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Escolinha de futebol em Pyongyang espera revelar 'novo Messi'

A Fifa retirou uma ajuda de 1,7 milhão de dólares para o desenvolvimento do futebol norte-coreano

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Publicado em 16/11/2016 às 11:39
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A Fifa retirou uma ajuda de 1,7 milhão de dólares para o desenvolvimento do futebol norte-coreano - FOTO: Foto: ED JONES / AFP
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Impassível diante das punições internacionais e a dura realidade no campo, a única escolinha de futebol da Coreia do Norte sonha alto: 'fabricar' jogadores melhores que Lionel Messi e criar equipes capazes de dominar o mundo.

Um objetivo muito pretensioso para um país cuja seleção masculina aparece apenas na 126ª posição do ranking Fifa, entre as fracas Armênia e Etiópia, anos-luz atrás de potências regionais como Coreia do Sul e Japão.

Mas o sucesso esportivo é uma arma de propaganda valiosa para o fechado regime norte-coreano e para a Pyongyang Internacional Football School, inaugurada em 2013, o limite é o céu, segundo um de seus técnicos, Ri Yu-Il.

"Estamos treinando nossos alunos para formar jogador muito talentosos que possam superar a classe de jogadores como Lionel Messi", garante Ri, referindo-se ao astro argentino do Barcelona, cinco vezes eleito o melhor jogador do mundo.

"A curto prazo, acredito que devemos dominar a Ásia e, no futuro, espero alcançar um domínio global", completou, durante visita às instalações.

O momento mais importante da história do futebol norte-coreano aconteceu em 1966 (com o pai de Ri, Ri Chnag-Myung, no gol), quando a seleção nacional derrotou a poderosa Itália (1-0) para alcançar às quartas de final da Copa do Mundo da Inglaterra.

Passaram-se 44 anos até que a Coreia do Norte voltasse a disputar uma Copa do Mundo, perdendo as três partidas que jogou na fase de grupo da Copa da África do Sul-2010, com direito a derrota para o Brasil por 2 a 1.

Neste cenário, revelar jogadores como Messi parece algo praticamente impossível, mas 200 estudantes de entre 9 e 15 anos (40% são meninas) aspiram a este sonho na academia de Pyongyang.

Muitos dos treinos são similares aos de outras categorias de base, mas algumas atividades são peculiares, como exercícios de coreografia ou de domínio de bola ao som de música.

Exclusão por doping

Quando os jogadores não estão se exercitando nos campos de grama artificial, recebem aulas escolares em salas decoradas com os retratos dos últimos líderes do país.

Apesar dos esforços da academia, o técnico da seleção, o norueguês Jorn Andersen, admite que por enquanto o futebol norte-coreano não tem condições de competir com as estrelas internacionais.

"Não, não acho que possam formar um Lionel Messi, mas sim bons jogadores para a Ásia", declarou Andersen em entrevista à AFP.

"Há muitos jogadores talentosos... mas sempre jogaram no país. Nunca saíram para jogar fora", completou o técnico, que acredita ser necessário que os jogadores norte-coreanos viagem para adquirir experiência no futebol europeu, "que é melhor e mais difícil".

"Quando sempre jogam aqui é mais difícil formar bons jogadores", insistiu Andersen, ex-atacante com ampla experiência na Bundesliga e que assinou em maio contrato de um ano com a federação norte-coreana.

O futebol da Coreia do Norte se viu envolvido em polêmicas, como quando foi excluído da última Copa do Mundo de futebol feminino (Canadá-2015), após cinco jogadoras serem pegas em exames antidoping.

Na época, o médico da equipe responsabilizou um "remédio chinês" à base de uma secreção de glândula de cervo, utilizado para tratar as jogadores que foram vítimas do impacto de um raio.

Na semana passada, o goleiro da seleção norte-coreana sub-16 Jang Paek-Ho ficou famoso no mundo inteiro após a divulgação de imagens em que sofria um gol de maneira cômica em reposição de jogo do goleiro adversário, do Uzbequistão.

A federação norte-coreana estimou que o jovem havia sofrido o gol propositalmente e o puniu com um ano de suspensão.

Outro dos principais problemas do futebol norte-coreano é a falta de jogos em alto nível: os clubes do país não disputam torneios da Confederação Asiática e com um campeonato nacional de apenas 11 equipes, as partidas não despertam interesse e são assistidas por apenas 200 a 300 espectadores.

"Sempre estão treinado, treinando, treinando... mas nunca disputam jogos", lamenta Andersen.

Sem plano B 

Outro grande obstáculo são as punições internacionais impostas ao regime por seu programa nuclear.

Em março, a Fifa retirou uma ajuda de 1,7 milhão de dólares para o desenvolvimento do futebol norte-coreano devido às sanções da Suíça contra o regime de Pyongyang.

Em maio, o parlamento italiano investigou a situação de um jovem norte-coreano que atuava na filial da Fiorentina, garantindo que Pyongyang poderia estar violando as sanções ao apropriar-se do salário do jogador.

O jogador deixou o clube em julho por "problemas burocráticos", justificou um porta-voz da equipe de Florença.

A Academia de Pyongyang contava com a ajuda da Fifa e Song Hye-Yong, um responsável federativo, admitiu que estão passando por problemas financeiros.

"As punições estão trazendo muitas dificuldades a nosso país", declarou Song.

A disputa para entrar na academia é grande e os aceitos são submetidos a duras regras. A cada ano, vários alunos são cortados e mandados para casa.

"É inevitável que os jogadores sem talento sejam expulsos", declarou o técnico Ri.

Os melhores alunos têm a possibilidade de chegar à seleção, a melhor maneira de adquirir experiência internacional, já que são muito poucos os jogadores norte-coreanos que foram autorizados a jogar em clubes estrangeiros.

Contudo, as perspectivas de futuro para os graduados são muito limitadas e muitos ficam tão centrados em chegar à seleção que sequer têm um plano B de vida.

"Queremos ter sucesso no futebol a qualquer preço, então nunca pensei nisso", garantiu um jovem de 15 anos, membro da equipe treinada por Ri.

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