Nem a temperatura de 14º C ou o vento frio de inverno intimidou um grupo de cerca de 50 pessoas do Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, na tarde da última quinta-feira. Em um ponto pouco movimentado do parque, a turma de amigos - de idades e profissões diversas - se reúne diariamente para capturar criaturas no jogo de realidade aumentada Pokémon Go.
O grupo de fãs do game agora é pequeno, quando comparado às centenas de pessoas que saíam para caçar pokémons em agosto de 2016, quando o jogo foi lançado no País.
Para muitos que circulavam no parque, o grupo causava certo estranhamento. Em meio às pessoas que estavam ao parque para se exercitar, o grupo parado, mirando a tela do celular, chegou a ser motivo de espanto.
"São aquelas pessoas que se vestem de desenho animado?", arrisca a empresária Edna Soarez, de 71 anos, que fazia caminhada até ser questionada pelo Estado sobre o grupo.
Ao ser informada que eram jogadores de Pokémon Go, Edna disse: "Ainda jogam isso?". O questionamento, no entanto, não é surpreendente: o jogo virou febre em todo mundo durante cerca de dois meses, mas o interesse das pessoas foi diminuindo com o passar do tempo.
Para os usuários, a dinâmica do game foi perdendo a graça, porque as pessoas conseguiam pegar a maioria dos monstrinhos e não havia novos desafios a superar. Por isso, só quem é fã mesmo da franquia japonesa se manteve fiel.
Proprietário de um estacionamento, Jeffrey William Lobão, de 27 anos, é fã de Pokémon desde a década de 1990, quando o jogo das criaturas japonesas para o portátil Game Boy só podia ser encontrado em versão japonesa no Brasil. Hoje, ele continua um aficionado do game de realidade aumentada e acredita que ele ainda é popular.
"Quando o jogo chegou ao Brasil, o Parque do Ibirapuera era uma loucura. Todo mundo correndo para todo lado", lembra. "Hoje, as pessoas estão mais tranquilas. Ficam sentadas e comem um salgado enquanto esperam algum pokémon raro."
Paz
Há um ano, quando aparecia um pokémon raro, era melhor sair da frente: pessoas corriam de todos os lados atrás da criatura virtual.
Agora, uma pessoa avisa o restante do grupo quando avista um novo pokémon ou uma batalha começa. As pessoas caminham sem correr para o local, em uma espécie de procissão. Com isso, o jogo ganhou um aspecto social importante, que não existia um ano atrás, quando imperava o silêncio e a concentração entre o jogadores.
"Tenho um grupo no WhatsApp com mais de cem pessoas interessadas e que conversa todo dia para saber de novidades do jogo", afirma André Medeiros, que é chef de cozinha e costuma ir para o parque antes do trabalho.
"Quando a gente vem para o Ibirapuera, passa o dia conversando. E não é apenas por causa do Pokémon Go. Nós criamos um grupo com pessoas que se veem pelo menos uma vez por semana. É divertido e faz o estresse passar antes de um dia de trabalho puxado que vem pela frente."
Com isso, o clima dentre os jogadores no Ibirapuera é o de uma equipe praticando um esporte coletivo, no qual todos se ajudam; antes, cada um estava preocupado em melhorar seu desempenho individual. Exemplo do novo espírito é a competição que começa neste fim de semana em todo mundo: jogadores vão se reunir para caçar o maior número de criaturas e, ao final, desbloquear um pokémon lendário - extremamente raro e forte no jogo -, que deverá ser derrotado em conjunto. Os organizadores dos grupos de fãs de Pokémon Go estimam que 3 mil pessoas participarão do evento no Ibirapuera.
O estudante Paulo Mário, de 15 anos, está ansioso pela data. Acompanhado da mãe, ele não escondia o entusiasmo enquanto caçava pokémons no parque junto com o grupo de fãs do jogo. "No sábado vou chegar cedo e ficar até as 21h", conta o rapaz, sob o olhar cansado da mãe, que o espera sentada numa cadeira portátil, enquanto come salada de frutas.
"A febre não passou. O jogo ainda movimenta as pessoas e faz a gente sair de casa até em dias frios", defende Mário. "O que eu estaria fazendo agora, nas férias, se eu não estivesse jogando Pokémon Go?"