Especialistas americanos e russos se reunirão em Genebra para abordar a retirada dos rebeldes da zona leste de Aleppo, informou nesta segunda-feira Moscou, que chamou de "provocação" um projeto de resolução da ONU para decretar uma trégua na segunda maior cidade da Síria.
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"Estávamos dispostos a uma reunião a partir de hoje em Genebra, mas os americanos pediram o adiamento das consultas (...) É muito provável que comecem amanhã à noite ou na quarta-feira", afirmou o chanceler russo, Serguei Lavrov.
"O objetivo será preparar todos os meios para obter a saída de todos os rebeldes do leste de Aleppo", declarou Lavrov.
Durante as consultas, russos e americanos devem "chegar a um acordo sobre o itinerário concreto e os prazos de retirada" dos rebeldes, informou o diplomata.
"Quando estes aspectos estiverem solucionados, entrará em vigor uma trégua em Aleppo".
Washington ainda não confirmou tais discussões, mas o secretário de Estado John Kerry havia anunciado na sexta-feira um "encontro no início da próxima semana em Genebra" sobre os meios para acabar com as hostilidades em Aleppo.
Uma saída dos rebeldes representaria uma vitória do regime do presidente sírio Bashar al-Assad, que lançou uma vasta ofensiva em 15 de novembro para reconquistar a zona leste de Aleppo, parte da cidade que caiu nas mãos dos insurgentes em 2012.
Neste sentido, os grupos rebeles sírios já descartaram uma retirada de Aleppo. "Os revolucionários não vão deixar a zona leste de Aleppo, vão combater a ocupação russa e iraniana até a última gota de sangue", afirmou à AFP Ab Abdel al-Rahmane al-Hamui, um dos líderes do grupo Jaich al-Islam.
A metrópole do norte da Síria, capital econômica do país, estava dividida desde 2012 entre os bairros da zona oeste, controlados pelo governo, e os bairros do leste, dominados pelos rebeldes.
Reunião na ONU
Se um acordo for concluído entre americanos e russos, seria o primeiro do tipo em cinco anos de conflito na Síria.
O número de combatentes anti-regime na zona leste de Aleppo era estimado antes da ofensiva em 8.000 segundo a ONU e 15.000 de acordo com o OSDH, incluindo 900 da Frente Fateh al-Cham, ex-braço da Al-Qaeda na Síria.
Mas, após resistirem por quatro anos, os grupos rebeldes não são páreos ao poder de fogo aéreo e terrestre das forças pró-regime, da aviação russa e dos combatentes estrangeiros, principalmente iranianos e libaneses do Hezbollah.
Desde o início em março de 2011, a guerra civil na Síria provocou a morte de mais de 300.000 pessoas.
O anúncio das discussões russo-americanas ocorre poucas horas antes de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em Nova York, que deve se concentrar na análise de um projeto de resolução sobre uma trégua em Aleppo.
Sobre este projeto, Lavrov afirmou ser "contraproducente" e uma "provocação".
Espanha - que preside o Conselho de Segurança em dezembro -, Egito e Nova Zelândia apresentaram um texto que pede uma trégua de pelo menos sete dias em Aleppo.
"O projeto de resolução é em grande parte uma provocação que atinge os esforços russo-americanos", afirmou Lavrov, cujo país tem direito a veto no Conselho de Segurança.
A situação humanitária em Aleppo é catastrófica. Ao menos 319 civis foram mortos, incluindo 44 crianças, enquanto mais de 50.000 dos 250.000 habitantes da zona leste de Aleppo fugiram desde o início da ofensiva do regime, segundo o OSDH. Na parte controlada pelo governo, 69 pessoas morreram, incluindo 28 crianças, por tiros rebeldes.