O embaixador russo em Ancara, Andrei Karlov, foi assassinado nessa segunda-feira (19) por um jovem policial turco diante das câmeras, em uma cena pavorosa que rodou o mundo e chamou a atenção para o fato de os fotógrafos que estavam no local optarem por registrar o crime ao invés de tentar fugir. As imagens mostram o autor dos disparos, Mevlüt Mert Altintas, de terno, gravata e uma pistola na mão junto ao corpo do embaixador, caído no chão com os braços abertos.
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Um dos fotógrafos que registrou o assassinato, Burhan Ozbilici, da Associated Press, relatou à agência a cena que presenciou. ''Eu estava, é claro, com medo da ameaça e sabia do perigo se o atirador se virasse para mim. Mas eu avancei um pouco e fotografei o homem enquanto ele intimidava seu desesperado público''.
''Eu pensei assim: Estou aqui. Mesmo que eu seja ferido ou morto, eu sou um jornalista. Eu tenho que fazer o meu trabalho. Eu poderia fugir sem tirar nenhuma foto...Mas eu não teria uma resposta adequada para quando as pessoas me perguntassem depois; 'Por que você não tirou nenhuma foto?'', explicou o profissional em um trecho do depoimento.
Ozbilici ainda disse que, durante a ação, chegou a pensar nos amigos e colegas mortos enquanto fotogravam em zonas de conflito.
Outro fotógrafo que registrou o assassinato, Yavuz Alatan, da AFP e do jornal Sozcu Daily, tinha seu trabalho exibido na exposição em que o embaixador foi morto.
Para o editor de fotografia do Jornal do Commercio, Arnaldo Carvalho, a ação do fotógrafo de registrar a cena ao contrário de fugir pode ser caracterizada como um "instinto" típico da profissão. Segundo ele, o atirador planejou meticulosamente toda a ação e tinha o objetivo de se exibir diante das câmeras após cometer o crime. "Foi tudo muito bem calculado, ele sabia que os fotógrafos das principais agências estariam ali. O atirador sabia do poder da mídia, sabia que a cena seria registrada e ia correr o mundo", explicou.
Atirador portou-se como guarda-costas do embaixador russo
Antes de atirar, o policial se colocou discretamente atrás do embaixador durante a inauguração de uma exposição de fotos, como se fosse um guarda-costas. Segundo várias testemunhas, ele atirou nas costas de Andrei Karlov.
Em meio ao pânico das pessoas na galeria de arte, o policial permaneceu tranquilo, completamente indiferente aos gritos, e revelou que agia para vingar o drama da cidade síria de Aleppo.
Após matar o embaixador, "disse algo sobre Aleppo e sobre uma vingança", declarou à AFP Hasim Kiliç, repórter do jornal Hürriyet, que estava no local.
Também gritou "Alá Akbar" (Alá é Grande) e conclamou em árabe os "que juraram lealdade à Jihad".
"Não esqueçam a Síria, não esqueçam Aleppo", gritou em turco em duas ocasiões, constatou a AFP no vídeo do crime.
"Todos os que participam desta tirania prestarão contas, um a um", diz o policial, membro das forças especiais em Ancara.
Imediatamente após os disparos, ocorridos às 19H05 (14H05 Brasília), policiais de uma delegacia próxima seguem para o local e trocam tiros com o assassino.
Em seguida, chegam homens da força de intervenção especial da polícia e o atacante é "neutralizado" pouco depois.
Fotos que circulam na Internet mostram Altintas no chão, com o tórax crivado de balas.
Segundo o ministro do Interior, Süleyman Soylu, o embaixador russo chegou ao hospital de Ancara às 19H53 (14H53), mas já não apresentava sinais de vida.
Durante a noite, a polícia realizou uma batida na casa de Altintas e deteve seus pais e sua irmã, no oeste da Turquia, para interrogá-los.
O prefeito de Ancara, Melih Gökçek, sugeriu no Twitter que o atirador pode estar ligado a Fethullah Gülen, o pregador islâmico residente nos Estados Unidos que a Turquia acusa de orquestrar a tentativa de golpe de 15 de julho.