escala operam tanto no Reino Unido, quanto na Escócia. Um dos temores que eles expressaram é que essa desvinculação da Escócia iria perturbar suas operações de negócios. Muitos empregados trabalham para companhias da Escócia e do Reino Unido. E os empregadores expressaram sua preocupação no sentido de que se a Escócia se tornasse independente, os direitos dos trabalhadores se tornariam diferente na Escócia e no Reino Unido. Acho que se houvesse outro plebiscito, os empregadores continuariam preocupados com essas questões. Mas agora parte deles também estão preocupados com as implicações de deixar a União Europeia. Por um lado, parte das pessoas deseja permanecer junto com o Reino Unido. Mas a saída da União Europeia complicou o debate.
JC - A primeira-ministra Theresa May já avisou que vai dar início ao Brexit em março. Há tempo para preparar empregados e companhias para as mudanças que vão acontecer?
SHONA - O processo pode levar dois anos e pode ser estendido caso todos concordem. É um tempo mais do que suficiente para compreendermos as mudanças que podem se encontrar diante de nós. A primeira-ministra britânica já deixou claro que por um período de tempo todos os direitos que foram adquiridos durante a vigência da União Europeia vão permanecer sendo parte da legislação britânica. O que não sabemos ainda qual será o alcance das mudanças após isso.